Marília Lovatel é escritora, cursou letras na Uece e é mestre em literatura pela UFC. É professora de pós-graduação em escrita literária e redatora publicitária. Tem livros publicados por diversas editoras, entre elas, Scipione, Moderna, EDR, Armazém da Cultura e Aliás. Vários dos seus 12 títulos são adotados em escolas de todo o país, tendo integrado 2 vezes o Catálogo de Bolonha, 2 vezes o PNLD Literário e sido finalista do Prêmio Jabuti 2017.
"Me liga, mãe." Como assim "me liga", não está no avião, voltando de SP, após o show do Bruno Mars? Ouvi a explicação da perda do voo. "Não acredito, Marcela! O que houve?" Na resposta, entendi pouco sobre os motivos — já não importavam — e me concentrei em ajudá-la a resolver a situação
Era para ser uma segunda-feira tranquila. Acordei com “Evidências” insistindo na mente, no eco de um sonho que eu não sei se tive. Imagens, vozes e situações — não raro — se apagam no despertar. Outras vezes, deixam pistas, como um rastro de perfume denuncia quem esteve na sala, no hall, no elevador. Poderia se tratar de uma memória produzida no domingo à tarde, quando mamãe, sentada em sua cadeira de balanço, assistiu a um filme no streaming. “É com aquele menino que gosta de contar histórias e a Sandy-Júnior, a filha do Chitãozinho-e-Chororó”, ela sorria explicando os protagonistas do longa também intitulado “Evidências”.
Evidentemente, se eu comecei esta crônica com o verbo “ser” conjugado no pretérito imperfeito do modo indicativo, a segunda-feira não foi perfeita. Assim que abri os olhos e peguei o celular para conferir o horário, em um início de manhã de prevista paz de um feriado antecipado, a mensagem saltou da tela: “Me liga, mãe.” Como assim “me liga”, não está no avião, voltando de SP, após o show do Bruno Mars? Ouvi a explicação da perda do voo. “Não acredito, Marcela! O que houve?” Na resposta, entendi pouco sobre os motivos — já não importavam — e me concentrei em ajudá-la a resolver a situação, sem pagar uma fortuna, sem que ela faltasse ao trabalho e à faculdade e, principalmente, ficasse exposta aos perigos que se juntam em pesadelo na imaginação das mães.
Fora um fim de semana de caos na capital paulista por causa de uma tempestade com rajadas de ventos e falta de luz. E eu só rezava para ter minha filha em casa. O que só aconteceu no final da tarde seguinte. Depois de largar a mala no quarto, me contou sobre o show e me mostrou os registros da maior surpresa da noite: os acordes ao piano antecipando a entrada no palco da dupla de artistas brasileiros — e logo a plateia inteira estava cantando “Diz que é verdade, que tem saudade, que ainda você pensa muito em mim”. E tê-la, com a cabeça no meu colo, nós duas juntas curtindo os vídeos que ela fez, foi a maior evidência da minha felicidade.
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