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Marília Lovatel cursou Letras na Universidade Estadual do Ceará e é mestre em Literatura pela Universidade Federal do Ceará. É escritora, redatora publicitária e professora. É cronista em O Povo Mais (OP+), mantendo uma coluna publicada aos domingos. Membro da Academia Fortalezense de Letras, integrou duas vezes o Catálogo de Bolonha e o PNLD Literário. Foi finalista do Prêmio Jabuti 2017 e do Prêmio da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil – AEILIJ 2024. Venceu a 20ª Edição do Prêmio Nacional Barco a Vapor de Literatura Infantil e Juvenil - 2024.

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O lugar me autoriza o excesso de adjetivos. Por isso, neste texto, não economizo as descrições superlativas
Tipo Crônica
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Por do sol (Foto: @natashabarrocas)
Foto: @natashabarrocas Por do sol

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Quando uma querida amiga disse que estava no paraíso e nem sabia se voltava de lá, ouvi a sua voz feliz no fundo da imagem de um mar esplêndido. Ainda que o vídeo breve já tivesse sido suficiente para comprovar a razão, aceitamos o convite para conferir ao vivo os encantos de Peroba, praia no município de Icapuí. Pouco conhecida, a curta faixa de areia fininha contrasta com o oceano imenso, indômito, sublime, na perfeita tradução desse termo, porque fascinante e intimidador ao mesmo tempo — assim são os abismos.

Por do sol em Peroba, município de Icapuí(Foto: @natashabarrocas)
Foto: @natashabarrocas Por do sol em Peroba, município de Icapuí

O lugar me autoriza o excesso de adjetivos. Por isso, neste texto, não economizo as descrições superlativas. Paradoxalmente, a grandiosidade atraiu gente simples, como Ocelia e Alciano, que pescam o almoço, construíram a casa deles no alto, de onde avistam o mais deslumbrante pôr do sol e também a invasão marinha ameaçando os seus vizinhos com imóveis ao rés do chão.

Ironia concluir que um mesmo mar reflete a beleza cor de tangerina, lilás e púrpura dos raios na despedida do dia, embala o sono tranquilo na rede, oferece o peixe, acolhe e expulsa. Repete o movimento das ondas. E elas, por sua vez, devolvem a hostilidade de boa parte dos seres (des)humanos, respondem em nome do planeta aquecido, sobem o nível das águas litorâneas.

O gentil casal transformou a própria residência em pousada sem placa, sem anúncio, ocupada por amigos e amigos dos amigos. Hospedagem com direito à conversa agradável dos anfitriões e ao talento culinário dele, que limpa um serigado gigante com respeito quase solene, e dela, que prepara os camarões e a peixada com o melhor pirão do universo.

No repertório, música calma, nada que desmanche a harmonia, o clima de oração, de agradecimento pelo hoje, pelo agora — é tudo o que de fato temos. Todo o resto se desfaz na espuma, se perde de vista, se apaga no horizonte com a chegada da noite.

Foto do Marília Lovatel

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