É o(a) profissional cuja função é exclusivamente ouvir o leitor, ouvinte, internauta e o seguidor do Grupo de Comunicação O POVO, nas suas críticas, sugestões e comentários. Atualmente está no cargo o jornalista João Marcelo Sena, especialista em Política Internacional. Foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO e de Política
No Instagram, a imagem exerce um peso muito grande no entendimento da mensagem. Confundir a foto de um papa cujo rosto ainda não era muito conhecido amplifica o tamanho do erro.
Foto: Tiziana FABI / AFP
Recém-eleito Papa Leão XIV, Robert Prévost discursa à multidão pela primeira vez na varanda principal da galeria central da Basílica de São Pedro, após o encerramento do conclave pelos cardeais, no Vaticano, em 8 de maio de 2025. Robert Francis Prévost foi eleito na quinta-feira o primeiro papa dos Estados Unidos, anunciou o Vaticano. Moderado, próximo do Papa Francisco e missionário no Peru há anos, ele se torna o 267º pontífice da Igreja Católica, adotando o nome papal Leão XIV. (Foto de Tiziana FABI / AFP)
A partir do instante em que os 133 cardeais se colocaram em clausura para o conclave, boa parte do mundo passou a dirigir atenções para a chaminé instalada no telhado da Capela Sistina, na expectativa de assistir ao vivo a um momento histórico que só acontece de tempos em tempos. A ansiedade para ver logo qual seria a cor da fumaça a sair de lá contrastava com a paciência quase monástica de muitos que grudaram nas telas, assistindo por algumas horas a transmissão da Vatican News, reproduzindo uma imagem quase todo tempo parada assistida por bilhões de pessoas em milhares de canais no Youtube.
A monotonia da transmissão era quebrada vez ou outra por algumas gaivotas que, como de costume, passeavam por ali. Sem saber que desta vez tinham alguns milhões de espectadores. Num momento meio “Discovery Channel”, uma das aves protagonizou um momento pitoresco ao regurgitar um rato para alimentar o filhote, poucos segundos antes de a fumaça branca sair pela chaminé, anunciando ao mundo que o novo papa fora escolhido após dois dias de conclave.
Aproveito para abrir um pequeno parêntese e reforçar o que comentei aqui mesmo na coluna há duas semanas sobre como as mudanças de dinâmica comunicacional ficam bem explícitas em eventos como a escolha de um papa. A forma como o processo todo foi noticiada em 2025 foi bastante diferente do que foi observado em 2013, que por sua vez guardou muitas mudanças em relação ao que ocorrera oito anos antes. No próximo conclave, não tenho dúvidas de que serão muitas as diferenças.
Uma surpresa, muitas dúvidas
Logo que saiu a fumaça branca, plantões de última hora mudaram a direção das câmeras para o balcão central da Basílica de São Pedro, onde seria revelado quem seria o novo pontífice, assim como o nome adotado por ele. Quando o decano do colégio cardinalício literalmente gastou o latim para anunciar, poucos foram os veículos e jornalistas que o entenderam de pronto.
Passados alguns segundos de incerteza e busca rápida no Google, foi decodificada a mensagem de que o novo pontífice era o norte-americano Robert Francis Prevost e que ele escolhera Leão XIV como nome papal. A própria Globo, que investiu no envio de um grupo grande de jornalistas ao Vaticano, parecia um pouco perdida nos instantes seguintes ao anúncio. No O POVO, as transmissões ao vivo da Rádio O POVO CBN e do O POVO News, no Youtube, também demoraram um pouco na compreensão, mas compensaram com entrevistas ágeis com especialistas a analisar o novo momento da Igreja Católica.
Além da barreira linguística do anúncio, o fato de Prevost não estar entre os mais cotados pegou muita gente de surpresa e contribuiu para a incerteza inicial. Quando aparecia em alguma lista de papáveis, o norte-americano estava em um segundo patamar de favoritos, acompanhado de uma ou duas dezenas de cardeais. No podcast “O Assunto”, a vaticanista Mirticeli Medeiros foi a única que vi na imprensa citando o nome de Prevost como provável escolhido e fazendo isso com argumentos bem fundamentados.
