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Vivam os Saraus!
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Juiz federal, foi vice-presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe/2010-2012). É professor em cursos de pós-graduação e professor convidado da Escola da Magistratura Feral da 5ª Região (Esmaf), da Escola da Magistratura do Estado do Ceará (Esmec) e da Escola de Administração Fazendária (Esaf). É autor dos livros

Nagibe Melo opinião

Vivam os Saraus!

Nada contra a indústria cultural, mas você já derrubou enxuí e depois se lambuzou com os favos de mel, já chupou a manga que subiu no pé pra pegar? A arte vem de um lugar muito íntimo e verdadeiro
Nagibe de Melo Jorge Neto, juiz federal, escritor, professor da UniChristus (Foto: Acervo Pessoal)
Foto: Acervo Pessoal Nagibe de Melo Jorge Neto, juiz federal, escritor, professor da UniChristus

O Luís Lima Verde me chamou pra um sarau, ele é do meio, lá conheci a Marta Pinheiro. A Martinha organiza tudo, conhece todo mundo. Ela me disse: no final tem microfone aberto, vai lá, lê uns poemas, é tranquilo. Cheguei no Nosso Bar depois da última aula, as mesas todas na calçada, o Marcão pra lá e pra cá, e a música no mundo.

Saía um, entrava outro, Yane Caracas, Parahyba de Medeiros, Alan Kardec, Washington Arraes, Jord Guedes, Danilo Duart, a maior galera, aquela coisa despretensiosa, blues, forró, o maracatu comendo solto, eu meio besta, sem jeito, caí de paraquedas num banquete. Nunca me senti tão cearense. Músicas autorais, a energia viva dos artistas, pérolas escondidas em locais insuspeitos.

Nada contra a indústria cultural, mas você já derrubou enxuí e depois se lambuzou com os favos de mel, já chupou a manga que subiu no pé pra pegar? A arte vem de um lugar muito íntimo e verdadeiro. Depois ela se faz rio, muito depois poluem tudo. Nesse dia eu bebi da fonte, tinham colocado alguma coisa dentro da água. Era poesia.

Fui de novo na semana seguinte. Luana Florentino, Rodrigo Claudino, Ricardo Nazareno, Arice Morais, Osvaldo Zarco, eu ficava perguntado o nome do povo, o nome das músicas, onde estavam gravadas, cadê o Spotify? Um monte de música inédita. Só pude ouvi-las uma vez, a coisa crescendo, se formando do nada, a fonte brotando abundante, eu sem ter garrafa pra levar aquela água pra casa, tudo se derramando. Saí enxarcado, viu? Enxarcado da melhor Arte cearense.

Que coisa linda! As fontes estão abundantes por aí, jorram a melhor água nos lugares mais insuspeitos. Fiquei com redobrado orgulho de ser cearense. Nossa água é abundante, farta e generosa, não tem pretensão, mas tem força, quanta força!

Acho injusto guardar tudo só pra mim, então me atrevo a dar conselhos. Quando estiverem cansados, sedentos e desiludidos da vida, quando a tristeza ameaçar com a falta de sentido, venham beber a água da fonte. Eles colocam um negócio dentro, dá um barato, a vida fica mais feliz e cheia de sentido. Colocam altas doses de poesia.

 

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