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Naquela mesa faltou Milton Nascimento, e isto está doendo em nós
Foto de Matilde Ribeiro
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Ex-Ministra da Igualdade racial, no período entre 2003 e 2008, e, atualmente, professora na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro brasileira (Unilab). Doutora em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC) e Doutora Honoris Causa pela Fundação Universidade Federal do ABC (UFABC)

Naquela mesa faltou Milton Nascimento, e isto está doendo em nós

Causa indignação que um dos artistas mais influentes da música mundial, não tenha sido considerado "importante o suficiente" para se sentar entre os outros principais indicados. O ocorrido no Grammy não é apenas uma gafe
Produção do Grammy negou lugar nas mesas para Milton Nascimento (Foto: Matt Winkelmeyer/Divulgação e Reprodução/Instagram @esperanzaspalding)
Foto: Matt Winkelmeyer/Divulgação e Reprodução/Instagram @esperanzaspalding Produção do Grammy negou lugar nas mesas para Milton Nascimento

Nem sempre a história é construída pelo efetivo reconhecimento do que é justo, vivenciamos isto quando em 2 de fevereiro de 2025, em Los Angeles/EUA, foi indicado para a 67ª edição do Grammy Awards, o brasileiríssimo Miton Nascimento como o Melhor Álbum Vocal de Jazz, em conjunto com a norte americana Esperanza Spalding (cantora, compositora e contrabaixista). No entanto, a ela foi destinado lugar na mesa, entre os principais artistas, enquanto para ele, foi destinada a arquibancada.

Causa indignação que um dos artistas mais influentes da música mundial, não tenha sido considerado "importante o suficiente" para se sentar entre os outros principais indicados. O ocorrido no Grammy não é apenas uma gafe, é sim uma situação absurda e inaceitável, reflexo de exclusão com o que é considerado "popular" e terceiro-mundista. Mas por outro lado, isto contribuiu para desmascarar o mercado cultural global, demonstrando pequinês diante do gigante que é Milton Nascimento.

Na cerimônia do Grammy, Milton Nascimento se ausentou, porém com elegância e altivez, ofertando uma nota explicativa. Esperanza Spalding compareceu com um cartaz com a foto de Milton e destaque da frase "This living legend shoud be seated here". Em bom português, "Esta lenda viva deveria estar sentada aqui".

A organização do Grammy por mais se desculpe, não conseguirá apagar a mácula deixada pelo desrespeito com o nosso ícone. O Ministério da Cultura do Brasil lançou nota de repúdio. Nós brasileiras/os amantes da música e cultura de qualidade, forjada nos clubes das esquinas, travessias e canteiros da vida, devemos repetir junto com Esperanza: "Esta lenda viva deveria estar sentada aqui".

Não podemos esquecer que Milton Nascimento com voz e interpretação únicas e incomparáveis, foi "barrado no baile" do Grammy, mas continua nos estimulando a ter fé na vida, ter força, ter garra e sempre estar onde o povo está!

É importante que valorizemos que a voz de Milton Nascimento ecoa pelo mundo, tanto quanto as vozes de - Stevie Wonder, de Diana Ross, de Tina Turner, de Whitney Houston. Embora o álbum Milton + Esperanza, não tenha conquistado o prêmio, a indignação que ficou no ar, não é em função do resultado da premiação.

Registremos que o nosso negro Milton Nascimento não depende em nada deste prêmio para ser glorioso. Já foi consagrado pelo Morro Velho, pelas Marias, pelas Minas Gerais e pelas energias dos que apreciam o belo e a vida. Já venceu um Grammy Awards em 1998, e recebeu inúmeros prêmios nacionais e internacionais que atravessam gerações e fronteiras.

Diante de tudo isto, é importante frisar que não nos calaram, desde as senzalas, dos açoites, das exclusões. E, não nos calarão agora, em pleno século XXI. Feliz do país que têm um Milton Nascimento, com sua memorável e inabalável obra, que é a nossa VOZ potente do Brasil para o mundo!

Foto do Matilde Ribeiro

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