Ex-Ministra da Igualdade racial, no período entre 2003 e 2008, e, atualmente, professora na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro brasileira (Unilab). Doutora em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC) e Doutora Honoris Causa pela Fundação Universidade Federal do ABC (UFABC)
Diz a lenda que o carnaval tem origem europeia. Mas o que importa, é que nossa maior festa é baseada na cultura africana e das diversas regiões, o que a efetiva como produto brasileiríssimo
Foto: fotos divulgação
Paulinho da Viola foi o responsável por unir a Velha Guarda da Portela para a gravação de seu primeiro disco
No início dos anos 2000 vivenciei como gestora pública federal participei de uma linda experiência junto ao Instituto do Patrimonio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), resultando no reconhecimento como patrimônio cultural das “Velhas Guardas das Escolas de Samba do Rio de Janeiro” e na entrega da certificação no solo sagrado da Estação Primeira de Mangueira.
As lembranças, são um tributo ao falecido Benedito Cintra (foi integrante da Escola de Samba Peruche e Deputado Estadual pelo PCdoB em São Paulo) e a musa Leci Brandão (sambista e atual Deputada Estadual pelo PCdoB em São Paulo), que me conduziram à vivência relatada, mas são também contestações ao conservadorismo, que banaliza o mundo do samba e do carnaval e criminaliza integrantes das instituições carnavalescas.
Diz a lenda que o carnaval tem origem europeia. Mas o que importa, é que nossa maior festa é baseada na cultura africana e das diversas regiões, o que a efetiva como produto brasileiríssimo.
Alguns marcos do carnaval são as marchinhas, tendo como ícone inicial Chiquinha Gonzaga, com a música “O Abre-alas”, seguidas do samba “Pelo Telefone” de Donga e Mauro de Almeida; do criativo trio elétrico de Dodô e Osmar; dos imprescindíveis frevo e maracatu de Olinda e do Nordeste; do afoxé com os abadás em Salvador; das representações culturais do “bumba meu boi” no Norte; no samba de roda e gafieira no Rio e em São Paulo entre outros.Predominantemente no Sul e Sudeste, emergiram os cordões, os blocos e fortemente as escolas de samba estruturadas pela energia comunitária, pelo glamour turístico e pelas competições. Já nas outras regiões – Centro Oeste, Norte e Nordeste, são bastante presentes os cordões, blocos e diversas expressões brincantes de rua. Fato é que estas e tantas outras expressões culturais emolduram a aquarela do carnaval, no Brasil e mundo afora.
Outro aspecto interessante do carnaval é o cruzamento entre a educação formal (as escolas de ensino públicas e privadas) e a informal (as escolas de samba, blocos, cordões entre outras expressões). Muitas são as experiências cotidianas que materializam este cruzamento. Em terras cearenses, destaca-se em 2025, a conexão da Escola de Samba Império Ideal com a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (UNILAB), com o enredo “Unilab: 15 Anos de Integração Cultural”, sendo gerado a partir do acúmulo de debates e da militância relacionada ao Movimento Negro e das questões étnico-raciais. O resultado é e será o fortalecimento das relações entre diversas culturas e pessoas foliãs, ativistas intelectuais, e acima de tudo a quebra da crença abismal de que ciência não tem a ver com cultura.
O bom de tudo é que a salada cultural é intensa e deliciosa. Por outro lado, infelizmente o “pacote” carnaval é permeado por bônus e ônus – a profusão cultural e a mistura com a violência urbana, racial e de gênero, a competitividade e a lucrativa tônica turística-comercial. Mas, nós brasileiros não somos de ferro, viver é mesmo perigoso, e está valendo a máxima: “Não me levem a mal, mas agora é carnaval”.
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