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O Papa Era Pop
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Líder classista, empresário do setor de farmácias, é diretor da Confederação Nacional do Comércio (CNC) desde 2018

O Papa Era Pop

Como gestor, Francisco combateu a corrupção e tornou o banco do Vaticano mais transparente e rentável. Deu mais eficiência à Cúria Romana. Estabeleceu normas menos corporativistas para investigações de denúncias sexuais contra clérigos
Imagem do papa Francisco em missa celebrada no Brasil (Foto: Sergio Lima / AFP)
Foto: Sergio Lima / AFP Imagem do papa Francisco em missa celebrada no Brasil

Que me perdoe Renata Saldanha, a primeira cearense vencedora do Big Brother Brasil, mas, em respeito aos critérios de relevância e importância que pautam esta crônica quinzenal, não há como não priorizarmos a morte do Papa Francisco, homem que reabilitou nosso Padin Ciço do Juazeiro, e cuja morte comoveu até Donald Trump, um dos primeiros a confirmar presença no funeral do líder religioso.

Também foram muitas as lições deixadas por Francisco, um papa fora da caixa, um papa diferentão, um papa superstar, um papa pop. Francisco sabia - como poucos sabem - usar a comunicação, jovializar as ideias, liderar pelo exemplo, se adequar aos tempos modernos e ter insights próprios dos grandes empreendedores, uma vibe que está em falta na conservadora Igreja Católica.

Francisco, como nós, criou um perfil no Instagram para arrebanhar seguidores cibernéticos e ganhar likes. Francisco usava whatsapp e, como nós, recebia correntes de oração, no grupo da família, às 6h da manhã. Francisco, também como nós, posava para selfies, e chegou a dizer, meio precipitadamente, que a internet era coisa de Deus.

Mas a primeira grande sacada do papa argentino veio em 2013, quando, ao ser eleito no conclave, trocou o nome Jorge Mario Bergoglio por Francisco, estratégia que teria sido sugerida pelo então arcebispo de São Paulo, Dom Cláudio Hummes. "Ele me abraçou e disse: não se esqueça dos pobres. Aquilo entrou na minha cabeça. Imediatamente lembrei de São Francisco de Assis", relatou o papa.

Para ser coerente à persona escolhida, Francisco quebrou paradigmas. Após a cerimônia em que foi escolhido papa, dispensou uma Limosine e voltou para casa de ônibus. Aposentou os psicodélicos sapatos vermelhos da Prada e os trocou pelos de couro preto. Recusou o crucifixo de ouro que adornava os pescoços de seus antecessores e preferiu um de ferro, do tempo em que ainda era bispo, em Buenos Ayres.

Em visita ao Brasil, usou como Papamóvel um Fiat Idea meia-sola. E, para o descanso eterno, preferiu se enterrar em um cemitério fora dos muros do Vaticano e em um caixão de madeira. Ou seja: tinha menos vaidade que um cantor de forró desses que transformam Pink Floyd em xote.

Como gestor, Francisco combateu a corrupção e tornou o banco do Vaticano mais transparente e rentável. Deu mais eficiência à Cúria Romana. Estabeleceu normas menos corporativistas para investigações de denúncias sexuais contra clérigos. Defendeu a paz em tempos de ódio e intransigência de líderes políticos. Sofreu com as mortes de inocentes nos conflitos de Ucrânia e Rússia, e nos da Faixa de Gaza. Militou pelas causas ambientais. Exaltou as mulheres.

E, por fim, com sua morte, conseguiu aquilo que só os grandes homens, afinal, conseguem: reunir inimigos históricos em torno de si. E arrancar rasgados elogios deles e de todo mundo.

 

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