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Aquário Invisível
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Líder classista, empresário do setor de farmácias, é diretor da Confederação Nacional do Comércio (CNC) desde 2018

Aquário Invisível

Mais de 20 milhões de famílias vivem hoje do Bolsa Família. Um número maior que toda a população do Chile. São cerca de 14 bilhões de reais por mês em auxílios — o equivalente a milhares de escolas modernas ou hospitais funcionando a pleno vapor
FORTALEZA-CE BRASIL, 30.04.2025 - Beneficiários do programa bolsa familia que estejam atuando no mercado de trabalho com a personagem Vitória Sousa(Foto Joao Filho Tavares O Povo) (Foto: João Filho Tavares)
Foto: João Filho Tavares FORTALEZA-CE BRASIL, 30.04.2025 - Beneficiários do programa bolsa familia que estejam atuando no mercado de trabalho com a personagem Vitória Sousa(Foto Joao Filho Tavares O Povo)

Imagine um peixe dourado, nadando em círculos dentro de um aquário reluzente. Alimentado todos os dias, protegido das correntezas do mundo lá fora, ele vive. Mas nunca sai do lugar. O vidro é transparente, quase invisível. E é justamente por isso que parece não haver prisão. Afinal, por que lutar contra aquilo que nem se vê?

O Brasil está criando, há pelo menos duas décadas, uma geração que cresce dentro desse aquário. Um sistema de ajuda do estado que, se por um lado oferece socorro imediato, por outro não ensina a nadar em mar aberto. O problema não é a mão estendida — é o tempo em que ela permanece estendida, impedindo o outro de se levantar.

Mais de 20 milhões de famílias vivem hoje do Bolsa Família. Um número maior que toda a população do Chile. São cerca de 14 bilhões de reais por mês em auxílios — o equivalente a milhares de escolas modernas ou hospitais funcionando a pleno vapor. Mas o que se entrega, no fim, é só o peixe. E quase nunca, a vara.

A armadilha é sutil. Quanto mais tempo o cidadão passa dentro do sistema de benefícios, mais difícil se torna sair dele. Empregos formais são recusados por medo de perder o auxílio. Pequenas empresas não conseguem contratar. A economia enfraquece. E a dignidade, que só floresce com independência, começa a murchar.

O governo, em vez de preparar o terreno para o voo, vai podando as asas. Porque quem aprende a pescar pode não voltar mais ao cais para buscar migalhas. E uma população dependente é uma população domesticada — grata, fiel, previsível nas urnas.

Mas a verdade incômoda precisa ser dita:

Uma nação só prospera quando tira seu povo da estagnação e o coloca em movimento.

É urgente reconstruir o pacto social com base na autonomia, não na dependência. Oferecer educação de qualidade, capacitação profissional e oportunidades reais de trabalho. O maior programa social que pode existir é um emprego digno, uma carteira assinada, um negócio próprio, uma chance verdadeira.

Porque o ser humano foi feito para navegar, não para nadar em círculos.

Peixe alimentado demais esquece o mar.

Mas é nele que está a liberdade.

E só nela, a prosperidade verdadeira.

 

Foto do Maurício Filizola

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