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Pessoas no vermelho; de quem é a culpa?
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Colunista de Economia, Neila Fontenele já foi editora da área e atualmente ancora o programa O POVO Economia da rádio O POVO/CBN e CBN Cariri.

Pessoas no vermelho; de quem é a culpa?

Pesquisa realizada pela Planejar (Associação Brasileira do Planejamento Financeiro) aponta que 71,6% dos brasileiros na região Nordeste fazem algum tipo de planejamento nas finanças
Tipo Opinião

Quando olhamos os números da insegurança alimentar no Brasil e analisamos o perfil da renda das pessoas (no Ceará, quase 40% não possui nenhum salário), percebemos o tamanho da crueldade de quando se fala em "ajuste de contas das famílias". O Brasil, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), está prestes a voltar para o clube das oito nações mais ricas do mundo, mas 8,3% do seu povo permanece miserável.

Já vivemos um momento, nos anos 1980 e 1990, no qual o problema intransponível era a inflação. Hoje, certamente, as questões principais são a fome, a miséria e a fragilidade dos contratos de trabalho. Os esforços individuais já existem: muita gente, por conta própria e sem a devida consultoria, tenta empreender e organizar as suas contas.

Pesquisa realizada pela Planejar (Associação Brasileira do Planejamento Financeiro) aponta que 71,6% dos brasileiros na região Nordeste fazem algum tipo de planejamento nas finanças. Essa é a quarta edição da pesquisa, realizada no mês de março, que mostra o gradativo aumento desse percentual.

Detalhe: quando perguntados sobre quais os principais objetivos para o planejamento, 27,4% responderam que é para organizar as finanças; 22,1% disseram que pretendem comprar um bem imóvel; e 12,1% procuram ter estabilidade financeira. A maior preocupação dos habitantes da região é com o longo prazo, com 36,1% das respostas, contra 30,5% no curtíssimo prazo.

A constatação da necessidade de planejamento é percebida por 37,5% da população; 22% afirmaram não saber o que fazer; e 19,2% apontaram a renda como insuficiente. Os esforços, entretanto, são apenas individuais: 72,8% dos entrevistados não possuem qualquer tipo de ajuda profissional.

Na avaliação de Osvaldo Cervi, vice-presidente do Conselho de Administração da Planejar, "houve uma melhora significativa no aculturamento da importância do planejamento financeiro, mas ainda há um longo caminho a perseguir, principalmente, sobre a conscientização da importância de um planejamento visando objetivos mais de longo prazo".

ESCOLARIDADE BAIXA

As questões são complexas. Por exemplo: o nível de escolaridade baixo geralmente associado à pobreza torna muito mais difícil a criação de melhores condições de vida - mas é preciso buscar alternativas. Na avaliação de Osvaldo Cervi, há alguns fatores que contribuíram para o endividamento das famílias, e um deles seria o incentivo ao crédito consignado sem a devida orientação. "É a mesma coisa de oferecer crédito sem saber aplicar". O executivo acredita que muita gente tem aprendido pela dor.

A oferta de crédito sem orientação adequada não é um problema apenas do crédito consignado; muitas vezes, instituições financeiras oferecem linhas de empréstimos com valores muito superiores à capacidade de pagamento das pessoas. Claro que isso ocorre geralmente com taxas de juros bem mais elevadas (ou seja, é proporcional ao risco de inadimplência).

Todos esses fatores geram a tempestade perfeita: pessoas com renda baixa, presas a juros altos e, muitas vezes, obtendo crédito sem orientação adequada. Oswaldo acredita que, no caso brasileiro, o problema não está na oferta de crédito por parte de bancos e financeiras, e sim na sua capacidade de utilização.

SAÍDAS PARA NEGOCIAÇÃO

Para buscar saídas para uma negociação e planejar as contas é preciso orientação. "Uma família que tem um imóvel de R$ 200 a R$ 250 mil, por exemplo, tem condição de fazer um refinanciamento e reduzir o endividamento de curto prazo", exemplifica Osvaldo. Talvez esse não seja o melhor modelo de negociação para muita gente, mas certamente as pessoas precisam de orientação e de condições de renda para viver melhor ou, pelo menos, para ter o que comer.

 

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