Marília Lovatel é escritora, cursou letras na Uece e é mestre em literatura pela UFC. É professora de pós-graduação em escrita literária e redatora publicitária. Tem livros publicados por diversas editoras, entre elas, Scipione, Moderna, EDR, Armazém da Cultura e Aliás. Vários dos seus 12 títulos são adotados em escolas de todo o país, tendo integrado 2 vezes o Catálogo de Bolonha, 2 vezes o PNLD Literário e sido finalista do Prêmio Jabuti 2017.
Tamarineiras ou tamarindeiras? Oficialmente, tamarindeiras. Popularmente, tamarineiras. Fico com a sabedoria do povo. Tamarineira é uma palavra macia, palatável. Sombreada – opinou mamãe
Foto: Richard Lopes
Tamarindeira (ou tamarineira?) caída no município de Icó
Cruzar a ponte Piquet Carneiro é atravessar um portal para uma visita ao passado do Ceará. À direita, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição do Monte nos observa do alto da sua imponente escadaria. Icó guarda um patrimônio histórico impressionante.
Na simplicidade do barroco sertanejo – por aqui simplicidade e barroco cabem na mesma frase –, presente nas edificações sacras mais antigas, nos azulejos das fachadas, no estilo neoclássico do primeiro teatro cearense, o da Ribeira dos Icós, anterior ao José de Alencar, as imagens do município são quase idênticas às do tempo emoldurado nas paredes.
Flanar pelas calçadas é ter a sensação de um passeio dentro de fotografias. As portas estão abertas. Junto de uma delas, a querida escritora Nice Arruda, natural da cidade, me diz que concorda com o que eu escrevi certa vez sobre Icó ser a nossa Ouro Preto.
Acredito nela, embora, honestamente, não me lembre dessa ocasião. Posso sim ter feito tal paralelo, pois ele faz total sentido. E creio que outros mais se expressaram assim em relação ao conjunto arquitetônico, tombado pelo IPHAN.
Não há ladeiras, mas a história está em tudo, a cada esquina. O céu é completamente livre de edifícios. O chão de muitas ruas não conhece asfalto. A missa do sábado à noite é um concorrido acontecimento, e a praça, lugar de encontro.
O Senhor do Bonfim, escultura portuguesa de 1750, reluz no seu retábulo. Sobrados altaneiros se avizinham ao Largo do Théberge. E nas tamarineiras centenárias – uma se partiu e dela resta o pedaço da árvore agarrada à terra em teimosia –, paro e leio a placa sobre uma querela romanesca.
A inscrição também me esclarece uma dúvida: tamarineiras ou tamarindeiras? Oficialmente, tamarindeiras. Popularmente, tamarineiras. Fico com a sabedoria do povo. Tamarineira é uma palavra macia, palatável. Sombreada – opinou mamãe. Não ouso discordar. Adoto a forma doce. Até porque todo o azedume do universo o seu fruto tamarindo já concentra.
Icó é minha por escolha. Suas cores, sua gente, suas narrativas, sua intensidade, suas raízes fincadas no ontem que não termina nunca, como o prazer de ler ou de escrever um livro bom.
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