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Automedicação no Quilo
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Líder classista, empresário do setor de farmácias, é diretor da Confederação Nacional do Comércio (CNC) desde 2018

Automedicação no Quilo

Os supermercados, que, para cortar custos, já dispensaram até os empacotadores dos caixas, transferindo essa tarefa para os clientes, bancariam a contratação de um profissional para instruir sobre a posologia de um analgésico, suas reações adversas?

A Associação Brasileira de Supermercados resolveu ser solidária ao povo brasileiro, só que no velho estilo da cortesia com chapéu alheio. No caso, o chapéu da hora é a saúde da população.

A Abras, que tem diversas maneiras de colaborar com o governo para baixar os preços dos produtos (por exemplo, dos gêneros alimentícios), preferiu, semana passada, trazer de volta a discussão da possibilidade de supermercados venderem medicamentos isentos de prescrição médica, prometendo, com isso, baratear os medicamentos expostos nas lojas de seus associados em até 35%.

Mas a filantropia pode ser um tiro no pé. E esse barato pode sair bem caro para a clientela desavisada. É que dados mostram que cerca de 90% dos brasileiros se automedicam, e essa estatística só tende a crescer sem a presença de um farmacêutico para orientar sobre o uso correto de medicamentos e seus efeitos. Ou – o pior - se o freguês comprar uma cartela de paracetamol como quem compra uma cartela de ovos. O uso indiscriminado de analgésico, por exemplo, pode agravar doenças renais e hepáticas, muito presentes em nossa sociedade.

Mas os perigos não param por aí! Nas farmácias, medicamentos são armazenados sob condições específicas, com controle de temperatura, de umidade e atendimento rígido ao prazo de validade. Já nos supermercados, onde esses critérios não são prioridade, quem zelaria pelo acondicionamento necessário dos remédios? E quem fiscalizaria o descarte correto dos medicamentos vencidos, cuja destinação deve ser mais criteriosa do que o do descarte de tomates maduros?

Ao entrar em uma farmácia, o consumidor tem acesso a um profissional de saúde qualificado – o farmacêutico -, sempre pronto e disponível para esclarecer dúvidas, alertar sobre interações medicamentosas, alimentares e evitar usos inadequados dos produtos. Pesquisa do setor revela que, em 68% das vezes, o cliente esclarece suas dúvidas com o profissional de farmacêutico acerca do uso do medicamento que está comprando.

Os supermercados, que, para cortar custos, já dispensaram até os empacotadores dos caixas, transferindo essa tarefa para os clientes, bancariam a contratação de um profissional para instruir sobre a posologia de um analgésico, suas reações adversas?

Todas essas perguntas que não querem calar, e que são de saúde pública, terminam encobrindo outra chaga social que a medida defendida pela Abras gerará: o desemprego, causado pelo consequente fechamento das pequenas drogarias, que não resistiriam à concorrência dos grandes conglomerados de supermercados.

Ah! E sobre essa estória de que os preços dos remédios baixariam se adotada a medida, foi feita uma comparação de preços de 100 itens cuja vendas são comuns tanto em farmácias quanto em supermercados, como é o caso das fraldas, e, na maioria das vezes, as drogarias vendem mais em conta.

Ou seja: É cilada, Bino!

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