Marília Lovatel cursou Letras na Universidade Estadual do Ceará e é mestre em Literatura pela Universidade Federal do Ceará. É escritora, redatora publicitária e professora. É cronista em O Povo Mais (OP+), mantendo uma coluna publicada aos domingos. Membro da Academia Fortalezense de Letras, integrou duas vezes o Catálogo de Bolonha e o PNLD Literário. Foi finalista do Prêmio Jabuti 2017 e do Prêmio da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil – AEILIJ 2024. Venceu a 20ª Edição do Prêmio Nacional Barco a Vapor de Literatura Infantil e Juvenil - 2024.
Fereshteh Najafi nasceu no Irã, em 1974, e se mudou para o Brasil em 2015. Bacharel em Design Gráfico e mestre em Ilustração pela Tehran University of Art, é artista reconhecida com diversos prêmios internacionais.
Altair nasceu em Salvaterra, na Ilha de Marajó, no Pará, em 1939. Criou cinco filhos.
Da infância de Fereshteh, nada sei. E tudo o que sei da Altair menina ela mesma me contou. Seus relatos me deram a base para um breve romance de coragem, premiado na 20ª Edição do Barco a Vapor. Trata-se de uma narrativa ficcional livre, sem caráter biográfico. Contudo, teria sido impossível tecer a trama sem partir da realidade escutada, sentida, intuída, a mim apresentada.
Fereshteh não conhece Salvaterra. Altair nunca foi ao Oriente Médio.
E ainda que as duas não tenham se visto de nenhum modo, o encontro delas se deu e foi algo emocionante de testemunhar, merece registro. No último final de semana, estávamos na Livraria da Vila, na Alameda Lorena, em São Paulo, gravando para o Programa “Entrelinhas”, da TV Cultura, quando Manuel da Costa Pinto nos mostrou o livro.
Era o meu primeiro contato com a versão impressa e perguntei a Altair o que achara da capa. “Linda demais”, me respondeu. Em seguida, perguntei se ela notara na ilustração o animal que a menina estava montando.
Desde então, venho repassando a cena na memória. Imagino a capa em processo de criação, os rascunhos, os estudos, a escolha das cores, dos tons, dos materiais para transferir à tela uma verdade. E me dou conta de ter vivido o paralelo na decisão das palavras, da linguagem para contar uma história.
Eu, que não estive em Salvaterra — pretendo ir na primeira oportunidade — e acompanho a distância notícias sobre o Irã, como a libertação temporária da ganhadora do Nobel da Paz, lamento que o mundo exija tanto das meninas, a elas ofereça tão pouco e sempre com luta pelo direito à existência, à identidade, ao destino que somente a elas cabe escrever.
É assim em tantos lugares que, sem tê-los visitado, os sabemos, nos enxergamos umas nas outras. Todas as meninas em uma. Também a menina em mim vai sendo escrita enquanto eu escrevo. A menina na capa de “A memória das coisas”, “A menina dos sonhos de renda”, a menina que fui e sou.
Os desafios nos igualam na resistência, na bravura resiliente que nos impede de desistir. Se necessário, meninas atravessam oceanos, domam búfalos para se achar por dentro. Fereshteh e Altair se encontraram em uma imagem, fruto de aguçada sensibilidade criativa, capaz de gerar efeito de reconhecimento, expresso com voz mansa e firme:
“Ela monta um búfalo. E essa menina sou eu!”
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