Neila Fontenele é editora-chefe e colunista do caderno Ciência & Saúde do O POVO. A jornalista também comanda um programa na rádio O POVO CBN, que vai ao ar durante os sábados e também leva o nome do caderno
Neila Fontenele é editora-chefe e colunista do caderno Ciência & Saúde do O POVO. A jornalista também comanda um programa na rádio O POVO CBN, que vai ao ar durante os sábados e também leva o nome do caderno
Calma.
Precisamos nos sentir e nos ouvir…
O burburinho e a velocidade das coisas aparentemente geraram um infarto da alma humana. Os diagnósticos estão postos: sofremos de uma sobrecarga de informações em um mundo mergulhado em sintomas provocados pela cultura do excesso.
Ganhamos em avanços tecnológicos e perdemos em nossa capacidade contemplativa, diante da ausência da serenidade do cansaço, como diria o filósofo coreano Byung-Chul Han: os problemas não são mais gerados apenas por bactérias, vírus, fungos e acidentes - eles estão nas nossas próprias defesas, diante dos mecanismos desenvolvidos para nos adaptar. E no que estamos nos transformando?
Nos últimos 25 anos, testemunhamos explosões de conhecimentos e inovações científicas. Soa até um pouco difícil enumerar ou fazer um ranking das mais relevantes e dos seus impactos.
Na Tecnologia da Informação e Comunicação, houve a evolução da Inteligência Artificial (IA), o aprendizado de máquina e a Internet das coisas; na área de Biotecnologia e Saúde, surgiram técnicas de edição do genoma de organismos com maior precisão, e novas vacinas foram desenvolvidas (como as de RNAm usadas contra a COVID-19).
Além disso, houve o incremento das explorações espaciais, como o envio de sondas a Marte, ampliando nosso conhecimento sobre o planeta vermelho. Mas… e o nosso planeta azul, conforme descreveu Yuri Gagarin em 1961? Como ficamos diante das engenhosidades tecnológicas? A pandemia certamente foi um grande marco: aprendemos muito do ponto de vista biológico, mas tropeçamos nas próprias pernas diante da fragilidade emocional.
Desenvolvemos diagnósticos por imagem, novos fármacos e consultas online, e caímos ao ver a amargura dos jovens, dos velhos e dos adultos perdidos na corrida pela sobrevivência: depressão, ansiedade, transtornos de déficit de atenção com síndromes de hiperatividade e síndrome de Burnout são adoecimentos comuns e a ponta de um grande iceberg.
Será que geramos um novo problema imunológico, quando não pensamos nas nossas próprias defesas? Talvez tenhamos exagerado em uma visão positivista e mercadológica da ciência. Somos e queremos muito mais do que é induzido pelo mercado, mesmo com todo o conhecimento envolvido nos seus suportes técnicos.
Os vazios existenciais ecoam. O cansaço, como diria Chul Han, tem um fator de desarme e ameniza os gestos de violência e de "individualização egológica". Para 2025, mais avanços tecnológicos são prometidos: a maior rapidez da computação quântica; o incremento de terapias genéticas e robóticas; e uma medicina mais personalizada; mas os desafios, mesmo, estão nas inquietações humanas diante de todas essas transformações.
Como já cantaram os Engenheiros do Hawaii, nos anos 1980: "Somos quem podemos ser; sonhos que podemos ter".
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