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Farmácias, pessoas e propósitos: lições de um setor que transforma vidas
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Líder classista, empresário do setor de farmácias, é diretor da Confederação Nacional do Comércio (CNC) desde 2018

Farmácias, pessoas e propósitos: lições de um setor que transforma vidas

No fundo, farmácias já não são apenas estabelecimentos comerciais – simbolizam pontes entre a dor e o alívio, entre a dúvida e a orientação, entre a doença e a cura
Painel MSACimed2025, em São Paulo (Foto: ARQUIVO PESSOAL)
Foto: ARQUIVO PESSOAL Painel MSACimed2025, em São Paulo

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Em um auditório lotado, no coração de um evento dedicado ao setor farmacêutico, as cadeiras não estavam ocupadas apenas por executivos, empresários ou profissionais de saúde. Cada pessoa ali presente representava um elo essencial em uma corrente de transformação silenciosa, mas constante, que há décadas conecta inovação, atendimento humanizado e a nobre missão de cuidar da saúde das pessoas.

Eu estava lá, testemunhando não apenas discursos, mas vivências, histórias de superação e um profundo senso de responsabilidade com um setor que vai além do comércio de medicamentos: trata-se, acima de tudo, de gente cuidando de gente.

O evento MSACimed2025 - que ocorreu no São Paulo Expo, idealizado por João Adib, Presidente da Cimed, trouxe um olhar renovado para as farmácias, não como simples pontos de venda, mas como verdadeiros santuários da saúde e do acolhimento. João, apaixonado pelo varejo e defensor fervoroso das regulações que protegem a integridade do setor, lembrou a todos que medicamentos devem ser vendidos em farmácias e que o verdadeiro valor do negócio está em respeitar o espaço de quem entende do assunto: o farmacêutico.

• O poder das pessoas e a mobilidade social

O painel prosseguiu com a fala inspiradora de Jonas Marques, Cearense CEO da Pague Menos. Com uma trajetória que reflete a mobilidade social no varejo farmacêutico, ele trouxe à tona um ponto crucial: a meritocracia. Na Pague Menos, muitos diretores começaram como caixas ou balconistas. Isso, em um país desigual como o Brasil, é mais que um feito – é um símbolo de esperança.

Mas Jonas também trouxe um alerta: o maior inimigo do crescimento não são os concorrentes externos, mas a complacência interna. Com energia e compaixão, ele desafiou os presentes a refletirem sobre os próprios limites e a importância de ouvir o outro antes de criticar. Em um setor onde 74% da população não possui plano de saúde, cada interação com o cliente pode ser decisiva para a saúde e a dignidade de alguém.

• Excelência, dados e a obsessão pelo cliente

Marcelo de Zagottis, acionista da Raia Drogasil mostrou o peso da responsabilidade de gerenciar 3.500 lojas em mais de 600 municípios. O foco da RD, segundo ele, é simples, porém poderoso: a satisfação do cliente. Em um mundo dominado por dados, Marcelo ensinou que a verdadeira informação valiosa é aquela que ajuda a entender melhor as necessidades do consumidor. O cliente, afinal, pode nos “demitir” a qualquer momento, e é por isso que a excelência na execução e no atendimento precisa ser uma obsessão diária.

• O associativismo e o poder da união

Edison Tamascia, Presidente da Febrafar, trouxe um ponto de reflexão que ecoou entre todos os presentes: o papel do associativismo no fortalecimento das farmácias independentes. Em um mercado onde as grandes redes abocanham quase metade das vendas, Edison defendeu que o associativismo é uma resposta eficaz para equilibrar forças. No Brasil, o setor farmacêutico conseguiu algo raro: preservar a competitividade das farmácias independentes por meio da união e da gestão profissionalizada.

• O papel social da farmácia e a importância da representatividade

Sérgio Mena Barreto, CEO da Abrafarma, foi categórico ao afirmar que as farmácias no Brasil são subutilizadas como pontos de acesso à saúde. Em um país de dimensões continentais, com dificuldades de acesso a médicos e hospitais em diversas regiões, a farmácia muitas vezes é a porta de entrada para o cuidado básico. Ele defendeu a inclusão das farmácias no sistema de saúde, não apenas como locais de venda de medicamentos, mas como pontos estratégicos para vacinação, exames e acompanhamento de tratamentos.

• Inovação e pertencimento: o segredo do sucesso

De volta ao palco, João Adib compartilhou um aprendizado poderoso: o verdadeiro empreendedorismo começa dentro de casa, com os próprios funcionários. Criar um ambiente onde todos se sintam parte do sucesso da empresa não é apenas uma estratégia de gestão, mas um ato de respeito e valorização. O pertencimento não se compra, se constrói, e essa construção começa com pequenos gestos – como fazer com que cada colaborador participe do lançamento de novos produtos e se sinta parte fundamental dessa história.

• O cliente no centro, sempre

Marcos Colares, CEO da Drogaria São Paulo e Pacheco - DPSP, falou sobre o desafio de lidar com o excesso de informações e a importância de focar no que realmente importa: o cliente. Em tempos de abundância de dados, entender o comportamento do consumidor e oferecer uma experiência personalizada são as novas moedas de ouro do varejo.

• Humanização, o coração do atendimento

Marcelo Cançado, da Drogal, emocionou ao relembrar as raízes familiares da empresa. Em uma farmácia, muitas vezes, o balconista se torna um verdadeiro psicólogo, acolhendo clientes que chegam não apenas com receitas médicas, mas com histórias de dor, angústia e esperança. A cultura de acolhimento, segundo ele, não é um diferencial, mas uma necessidade em um setor que, acima de tudo, lida com a saúde e o bem-estar das pessoas.

• A grande lição: união, inovação e propósito

O painel terminou com um chamado à ação: o setor farmacêutico precisa estar mais unido do que nunca para enfrentar os desafios regulatórios e preservar seu espaço em um mercado cada vez mais competitivo. A inovação, a gestão eficiente e a valorização das pessoas – sejam elas colaboradores ou clientes – são os pilares para um futuro próspero e sustentável.

Mais do que um evento, o painel foi uma verdadeira aula sobre liderança, propósito e humanidade. Saí de lá não apenas com anotações, mas com a certeza de que, no final do dia, o que realmente importa não são os números no balanço, mas as vidas tocadas pelo atendimento atencioso, a empatia no olhar de um balconista, no cuidado do farmacêutico e a sensação de pertencimento que transforma empresas em verdadeiras comunidades.

Porque, no fundo, farmácias não são apenas estabelecimentos comerciais – são pontes entre a dor e o alívio, entre a dúvida e a orientação, entre a doença e a cura. E cada líder ali presente deixou claro: o futuro do varejo farmacêutico brasileiro está, mais do que nunca, nas mãos de quem entende que cuidar de pessoas é, acima de tudo, um ato de amor.

Foto do Maurício Filizola

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