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Legados, planos e bênçãos
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Líder classista, empresário do setor de farmácias, é diretor da Confederação Nacional do Comércio (CNC) desde 2018

Legados, planos e bênçãos

Como empreendedor, talvez eu não tivesse desenvolvido a sagacidade necessária se não fossem as condições financeiras adversas, o desejo de mudar de vida e a criativa ideia de comprar, fiado, um saco de arroz de 60 kg, às sextas, e vendê-lo mais caro, no varejo, aos sábados, lucrando, pagando o fornecedor e reinvestindo o apurado
Tipo Opinião

Semana passada tive a honra de ser homenageado pelo O POVO, matéria magistralmente conduzida pela Jornalista Carol Kossling e seu time, que contaram histórias de minha trajetória como empresário, numa série intitulada de Projeto Legados.

Confesso que tenho sido vigilante em minha vida para não me deixar entorpecer pela vaidade. Mas também assumo que a gente vive para isso: para deixar um legado. E tê-lo reconhecido em vida é uma grande satisfação.

É que, como perseguimos a imortalidade, mesmo cientes da nossa finitude, é o nosso legado - não os de riqueza, mas os de feitos, os de boas ações - que nos preservará nesta Terra. Afinal de contas, os homens passam, e as suas obras ficam.

Após publicada a matéria, foi que pude refletir como a nossa vida é um emaranhado de atos que se desencadeiam, ora respeitando uma lógica, ora sem lógica nenhuma. Uns a gente programa, projeta, planeja. Outros, pertencem ao imponderável, e podem até alterar nossos planos. Senão, vejamos...

Como gente, eu poderia nem mesmo ter existido, caso meu pai, que estava prometido para casar com uma prima, não tivesse quebrado a tradição, subvertido a ordem, transgredido a regra, pulado literalmente a cerca e se apaixonado por minha mãe, num tórrido caso de amor, com direito a lua de mel no Piauí, onde nasci.

Como farmacêutico, talvez eu não tivesse despertado para a nobre arte se, já em São Benedito, eu não tivesse morado em frente à farmácia do seu Zé Inácio, homem gentil que, quando eu ralava o joelho jogando bola, acalentava a tortura do terrível Merthiolate com seus balsâmicos e anestésicos sopros suaves no local ferido, numa lição de cuidado que me influenciaria, mais tarde, na hora de escolher minha profissão.

Como empreendedor, talvez eu não tivesse desenvolvido a sagacidade necessária se não fossem as condições financeiras adversas, o desejo de mudar de vida e a criativa ideia de comprar, fiado, um saco de arroz de 60 kg, às sextas, e vendê-lo mais caro, no varejo, aos sábados, lucrando, pagando o fornecedor e reinvestindo o apurado.

Já adulto, já empresário, já farmacêutico eu talvez não tivesse a mesma felicidade — e, quiçá, a mesma prosperidade — se Laurinha, uma também farmacêutica, uma também sonhadora, uma também entusiasta da vida, não me tivesse cruzado o caminho, e se juntado a mim nesta jornada carnal, espiritual e, também, profissional.

Se, como diria o escritor norte-americano Allen Saunders, a vida é aquilo que acontece enquanto a gente faz outros planos, acho que construí um bom legado.

Tanto no que foi meticulosamente planejado, quanto no que foi abençoadamente concedido.

Gratidão!

 

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