Não pude deixar de notar que noto
Anoto mentalmente quando algo me lembra
E essa blusa me lembra
E o tempo me lembra
Os confetes dos carnavais que não pulei
Os monstros que eu vi na tv cultura uma vez
Tudo me lembra, anoto em mim a falta de nota
Percebi hoje que quando voltei não recuperei
Nem o e-mail que eu usei antes de ir
Não recuperei o meu perdão
E nem me recupero da saudade
Já escrevi muito sobre ela
Sobre ele, escrevo sobre a ideia
E sobre o que procuro nesse Mundo
— Como amamos o que vamos perder?
Escrevo sobre como poderia haver de ter sido
E paro e leio em um eterno fevereiro
Sobre os figos que nunca haverei de colher
Mas penso que talvez, apenas talvez
Exista um mundo nosso, talvez verdadeiro
Talvez imaginário, esperança minha
Em toda parte da Terra a qual vamos perder
Existe todos os mundos dos talvez
E então me lembro dos amigos do maternal
Que poderiam ser meus amigos de infância
Mas não me recordo seus nomes
Esqueci de anotar em algum caderno
Nos cadernos que eu costumava desenhar
Hábito que perdi não sei quando
Uma coisa que esqueci de notar…
Só lembrei que notei
Em algum momento
Que minha mãe não guardou nenhum deles
Será se ela lembra disso?
Não é que me magoo com tal detalhe
Realmente só me pergunto
Se ela gostaria de ainda me ter em rascunho
Já que agora não sou mais criança
Não desenho mais com lápis de cor no papel
Nem nos vejo mais em um jardim
Só ela, meus irmãos e eu
Dividindo o espaço de uma folha
Com pernas longas e nuvens azuis
Sim, as nuvens eram azuis, não o céu
Perdi essa habilidade artística
Noto isso também…
Num momento agora, já não mais criança
Imagino algo ainda mais longe
Mais longe até que nuvens azuis
Imagino um mundo nosso