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Eles vão invadir nossa praia?
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Líder classista, empresário do setor de farmácias, é diretor da Confederação Nacional do Comércio (CNC) desde 2018

Eles vão invadir nossa praia?

Não fosse o protesto de Luana Piovani, nas redes sociais, a PEC, que já havia sido aprovada na Câmara, em 2022, passaria também no Senado sem maiores alardes, como sempre eles fazem com as medidas impopulares
Tipo Opinião
Maurício Filizola, empresário, diretor da Confederação Nacional do Comércio (CNC) (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Maurício Filizola, empresário, diretor da Confederação Nacional do Comércio (CNC)

Enquanto Vinícius Júnior se consagrava na Champions League, Neymar metia mais um gol contra na sua popularidade. Afinal, a habilidade que o atleta brasileiro tem para driblar adversários é a mesma quando se trata de entrar em polêmicas.

Na mais recente, o jogador anunciou uma parceria com uma Incorporadora para o projeto "Caribe Brasileiro", que planeja construir imóveis de alto padrão à beira-mar, num condomínio que vai ocupar um trecho de 100 quilômetros da costa entre os litorais Sul de Pernambuco e Norte de Alagoas, equivalente a quase duas vezes a extensão do litoral piauiense, presenteado pelo Ceará.

Com o empreendimento, Neymar virou o garoto propaganda da PEC das Praias. O texto prevê a autorização para a venda dos terrenos de marinha a empresas e pessoas que já estejam ocupando a área. Assim, os lotes deixariam de ser compartilhados, entre o governo e quem os ocupa, e teriam apenas um dono.

A PEC não prevê diretamente a privatização das praias em si, mas pode, sim, abrir brechas para privatizar o acesso a elas. Ou seja, empresas poderiam cercar o terreno e impedir a passagem de banhistas na faixa de areia — como já acontece em alguns resorts.

A notícia causou comoção nacional. E se não fosse o protesto de Luana Piovani, nas redes sociais, a PEC, que já havia sido aprovada na Câmara, em 2022, passaria também no Senado sem maiores alardes, como sempre eles fazem com as medidas impopulares. Aproveitam nosso sono para roubarem nossos sonhos. O do emprego, o da casa própria e, agora, até o de ver o mar.

A gente não precisa ser tão radical como o filósofo Rousseau, que imputava ao homem que cercou o primeiro terreno no mundo a responsabilidade pelas mazelas (guerras, crimes, mortes) da humanidade. Mas nós também precisamos refletir se não estamos exagerando na voraz privatização do que é eminentemente coletivo: as florestas, os campos, os bosques, as nascentes, os rios e, agora, até o mar.

A ganância, a vileza, a ânsia pelo lucro, a exploração desordenada dos recursos naturais começa a nos cobrar um alto preço pelas agressões à natureza. E os que estudam o meio ambiente alertam que o pior ainda está por vir. Então, é melhor refletir e refluir. Enquanto é tempo.

Há quase 40 anos, a banda Ultraje a Rigor fez a profética canção "Nós Vamos Invadir Sua Praia", que trazia a seguinte estrofe:

Agora se você vai se incomodar

Então é melhor se mudar

Não adianta nem nos desprezar

Se a gente acostumar a gente vai ficar

A gente tá querendo variar

E a sua praia vem bem a calhar

Parece que é isso que o Neymar quer. Mas eu prefiro a Luana Piovani. E você?

 

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