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Cuidado com o que você pergunta…
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Colunista de Economia, Neila Fontenele já foi editora da área e atualmente ancora o programa O POVO Economia da rádio O POVO/CBN e CBN Cariri.

Neila Fontenele ciência e saúde

Cuidado com o que você pergunta…

Nas salas de espera dos consultórios, também tenho aprendido a ficar calada. Uma pergunta simples pode desencadear um rol interminável de mazelas. As opiniões também são muitas vezes apavorantes
Tipo Opinião
Neila Fontenele. Jornalista do O POVO. (Foto: Aurélio Alves/O Povo) (Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves Neila Fontenele. Jornalista do O POVO. (Foto: Aurélio Alves/O Povo)

A reta final das eleições deixa o clima mais tenso para conversas com motoristas de aplicativo e salas de espera de consultórios médicos. As pautas para aquela conversinha descomprometida, em alguns momentos, rapidamente podem se transformar em verdadeiros campos minados para embates vigorosos.

Certo dia, em um carro de aplicativo, fiz um pedido inocente para fechar a janela. A resposta foi imediata: "Claro, principalmente com a quantidade de ladrões na rua!" A partir daí, o papo foi tortuoso: "Você sabia que hoje mataram um motorista de aplicativo? O rapaz não fez nada e acabou morrendo", vociferou o motorista. Não havia abertura para o diálogo. O motorista estava preso no seu mundo de pensamentos. Não havia outro assunto. Respondi com resignação o meu lamento sobre o acontecimento trágico, mas a conversa sobre violência na cidade só teve fim quando cheguei ao destino da corrida.

O motorista expressava a sua revolta com a insegurança. Nada mais justo, diante dos índices de violência; mas também havia, no seu discurso, a presença da sua angústia diante da falta ações claras para a sua proteção.

Perguntei: "O senhor sabe a qual esfera de governo cabe o cuidado com a segurança?" A resposta veio com uma perigosa generalização, colocando todos os políticos em posição de inferioridade ética e moral. A sensação dada na resposta era de que não havia ninguém habilitado para assumir tal função.

Nas salas de espera dos consultórios, também tenho aprendido a ficar calada. Uma pergunta simples pode desencadear um rol interminável de mazelas. As opiniões também são muitas vezes apavorantes, indo da defesa da pena de morte a um clamor pelo apocalipse em função das mudanças geracionais, do clima, da alimentação com agrotóxico e conservantes etc.

Não sei o que vem acontecendo, mas a minha sensação é de que perdemos a leveza. Depois desses encontros, fiquei pensando em saídas para ressignificar histórias doloridas e até mesmo grotescas. Ainda não tive muito sucesso nessa elaboração, mas sei que a política ainda é um caminho para se ter esperança, embora ela não apresente todas as respostas. O outro seria a arte: precisamos de um pouco mais de diversão para diminuir a tensão. Como cantam os Titãs: "Diversão e arte para qualquer parte".


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