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Moças, pobres moças …
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Colunista de Economia, Neila Fontenele já foi editora da área e atualmente ancora o programa O POVO Economia da rádio O POVO/CBN e CBN Cariri.

Moças, pobres moças …

E essa é a saga de muitas mulheres. Confrontadas com uma imagem de fragilidade do feminino e de quem não pode parar no dia a dia; apavoradas com a sensação de desamparo, e sacrificadas com as tentativas de superação
Neila Fontenele, jornalista do O POVO  (Foto: Aurélio Alves/O POVO )
Foto: Aurélio Alves/O POVO Neila Fontenele, jornalista do O POVO

Este é o primeiro mês de maio sem a minha mãe. Depois de uma longa jornada de luta, a guerreira descansou. Na minha imaginação de filha, ficou a imagem de um samurai com perfil feminino. De alguém que colocou todos os dias o seu batom. Calçou muitas vezes o salto alto, e trabalhou incansavelmente dia e noite, para educar sozinha suas duas filhas, mas também por seu espaço como mulher.

Guerreiras deste tipo, normalmente, não deixam passar nada. Convocam todos para a luta. Deixam marcas e cicatrizes em todos, inclusive em quem amam. Elas cobram coragem para viver, mostram insatisfação, pedem transformação, apontam erros e tentam cortar as desaprovações. Não é fácil: em vários momentos, parecem uma força selvagem da natureza, tamanhas as suas exigências - mas também ensinam.

E essa é a saga de muitas mulheres. Confrontadas com uma imagem de fragilidade do feminino e de quem não pode parar no dia a dia; apavoradas com a sensação de desamparo, e sacrificadas com as tentativas de superação. Mães guerreiras como a minha não se permitem cansar, mas deixam os filhos crescer.

Elas fazem o seu papel quando estão perto e, muitas vezes a distância, quando empurram as suas crias para assumir as próprias responsabilidades. A maternidade não é sufocada só com afetos, mas também com o frio da barriga provocado pelas novas experiências da vida.

Hoje, embargada pelo luto e pela memória, confesso meu olhar mais generoso não só com minha mãe, mas também comigo e com outras mulheres. Apesar disso, admito que muitas de nós agem como as fêmeas do louva-a-deus, devorando os machos após a cópula. Em outros casos, acabam sendo devoradas por eles, vítimas de violência e feminicídios. Talvez os homens ainda não saibam se posicionar diante dessas mulheres, que querem mais. Desejam mais e não se contentam com qualquer coisa, fazendo sua convocação para a mudança.

Se aproximando o Dia das Mães, é impossível não transbordar e homenagear as mães de todos os tipos, das mais guerreiras a aquelas que ainda estão aprendendo a lutar.

Adaptando livremente um trecho clássico de Lupicínio Rodrigues: "moças, pobres, moças / Ah! Se soubessem o que eu sei / Só amavam e não passavam / por tudo que eu já passei".

 

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