Espaço dos correspondentes escolares do Programa O POVO Educação 2021. O programa reúne 140 jovens estudantes do ensino fundamental das redes pública e privada de Fortaleza. Os correspondentes participam de oficinas nas quais aprendem a editar jornais, roteirizar podcasts e apresentar programas de rádio, entre outras atividades
Observei atentamente os fios que se sobressaíam do coque feito às pressas. Analisei a maquiagem que fora feita no intuito de esconder a negritude de minha pele, o batom fez parecer com que meus lábios carnudos fossem menores.
Em outra, o cabelo escorrido não brilha, os olhos são a própria escuridão. Mas o sorriso está lá, estampado. Quase como um sorriso íntimo e autêntico. Quase.
Olha, aquele cabelo dourado me rendeu tantos elogios que eu mal sou capaz de lembrar. Inacreditavelmente ele fez também com que eu parecesse menos negra do que realmente sou. Quem não entende de colorismo, aliás, me acha quase branca. Papel, parda. E eu visivelmente parecia não me reconhecer se não naqueles supostos parâmetros de padrão aceitável, como se o oposto disso não fosse normal, belo e até moral.
Bobagem!
Fechei o álbum de fotografias e me apaixonei mais uma vez ao olhar meu reflexo no espelho. Enxerguei a coragem, a ousadia e até a sensualidade que a sociedade tanto me obrigava a esconder.
Minha natureza é beleza. Quanto maior o volume, melhor. Meus caracóis são labirintos que encantam quem reconhece a graça em ser de verdade.
Meu corpo possuí mais curvas do que um violão. A roupa não me veste, não me esconde. Eu a visto, uso-a de forma com que ela seja só mais um acessório do que está ali, do que é meu e natural.
Touché.
O medo das outras pessoas diante de uma fortaleza fez com que a fortaleza se camuflasse para um maior conforto que não fora o dela. Mas ela entendeu finalmente. Eu entendi. E a luz que se fazia refém da escuridão que era inquilina em mim, libertou-se com sussurros de paixão.
Não sou somente essa mulher que fala e que é, escolhi ser. Meu cabelo cacheado é a moldura mais autêntica do meu rosto. A cor de minha pele exposta não é um convite para o prazer de terceiros, mas o grito de reconhecimento da mulher que eu sou.
Os desejos superficiais de uma sociedade burguesa e trivial são ostensivamente transitórios e de extrema repugnância. A intenção é minar o seu eu e tudo o que o compõe. A ideia é roubar-te a força, a ousadia, sua coragem. É vulnerabilizar o que, e quem não é vulnerável; transformar alguém que é dono de si em fantoche, facilmente manipulado.
Você não é mais e não é menor por ter as características que tem. Você só é você. Um indivíduo único, singular. E toda essa sua singularidade é o que compõe sua beleza.
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