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Ainda estamos aqui
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Juiz federal, foi vice-presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe/2010-2012). É professor em cursos de pós-graduação e professor convidado da Escola da Magistratura Feral da 5ª Região (Esmaf), da Escola da Magistratura do Estado do Ceará (Esmec) e da Escola de Administração Fazendária (Esaf). É autor dos livros

Nagibe Melo opinião

Ainda estamos aqui

O filme surge em um momento crucial. A arte tem papel essencial em qualquer democracia, pois é catártica, dá vazão aos nossos sentimentos e nos convida à reflexão e à empatia
'Ainda Estou Aqui': veja a trajetória dos membros da família Paiva, representados no filme (Foto: RT Feautures/Divulgação)
Foto: RT Feautures/Divulgação 'Ainda Estou Aqui': veja a trajetória dos membros da família Paiva, representados no filme

Ainda Estou Aqui é uma dolorosa jornada por memórias e feridas não cicatrizadas. O filme, baseado na obra de Marcelo Rubens Paiva, conta o desaparecimento de seu pai, o deputado federal Rubens Paiva, cassado pela ditadura militar. Em especial, fala da luta de sua esposa e filhos para compreender e sobreviver à ausência imposta por um Estado opressor. A obra de Walter Salles é muito mais que um drama familiar, retrata as dores de um país que ainda convive com fantasmas do passado e, por vezes, ignora as conquistas democráticas arduamente alcançadas.

A Comissão Nacional da Verdade estimou que 434 pessoas foram mortas ou desapareceram durante o regime militar brasileiro. Rubens Paiva é uma das figuras mais emblemáticas. Ainda Estou Aqui dá voz à memória coletiva, levando-nos a refletir sobre os princípios fundamentais da democracia, como liberdade e devido processo legal.

Fernanda Torres, com extraordinário talento, transmite todo o sofrimento, dignidade e esperança dos familiares de Rubens Paiva. A atuação de Selton Mello é notável e o olhar de Fernanda Montenegro, nas cenas finais, dá enorme peso à narrativa. O elenco estabelece uma ponte emocional com o espectador, nos sentimos vítimas da mesma injustiça, pessoal e coletiva.

Este filme surge em um momento crucial. Ainda ontem vozes nas ruas pediam o retorno de um regime de exceção, ignorando o peso histórico das feridas que deixou. A arte tem papel essencial em qualquer democracia, pois é catártica, dá vazão aos nossos sentimentos e nos convida à reflexão e à empatia. Por meio do cinema, da música e da literatura, relembramos não apenas o que nos define, mas também os caminhos e descaminhos que nos trouxeram até aqui.

Ainda Estou Aqui é uma oportunidade para as novas gerações conhecerem a história e um alerta para todos: jamais podemos aceitar que tais violações se repitam. A democracia, a paz e a felicidade só podem florescer em um Estado de justiça social e respeito aos direitos humanos. Ainda estamos aqui, cabe a cada um de nós manter vivas a memória e o compromisso com o Estado Democrático de Direito.

 

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