Colunista de Economia, Neila Fontenele já foi editora da área e atualmente ancora o programa O POVO Economia da rádio O POVO/CBN e CBN Cariri.
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"É muito difícil sair da areia movediça puxando os próprios cabelos".
Ouvi uma vez essa frase de uma professora em sala de aula e nunca a esqueci. Nesse período de campanhas sobre a saúde mental, é uma frase que deve ser resgatada, principalmente quando o assunto é dinheiro e quando pensamos como as crises financeiras têm impacto nos quadros de depressão e ansiedade.
Segundo dados levantados pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), 52% dos brasileiro afirmam sentir estresse com relação às finanças. Estudo da Onze e Icatu ressalta que 70% dos entrevistados revelam como os problemas financeiros afetam sua saúde mental. Essa não é apenas uma questão individual e de natureza familiar, mas há algo do social e que precisa ser repensado.
A psicóloga e especializada em finanças, Valéria Meirelles, e Felipe Schepers, do Instituto Opinion Box, apresentaram ontem os dados de pesquisa da Serasa realizada em agosto com 1.766 consumidores de todo o país. Pelas análises dos dados, muitas das dificuldades não são diagnosticadas inicialmente como problema de saúde mental - às vezes começam com uma insônia, um cansaço que se acumula e depois afeta outras áreas da vida; gerando também depressão e até crises de pânico.
Os números reforçam o nível de pressão pelas quais as pessoas estão submetidas: 60% informam sofrer de ansiedade e 62% ressaltam um quadro de estresse nas classes D/E. As questões vão além da necessidade de educação financeira. Valéria Meirelles explica que é preciso compreender os sintomas apresentados: "Há uma necessidade de entendimento dos significados do dinheiro na vida de cada um, seja individualmente, seja de acordo com a etapa do ciclo vital", reforça.
Diante da situação, também é relevante pensar no papel das empresas dentro desse contexto. Muitas estão criando plantões psicológicos para ajudar os funcionários, mas talvez caibam outras ações na tentativa de aliviar o nível de tensão.
Os gastos com saúde mental também estão ficando mais elevados. Pelo estudo realizado pelo Instituto Opinion Box, 34% das famílias nordestinas enfrentam desorganização financeira por conta de gastos com saúde mental. As despesas com assistência psicológica já ocupam a sexta posição nas prioridades de gastos das famílias na região, à frente de custos com automóveis e educação.
Os números da Agência Nacional de Saúde Suplementar são, no mínimo, preocupantes. Embora mais de 51 milhões de pessoas tenham acesso a planos de saúde no Brasil, há um grande contingente com dificuldade de assistência da rede privada - um problema que tende a piorar com o envelhecimento da população e a elevação dos custos. Conforme o modelo atual, a expectativa é de um aumento de mais 400% nos gastos hospitalares nos próximos 10 anos.
A médica Izabela Parente, gestora na área de saúde e com experiência acumulada nas áreas pública e privada, lembra da necessidade de repensar o modelo atual e os desperdícios. Em entrevista ao Ciência & Saúde, da Rádio O POVO CBN, ela destacou os problemas provocados por uma ideia de saúde muito "emergencial e hospitalocêntrica". Esse modelo torna a saúde muito mais cara, porque não se pensa na prevenção. Ou melhor: a saúde dentro da complexidade de uma vida com mais qualidade, com uma boa alimentação, atividade física, sono reparador, moradias melhores e menos estresse para pagar os boletos.
Tudo isso certamente ajuda para que as pessoas não tentem arrancar os próprios cabelos.
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