A pressa que leva ao erro
Um dos veículos que se embananou assim que o nome do papa deixou de ser mistério foi O POVO. Na postagem do Instagram, o card estava lá bonitinho com o título maior “Papa Leão XIV” e o subtítulo “Robert Francis Prevost é eleito novo líder da Igreja Católica”. Até aí, tudo bem, não fosse a foto escolhida para a publicação. Em vez de Prevost, a imagem era do cardeal italiano Pietro Parolin, este sim um dos mais citados nas bolsas de apostas.
“Essa foto é do PIETRO Parolin, não? Conseguiram errar a foto do papa”, se queixou uma seguidora em mensagem ao ombudsman. A publicação foi apagada e logo substituída por uma com a imagem correta do novo papa. Mas não sumiu a tempo de evitar o “print” da tela que denunciou o erro. Não é difícil supor que a imagem de Parolin, favorito, foi preparada previamente, como forma de O POVO ser um dos primeiros perfis no Instagram a publicar a informação.
É naturalmente esperado que, em grandes acontecimentos, veículos de imprensa atuem para levar a informação o mais rápido possível àqueles que os acompanham, sejam leitores, ouvintes, espectadores ou seguidores. Agora num evento como a revelação de um papa, no qual não existe acesso antecipado dos jornalistas e em que bilhões de pessoas sabem quem é o novo pontífice ao mesmo tempo, qual o sentido de tanta pressa?
A agilidade aqui não é explicada pelo objetivo de noticiar logo àqueles que não estão acompanhando as transmissões ao vivo, mas sim como forma de posicionar melhor o perfil nos algoritmos das redes e do próprio Google e, assim, chegar a mais pessoas e conseguir mais engajamento.
É impossível desconsiderar o fator tempo no jornalismo digital, seja para publicação de matérias no portal ou para publicações nas redes. Agora a agilidade quando não está cercada de cuidados de checagem e revisão básicos se transforma numa pressa inapropriada que deixa a margem para erro bem mais estreita. Em tempos de desinformação, deslizes assim precisam ter atenção redobrada. Além disso, no Instagram, a imagem exerce um peso muito grande no entendimento da mensagem. Confundir a foto de um papa cujo rosto ainda não era muito conhecido amplifica o tamanho do erro.
O erro no qual a culpa não foi da pressa
Há o erro explicado - mas não justificado - pela pressa. E há também o de informação em que o tempo não é um fator determinante. Pior ainda quando ele persiste. Ainda no contexto da escolha de Leão XIV como novo papa, outro vídeo publicado nas redes sociais do O POVO também caiu em erro. A postagem tinha o atraente título de “Confira momento em que cardeais elegem Robert Francis Prevost como papa”.
Para quem acompanha minimamente os ritos de escolha de um papa e lê um título assim já salta da cadeira pensando estar diante de algo inédito, uma cerimônia cheia de segredos, restrita aos cardeais que dela participam. Na prática, frustração. O vídeo mostra imagens liberadas pela Santa Sé posteriores à escolha, com Prevost já com as novas vestes papais conversando com outras pessoas, rezando e se preparando para subir no balcão onde teria o nome revelado.
No Instagram, o título que induz os seguidores ao erro seguiu no vídeo. Na legenda, há um alerta de correção, explicando que as imagens são do “momento em que Robert Francis Prevost é acolhido pelos cardeais após aceitar se tornar o 267º papa”. O mesmo procedimento foi adotado no TikTok, que esta semana bateu a marca de 600 mil seguidores. No Threads, uma espécie de “Patinho Feio” entre as redes, a postagem também não foi apagada e permanecia até a tarde da última sexta-feira sem qualquer aviso de correção.
Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página
e clique no sino para receber notificações.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.