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Manfredo Araújo de Oliveira: Dominação do mercado financeiro
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Professor de Filosofia da Universidade Federal do Ceará (UFC)

Manfredo Araújo de Oliveira: Dominação do mercado financeiro

A proposta do capital financeiro é cortar gastos com políticas públicas e investimentos. Aqui se revela que o mercado é o centro do problema, pois atua com gana especulativa para ser a fonte última das decisões da vida coletiva, ou seja, para ditar as regras do país
Manfredo Araújo de Oliveira, professor de Filosofia da UFC (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Manfredo Araújo de Oliveira, professor de Filosofia da UFC

No livro, "A Era do Capital Improdutivo", publicado em 2018, L. Dowbor elabora um quadro teórico com a pretensão de compreender a forma como o capitalismo se configura em nossos dias. A tese fundamental é que o centro da economia hoje é o "capital financeiro". Está em curso um processo de globalização financeira que torna difícil ao país adotar políticas macroeconômicas independentes e as reformas financeiras que são necessárias. Isso gerou uma espécie de elite que vive de juros e não da produção.

Quando se cobra nos crediários mais de 100% de juros anuais, a intermediação financeira está se apropriando da metade da capacidade produtiva da população. Isso porque, de algum lugar, têm que vir os recursos para a apropriação financeira e, no Brasil, eles vêm precisamente da taxa de juros sobre as famílias. As instituições de crédito sugaram a capacidade de compra da população e, dessa forma, esterilizaram a dinamização da economia pelo lado da demanda.

Numa palavra, os recursos são conseguidos por meio dos juros bancários: 40% dos adultos não conseguem pagar as prestações com juros de suas compras. Assim, o principal motor da economia, o consumo das famílias, fica paralisado. O bem-estar das famílias depende dos salários direto e indireto (creche, escola, saúde, transporte etc.). O salário indireto, na medida em que é público, gratuito, universal e de qualidade, gera equilíbrio social.

Assim, ao invés de diminuir gastos, uma política pública sensata é aumentar o salário indireto das famílias com a reforma tributária, que é igualmente instrumento indispensável para o avanço no combate às desigualdades. Na situação atual, o rentismo fatura muito, mas seus dividendos não são tributados.

A intermediação financeira drena, em volumes impressionantes, recursos que deveriam servir ao fomento produtivo e ao desenvolvimento do país. O mercado financeiro impõe suas exigências e qualquer decisão em direção contrária provoca pressões políticas fortes e um bombardeio da mídia para amedrontar a população.

Isso se mostra com clareza na disputa relacionada aos cortes de gastos do orçamento público, exigidos pelo sistema financeiro e pela mídia, com o objetivo de manter as benesses dos setores privilegiados, inclusive os benefícios indecentes, sem retorno para a sociedade, concedidos aos empresários, à custa das parcelas mais frágeis da sociedade com um mínimo de condições de vida decente. Os programas de redistribuição de renda, reparação de desequilíbrios regionais e políticas de inclusão de grupos marginalizados encontram fortes resistências.

A proposta do capital financeiro é cortar gastos com políticas públicas e investimentos. Aqui se revela que o mercado é o centro do problema, pois atua com gana especulativa para ser a fonte última das decisões da vida coletiva, ou seja, para ditar as regras do país. Numa palavra, os mercados financeiros conseguiram capturar o controle da economia e do Estado através do aumento de seu poder social conseguido pelo aumento de riqueza. Hoje são os gigantes financeiros que fazem a regulação da economia e dos governos. A generalização da inclusão social e a redução dos desequilíbrios internos esbarram, assim, em razões estruturais.

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