Marília Lovatel é escritora, cursou letras na Uece e é mestre em literatura pela UFC. É professora de pós-graduação em escrita literária e redatora publicitária. Tem livros publicados por diversas editoras, entre elas, Scipione, Moderna, EDR, Armazém da Cultura e Aliás. Vários dos seus 12 títulos são adotados em escolas de todo o país, tendo integrado 2 vezes o Catálogo de Bolonha, 2 vezes o PNLD Literário e sido finalista do Prêmio Jabuti 2017.
Estar grávida de uma história é se preparar para o momento de "parir um terremoto, uma bomba, uma cor, uma locomotiva a vapor" porque o que nos mobiliza a escrever muda o estado das coisas, altera o mundo ao nosso redor, dentro e fora de nós
Foto: AURÉLIO ALVES
FORTALEZA-CE, BRASIL, 31-12-2023: Arnaldo Antunes. Titãs. Reveillon na Praia de Iracema 2023, Reveillon com 3 dias de festa. (Foto: Aurélio Alves/O Povo)
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Se eu tivesse que escolher canções para representar o que sinto quando escrevo, “Grávida”, composição dos parceiros Arnaldo Antunes e Marina Lima, ocuparia o topo da lista. Já nos primeiros versos, ela me desconcerta: “Eu tô grávida, grávida de um beija-flor, grávida de terra, de um liquidificador”, e eu me reconheço imediatamente nos versos, ouço a perfeita tradução de algo difícil de explicar, exceto pelo uso irrestrito da liberdade poética, louca, fascinante de Arnaldo e Marina.
Estar grávida de uma história é se preparar para o momento de “parir um terremoto, uma bomba, uma cor, uma locomotiva a vapor” porque o que nos mobiliza a escrever muda o estado das coisas, altera o mundo ao nosso redor, dentro e fora de nós. Enquanto ouço a voz inconfundível cantar que está “grávida, esperando um avião, cada vez mais grávida, grávida de chão”, sinto as vidas se desenvolverem, os acontecimentos, os tempos e os lugares que me preenchem, e vão se constituindo em um corpo completo, com um coração que pulsa, vibra como nota musical, com uma alma cheia de brilhos feito árvore de Natal.
Quem escreve aguarda o parto de uma montanha ou de uma bolha de sabão. Estou precisamente grávida de uma cidade e de seus habitantes. Eles se encontram e se desencontram em mim. Apresento os sintomas das grávidas, que veem grávidas em toda parte e têm certeza de que o universo engravidou junto com elas. Já não acho posição para dormir, acordo durante a madrugada e preciso escolher entre perder o sono ou uma ideia, preciso ter paciência para que o romance não nasça prematuro. Paciência para gestar um furacão até a noite contrair, até o Sol dilatar e eu dar à luz.
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