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Uma pincelada de tinta acrílica no seu Monet
Foto de Marília Lovatel
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Marília Lovatel é escritora, cursou letras na Uece e é mestre em literatura pela UFC. É professora de pós-graduação em escrita literária e redatora publicitária. Tem livros publicados por diversas editoras, entre elas, Scipione, Moderna, EDR, Armazém da Cultura e Aliás. Vários dos seus 12 títulos são adotados em escolas de todo o país, tendo integrado 2 vezes o Catálogo de Bolonha, 2 vezes o PNLD Literário e sido finalista do Prêmio Jabuti 2017.

Uma pincelada de tinta acrílica no seu Monet

Precisamos de muita atenção para perceber se economizamos demais ou nos excedemos nas pinceladas
Os nenúfares (1904) (Foto: Domínio público / Claude Monet)
Foto: Domínio público / Claude Monet Os nenúfares (1904)

Se costumamos rodar pela cidade com fé cega na reserva de combustível, o medidor no vermelho, a luzinha da bomba de gasolina acesa no painel em denúncia da pequena quantidade restante, e insistimos acreditando que vai dar para chegar ao destino, até aquele momento crucial da inadiável escolha entre abastecer ou pedir ajuda para empurrar o carro, assumimos um risco. Poucos sabem, porém, que a concentração de impurezas no fundo do tanque pode acabar dentro do motor, gerando um dano.

Procrastinar a ida ao posto é prejudicial, mas o açodamento para obter um determinado resultado também não é aconselhável. Sei que demorei a inserir certas rotinas em meu cotidiano, como o uso diário do protetor solar. Descuidei da pele, tratando-a como um carro exposto à pane por falta da prevenção mais básica — fiz isso por décadas, admito. Mas, vencida a barreira dos 50 anos, não ouso sair de casa sem me permitir o skincare indispensável. Busco encontrar a medida ideal de um cuidado que não me aprisione e priorize a saúde.

Tento escapar aos excessos de todos os tipos, aos desleixos, também aos riscos que corremos em nome de uma perfeição inalcançável. Muito ao contrário, falamos aqui sobre imperfeições. Aquelas que nos individualizam as expressões do rosto, o sorriso, e aquelas que atestam as nossas trajetórias, desde que nascemos, cada um de nós como uma tela em branco e a missão de obter os pincéis, as cores, e aprender a pintar.

Precisamos de muita atenção para perceber se economizamos demais ou nos excedemos nas pinceladas. A única certeza é que o passar dos anos completa a obra. E a arte finalizada significa que envelhecemos, portanto vivemos. Quando o motor da vida enguiça por desgaste ou negligência, é difícil e dispendioso o conserto. Se o quadro resseca, racha em alguns pontos, não adianta disfarçar, fazer um retoque de tinta acrílica no seu Monet. O tempo de viver é sagrado e não aceita improvisos.

Foto do Marília Lovatel

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