Neivia Justa, jornalista, empreendedora, palestrante, mentora, professora, fundadora e líder da JustaCausa, com 30 anos de experiência como líder de Comunicação, Cultura, Diversidade, Equidade e Inclusão em empresas como Natura, GE, Goodyear e J&J. Criadora do programa #LíderComNeivia e dos movimentos #OndeEstãoAsMulheres e #AquiEstãoAsMulheres, foi a vencedora do Troféu Mulher Imprensa e do Prêmio Aberje 2017 e, em 2018, foi eleita uma das Top Voices do Linkedin Brasil.
Em meio aos elogios "inocentes" de amigos e homens da família, você não percebeu o risco que sua filha corria. Aos poucos, ela parou de sorrir, começou a se retrair, parecia querer se esconder de tudo e de todos. Parecia acuada, ansiosa, apavorada
Foto: Divulgação
Neivia Justa, jornalista, executiva e criadora do movimento #ondestãoasmulheres
Lembra da alegria quando você descobriu que teria uma filha? A gestação, a escolha do nome, a decoração do quarto, a compra do enxoval, o parto e o turbilhão de emoções que te invadiram quando a viu pela primeira vez?
Com o nascimento da sua menina, você viveu uma sucessão de primeiras emoções inesquecíveis: o choro, o olhar, o sorriso, o banho, a mamada, a cólica, a febre, o sentar, o engatinhar, os dentes, o caminhar, o falar.
Vieram a creche, a escola, as amizades, os esportes, as artes, as descobertas e aprendizados contínuos daquela inesgotável curiosidade infantil. Cada dia uma novidade. Uma nova pergunta. Veio a pré-adolescência, um tempo de hormônios em ebulição, transformações físicas, inseguranças e aquele frequente e perturbador olhar masculino direcionado a ela. "Nossa, como você cresceu!" "Já está uma mocinha linda." "Senta aqui no colo do tio." "Um dia vou casar com você."
Em meio aos elogios "inocentes" de amigos e homens da família, você não percebeu o risco que sua filha corria. Aos poucos, ela parou de sorrir, começou a se retrair, parecia querer se esconder de tudo e de todos. Oscilava entre a apatia e o medo, a tristeza e o silêncio. Parecia acuada, ansiosa, apavorada.
Um dia, você descobriu que sua menina havia sido estuprada, dentro de casa, e estava grávida de 22 semanas. Aquela nova forma corporal não era excesso de peso, mas sim fruto de uma violência desmedida que ela havia sofrido debaixo do seu teto, sob a sua guarda. E ela só tinha 11 anos! "Criança não pode ser mãe", você pensou. "Vou entrar com um pedido de aborto legal. Minha filha não precisa passar por mais essa violência de ter que levar essa gravidez a termo e dar à luz a um bebê que ela não desejou e não quer."
Nesse momento, você descobriu que um grupo de pessoas havia aprovado, na calada da noite, "em nome de Deus", um projeto de lei que criminalizava o aborto em caso de estupro, depois de 22 semanas de gestação. Sua filha teria que seguir com a gravidez ou correr o risco de ser condenada a até 20 anos de prisão, caso abortasse. O estuprador, por sua vez, se condenado, ficaria preso no máximo 10 anos. Você gritou de revolta e desespero. E, felizmente, acordou daquele pesadelo.
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