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De braço dado com Gabo
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Marília Lovatel é escritora, cursou letras na Uece e é mestre em literatura pela UFC. É professora de pós-graduação em escrita literária e redatora publicitária. Tem livros publicados por diversas editoras, entre elas, Scipione, Moderna, EDR, Armazém da Cultura e Aliás. Vários dos seus 12 títulos são adotados em escolas de todo o país, tendo integrado 2 vezes o Catálogo de Bolonha, 2 vezes o PNLD Literário e sido finalista do Prêmio Jabuti 2017.

De braço dado com Gabo

A solidão, matéria-prima para moldar Macondo, os Buendía e demais personagens de "Cem Anos", é também indelével na história sobre o amor em tempos epidêmicos. Estou só no seu começo, mas já não estou sozinha. Quanto ao novíssimo romance do gênio colombiano, posso dizer que em agosto nos vemos.
Tipo Crônica
Gabriel García Márquez, escritor colombiano, prêmio Nobel de Literatura  (Foto: divulgação)
Foto: divulgação Gabriel García Márquez, escritor colombiano, prêmio Nobel de Literatura

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Ando às voltas, de braços dados, com Gabriel García Márquez — honra que a literatura nos proporciona. Escolha a sua companhia, escritor ou escritora, e bom passeio, sem dia ou hora para terminar. Depois de ler “Doze contos peregrinos” e “Cem anos de solidão”, inauguro as páginas de “O amor nos tempos do cólera” enquanto me acompanho de Gabo na travessia.

Essa leitura libertadora traz as cores de uma tela de bordas infinitas, em que a pintura vaza nas paredes e ocupa a paisagem da janela aberta. Foi o que senti na minha estreia em universo tão singular com os doze contos magistrais. Eles peregrinaram de mão em mão, desde que foram publicados pela primeira vez, em 1992, depois de 18 anos de escrita e reescritas, idas e vindas, avanços e recomeços na mente do autor.

Capa do livro póstumo de Gabriel Garcìa Márquez(Foto: DIVULGAÇÃO)
Foto: DIVULGAÇÃO Capa do livro póstumo de Gabriel Garcìa Márquez

Deles, uma narrativa intitulada “A luz é como a água” enfeitiça os leitores. Bastam as frases apresentadas a seguir para comprovar o meu deslumbre: “Pois haviam aberto tantas luzes ao mesmo tempo que a casa tinha transbordado [...] Em Madri de Espanha, uma cidade remota de verões ardentes e ventos gelados, sem mar nem rio, e cujos aborígines de terra firme nunca foram mestres na ciência de navegar na luz.”

Eis o comandante a nos conduzir por águas iluminadas, em navegação de cabotagem, de porto em porto, de obra em obra, na sua imaginação. Minha mãe, ao distinguir nas lombadas sobre a minha escrivaninha os cem anos solitários, sorriu, deixou escapar “uma loucura atrás da outra, e você acredita em tudo, não consegue largar”. Ainda me confessou “nunca esqueci os 72 penicos”, antes de soltar uma gargalhada espontânea, fruto da percepção de quem leu o livro na juventude e foi surpreendida pelo inusitado pensamento garciamarquiano.

Além dessas impressões, seria redundante destacar as incontáveis qualidades de um texto reconhecido com nada menos que o Prêmio Nobel. Por isso, aqui me restrinjo a elencar experiências pessoais, subjetivas, sem necessidade de explicações, como inexplicável foi, durante a escrita desta crônica, saber sobre o recente lançamento de “Em agosto nos vemos”, publicação póstuma, que comprei de imediato e pus no alto da pilha à minha cabeceira. Furou a fila e será a próxima viagem, logo que eu retorne da Cartagena colérica.

A solidão, matéria-prima para moldar Macondo, os Buendía e demais personagens de "Cem Anos", é também indelével na história sobre o amor em tempos epidêmicos. Estou só no seu começo, mas já não estou sozinha. Quanto ao novíssimo romance do gênio colombiano, posso dizer que em agosto nos vemos.

Foto do Marília Lovatel

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