Marília Lovatel é escritora, cursou letras na Uece e é mestre em literatura pela UFC. É professora de pós-graduação em escrita literária e redatora publicitária. Tem livros publicados por diversas editoras, entre elas, Scipione, Moderna, EDR, Armazém da Cultura e Aliás. Vários dos seus 12 títulos são adotados em escolas de todo o país, tendo integrado 2 vezes o Catálogo de Bolonha, 2 vezes o PNLD Literário e sido finalista do Prêmio Jabuti 2017.
Na jornada para publicação do primeiro romance, tema de crônica, a escritora Marília Lovatel sitentiza o dilema: "...se tenho ou não um romance nas mãos. Enquanto não preciso decidir entre a lâmina e as prensas, brinco com esse brinquedo enorme"
Dez anos depois de visitar a cidade de Icó, no centro-sul do Ceará, e de escrever mais de 300 páginas que, felizmente, ninguém lerá – pelo menos aquela insipiente versão –, retomo a carpintaria de um romance. É uma retomada e ao mesmo tempo uma nova tecitura. A tentativa anterior acabou vítima de um hábito meu: fatiar em vários contos o texto longo, engavetado.
A autocrítica justifica a hesitação em liberar ao público o meu primeiro romance. Afinal de contas, “escrever é brincar com um brinquedo enorme”, afirma Rosa Montero no seu magnífico O perigo de estar lúcida. Segundo essa maravilhosa autora espanhola, é uma tentativa de recortar a realidade, de organizar em um pedaço os fatos loucos da vida, “romances são uma pequena ilha de significado no mar do caos”, ela diz. Trata-se de um jogo fascinante e complexo.
Ainda não venci a luta contra mim mesma para encaminhar à Editora os capítulos concluídos. Já disseram de um dos meus livros, A memória das coisas, que se trata de um romance disfarçado de coletânea de contos. Talvez. Tenho aguardado o dia em que assumirei uma produção no gênero. Eu me dediquei a uma história nos últimos seis anos e dela desisti. Não foi bem uma desistência, digamos que ela se transformou.
De cerca de 400 páginas, sobraram 50, conteúdo referente à pequena novela que pretendo publicar em breve – dela me agradei bastante. Não me arrependo das mudanças de ideia, dos cortes, das reduções, das tramas passadas sem dó no fio do fatiador. Em Literatura, nada se perde.
Decorrida uma década, um dos contos resultantes do texto inicial elaborado a respeito de Icó me acendeu o desejo de voltar àquela atmosfera, em proposta revista, reestruturada, e de me dividir entre a realidade e a ficção – no plano duplo vivido pelos escritores, matéria sobre a qual nos fala Rosa. De todo modo, há muito trabalho pela frente até eu me deparar outra vez com o dilema: se tenho ou não um romance nas mãos. Enquanto não preciso decidir entre a lâmina e as prensas, brinco com esse brinquedo enorme.
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