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Viver é melhor que postar
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Líder classista, empresário do setor de farmácias, é diretor da Confederação Nacional do Comércio (CNC) desde 2018

Viver é melhor que postar

Os prejuízos do mau uso do celular vão muito além das implicações comportamentais. Há, também, as perdas afetivas: a desatenção, a distração, a disrupção geral das pessoas - e não só de crianças e adolescentes - com a vida real
Tipo Opinião
Maurício Filizola, empresário, diretor da Confederação Nacional do Comércio (CNC) (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Maurício Filizola, empresário, diretor da Confederação Nacional do Comércio (CNC)

A Universidade Estadual do Ceará (UECE) sugeriu, como tema da redação do vestibular deste ano, o uso de celular em instituições escolares. Os estudantes tinham de escolher uma das duas propostas de gêneros textuais expostas na prova e, a partir daí, se posicionar a respeito do tema, que divide opiniões entre alunos, pais e educadores: afinal, o celular é mais mocinho ou mais vilão na relação com o estudante? Há controvérsias!

A bem da verdade, a nossa interação com as telas vem preocupando não só a pedagogia, mas também a psicologia. Não à toa, um dos livros campeões de venda nos Estados Unidos, intitulado "A Geração Ansiosa", do psicólogo social Jonathan Haidt, traz o assunto à baila e revela uma situação alarmante: crianças e adolescentes do mundo todo estão em perigo.

"Quando seu filho é pequeno e você quer um pouco de sossego, acaba dando a ele um telefone ou um tablet para entretê-lo. Agora, vemos as consequências disso: uma geração que está muito mais ansiosa e deprimida, com inúmeros casos de automutilação e suicídios", afirma Haidt.

Na real, os prejuízos do mau uso do celular vão muito além das implicações comportamentais listadas acima. Há, também, as perdas afetivas: a desatenção, a distração, a disrupção geral das pessoas - e não só de crianças e adolescentes - com a vida real. Ninguém conversa mais, ninguém se olha mais, ninguém se nota mais. Fomos abduzidos pelas telas.

Mas, como parar os excessos de uma geração hiperconectada, que dorme, almoça e janta a dopamina gerada pelos likes das redes sociais, e cuja maior dependência, hoje, é a do celular? Jonathan Haidt sugere excluir os menores de 16 anos do uso do aparelho. Mas a tragédia do menino de 16 anos, que matou a família a tiros, após ter o celular tomado pelo pai, em São Paulo, comprova que a solução não é tão simples assim.

Cientistas já disseram que o vício em celular pode ser comparado ao do cigarro. Sim! Fumar, um dia, já foi chique. O marketing o comparava, inclusive, à sensação de liberdade. Hoje, é regulado pela legislação, taxado pelo Estado e desestimulado pela Organização Mundial de Saúde. Será que, na falta de bom senso, será preciso criminalizar o uso do celular pela sua inconveniência?

Talvez não. Talvez tudo não passe de um modismo. Tão ridículo como hoje usar pochete. Enfim: apenas um costume brega de uma geração cafona.

Que preferia o brilho da tela ao do olho, compartilhar banalidades em vez de abraços e - o pior - mais postar do que viver.

E viver, como diria Belchior, é melhor que sonhar.

 

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