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80 Anos!
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É mestre em Direito pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e doutorado em Direito pela Johann Wolfgang Goethe-Universität Frankfurt am Main. Atualmente é professor da Universidade de Fortaleza (Unifor) e Procurador do Município de Fortaleza

80 Anos!

Potências aliadas se recusaram a celebrar a vitória juntas com a Rússia, e tentam diminuir o papel central da União Soviética no mais importante evento do século XX. Todos lutaram e deram a vida de seus jovens a favor do pluralismo democrático
PUTIN fez comício na Praça Vermelha (Foto: NATÁLIA KOLESNIKOVA/AFP)
Foto: NATÁLIA KOLESNIKOVA/AFP PUTIN fez comício na Praça Vermelha

Em outubro de 2019, no Teatro Alte Oper de Frankfurt, foi apresentada a sinfonia nº 7 de Dmitri Shostakovitch, ou a "sinfonia de Leningrado". O destino providenciou uma orquestra alemã, sob a regência de um maestro finlandês, a executar obra clássica de compositor russo. Alemães e finlandeses foram aliados na 2ª Guerra, e respondem pelo terrível cerco de Leningrado, que custou a vida de mais de 800 mil pessoas, vitimadas pela fome: sem suprimentos e com bombardeios intensos, a cidade virou um cemitério de mortos insepultos. Numa das primeiras execuções da sinfonia, em agosto de 1942, ainda durante o cerco, os russos espalharam alto-falantes para que as tropas alemãs e finlandesas ouvissem a sinfonia como sinal de resistência.

O que o sentido universal da música conseguiu unir, a política liberal ocidental se encarregou de separar. Um evento em solo alemão com música russa mostrou ao mundo que se pode construir pontes. Mas podem ser destruídas pelo nacionalismo; uma das ideias centrais que desencadeou a mais sangrenta das guerras. Nacionalismo e exclusão do outro da dignidade humana conduziram ao extermínio de populações, as quais apenas defendiam seu direito de coexistir entre todos.

 Transcorridos 80 aos da derrota do fascismo e do nazismo, 3 potências aliadas se recusaram a celebrar a vitória juntas com a Rússia, e tentam diminuir o papel central da União Soviética no mais importante evento do século XX. Todos lutaram e deram a vida de seus jovens a favor do pluralismo democrático. O que hoje retorna ao cenário da política mundial não deve ser tolerado, em nome também destas vidas perdidas: o fim deste pluralismo e da convivência multicultural.

O universalismo da musicalidade abre portas, oferece ao mundo a diversidade do próprio mundo, e é capaz de derrubar muros. É desalentador que tal possibilidade seja perdida por lideranças políticas experimentadas na história. Pode ser um alerta para as gerações atuais, se tomarem consciência do que verdadeiramente deixarão para seus descendentes, e se estão na condição de melhorar o que receberam, ou se preferem o passado.

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