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Ode a Manoel de Barros
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Marília Lovatel cursou Letras na Universidade Estadual do Ceará e é mestre em Literatura pela Universidade Federal do Ceará. É escritora, redatora publicitária e professora. É cronista em O Povo Mais (OP+), mantendo uma coluna publicada aos domingos. Membro da Academia Fortalezense de Letras, integrou duas vezes o Catálogo de Bolonha e o PNLD Literário. Foi finalista do Prêmio Jabuti 2017 e do Prêmio da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil – AEILIJ 2024. Venceu a 20ª Edição do Prêmio Nacional Barco a Vapor de Literatura Infantil e Juvenil - 2024.

Ode a Manoel de Barros

Preciso, com urgência, fazer algo sem pressa. Ao tirar férias, desconsiderar os dias extras como oportunidade de adiantar tarefas
Tipo Crônica
A importância de ficar à toa (Foto: Divulgação/Pexels/E L)
Foto: Divulgação/Pexels/E L A importância de ficar à toa

Ando com saudade de umas coisas à toa, que sumiram da minha rotina e me fazem muita falta. São — como diria o poeta Manoel de Barros — desimportâncias, desutilidades e desobjetos bastante necessários à vida.

Banho de chuva não dá mais para tomar, a água perdeu a pureza de outrora e desce contaminada pela poluição atmosférica. Não consigo dormir até tarde na manhã de domingo. Independente do meu desejo, o relógio biológico, com sua lógica natural de otimização do tempo para quem passou dos 50 anos, me acorda antes das 7h.

Já não sorrio para uma mesa de docinhos desde que descobri os malefícios do açúcar para o organismo. Nem desço o vidro do carro para sentir o vento no rosto, porque o medo da violência e os sons da rua me impedem. E, por falar em som, também não danço mais, desconheço as coreografias, canso de esperar as músicas desaparecidas das mesas dos DJs.

Tenho estado cada dia menos tolerante com o barulho das festas. Aliás, ouvi de uma amiga a definição perfeita para o meu caso: entrei na fase em que só me interessa o repertório de um MC — o M silêncio. Este combina com uma leitura no balanço da rede que nunca mais armei na varanda.

Preciso, com urgência, fazer algo sem pressa. Ao tirar férias, desconsiderar os dias extras como oportunidade de adiantar tarefas. Deixar as horas passarem no “dolce far niente” sem culpa nenhuma da Rita Lee. Conjugar os verbos desmonetizar, desconcentrar, desligar. Quero aquilo que não se pode guardar para depois, não cabe nos armários nem vale para gerar rendimentos. É esse nada de que eu tanto careço.

Foto do Marília Lovatel

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