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As Eleições de 2024
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É mestre em Direito pela UFC e doutorado em Direito pela Johann Wolfgang Goethe-Universität Frankfurt am Main. Atualmente é professor da Universidade de Fortaleza e Procurador do Município de Fortaleza

As Eleições de 2024

a sociedade brasileira sinalizou que é, no mínimo, tolerante com quem ameaça destruir a mesma democracia. Como há o registro histórico de parlamentos que optam pelo antiparlamento, a democracia pode escolher a antidemocracia

Lideranças políticas, jornalistas e intelectuais desigenuamente apressados cuidaram de disseminar a ideia de que teria se dado a vitória do centro democrático nas eleições municipais de 2024. Estaria evidente, então, a recusa do povo brasileiro à polarização que tanto se alardeia. Nada mais enganoso.

O que se viu, após contados os votos de 6 de outubro, foi uma vitória da direta e da extrema direita. MDB, PL, PSD, Republicanos e União Brasil foram os grandes vencedores. PL, Republicanos e União Brasil se destacam pela presença de políticos e apoiadores das tentativas de desestabilização democrática desde 2022, quando não incentivadores de diversos episódios, especialmente do 8 de janeiro de 2023. Assim, não parece razoável concluir que a sociedade brasileira tenha escolhido o centro: sinalizou que é, no mínimo, tolerante com quem ameaça destruir a mesma democracia. Como há o registro histórico de parlamentos que optam pelo antiparlamento, a democracia pode escolher a antidemocracia.

Óbvio que a causa deste quadro deve ser mais bem investigada, mas isso exigirá tempo: fica para um kairós futuro. Por enquanto, observa-se que muito das análises aponta o dedo aos partidos, às instituições constitucionais a responsabilidade por este resultado. O que chama a atenção é a completa ausência do olhar para a sociedade brasileira, e de seu papel na construção desta realidade. Exatamente a sociedade que foi protagonista do resultado eleitoral, é absolvida de qualquer engano.

Desde a década dos anos 50 do século passado que alguns poucos intelectuais brasileiros lançam sua atenção também para a sociedade. Se viemos de uma forte tradição escravocrata, se gostamos de ser servidos, defendemos privilégios estamentais, e enlouquecemos ao fazer a razão serva da fé religiosa, como construir uma república? Não há partidos e instituições que possam dar conta desta tarefa com uma sociedade disposta a abdicar de sua condição racional da decisão política. Não há constituição democraticamente bem elaborada que sobreviva ao desapreço da própria sociedade, que repete, com orgulho, que todos os políticos são iguais, num desprezo elementar pelo próprio destino.

Não se desconhece que atores políticos e sociais respondem pelo atual quadro, a ponto de a sociedade apoiar muitos de seus algozes econômicos e políticos. Por outro lado, não se pode ignorar a vontade de regresso que sempre se registrou em distintos momentos. Se se exige muito do cidadão comum para a compreensão da complexidade dos assuntos que o cercam, a proliferação de informações posta à disposição de qualquer um requer apenas uma vontade de conhecer e ser mais consciente sobre o próprio destino. Não é exigir demais de parte considerável da população que esteja sempre atenta aos seus próprios interesses, e saiba identificar quem os defende de que os planeja extinguir. Embora em dimensão menor, o segundo turno das eleições de 2024 é uma nova chance para esta correção.

Foto do Martônio Mont'Alverne

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