Marília Lovatel cursou Letras na Universidade Estadual do Ceará e é mestre em Literatura pela Universidade Federal do Ceará. É escritora, redatora publicitária e professora. É cronista em O Povo Mais (OP+), mantendo uma coluna publicada aos domingos. Membro da Academia Fortalezense de Letras, integrou duas vezes o Catálogo de Bolonha e o PNLD Literário. Foi finalista do Prêmio Jabuti 2017 e do Prêmio da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil – AEILIJ 2024. Venceu a 20ª Edição do Prêmio Nacional Barco a Vapor de Literatura Infantil e Juvenil - 2024.
Foto: TATIANA FORTES
GUARAMIRANGA, CE, BRASIL, 19-06-2017: Chiquinho de Souza,61, feitor do sítio Águas Finas faz colheita de café. Especial Rotas do Semiárido - Rotas do Café, Sítio Águas Finas em Guaramiranga, produção de café arábica. (Foto: Tatiana Fortes/O POVO)
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Na volta de Guaramiranga, eu trouxe o meu coração embalado a vácuo em pacotes de café. Um tradicional, um especial e um gourmet. Vi as três opções na prateleira da lojinha e não quis correr o risco de uma má escolha, de deixar para trás a melhor.
Um bom café vale o investimento. O prazer do ritual começa durante o transporte, com o aroma vencendo a embalagem metalizada para perfumar o carro. E o olfato agradece de novo, enquanto as papilas gustativas mal contêm a ansiedade no momento em que a água quente é despejada no frescor do montinho de pó dentro do filtro de papel, de pano, ou do tipo permanente, achado nas cafeteiras.
Impossível resistir! Trata-se de uma bebida que, apesar de não ser uma exclusividade brasileira, fala diretamente às nossas raízes, tradições e emoção. É indissociável do nosso cotidiano e das memórias afetivas.
Uma xícara de café, passado na hora, me transporta para a serra da minha infância, para a torra no fogareiro de tijolos do pátio atrás da cozinha, para o som dos grãos sendo mexidos no processo artesanal, para o raspado no fundo do panelão de ferro gasto, à força do braço de meu pai, para o ruído triturante do moedor, para a lata em que se guardava o precioso resultado, puro ouro preto, e de volta à xícara em minhas mãos.
Receber bem pede um café. Acordar também. Escrever, nem se fala.
A criatividade se apresenta e se intensifica. Excessos à parte, as gastrites devem ser evitadas tanto quanto as ofensas ao paladar e à digestão pelo consumo de um café ruim ou de qualidade duvidosa, requentado, fervido depois de pronto, oxidado e convertido em fel.
Tais sacrilégios maculam o que um dia foi o fruto vermelho dos pés de café arábica, adaptados ao crescimento à sombra das ingazeiras altas, com suas vagens de polpas alvas, brandas, doces, cultivo harmônico, parceiro das árvores poupadas.
Aprendizado com as experiências anteriores – elas foram infelizes, corresponsáveis pelo desequilíbrio, pela mudança do clima, a subida da temperatura na região.
Uma verdade, porém, segue inalterada: no frio ou no calor, na montanha, na praia ou no sertão, beber um café é tomar goles de conforto.
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