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GOLPE MILITAR1964
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A história do Ceará e do mundo desde 1928, narrada pelas lentes do acervo de O POVO

GOLPE MILITAR1964

Eclodiu, à tarde de ontem, em Minas Gerais, um movimento militar, comandado pelo general Mourão Filho, visando "deter a sovietização do país intentada pelo Presidente da República"
Foto da capa da edição impressa do O POVO do dia 03 de abril de 1964 falando sobre o Golpe Militar no Brasil. (Foto: Capa da edição impressa do O POVO do dia 03 de abril de 1964)
Foto: Capa da edição impressa do O POVO do dia 03 de abril de 1964 Foto da capa da edição impressa do O POVO do dia 03 de abril de 1964 falando sobre o Golpe Militar no Brasil.

* desde 1928: As notícias reproduzidas nesta seção obedecem à grafia da época em que foram publicadas.

 

1 de abril de 1964

II e IV Exércitos apoiam movimento mineiro

Eclodiu, à tarde de ontem, em Minas Gerais, um movimento militar, apoiado pelas forças democráticas e comandado pelo general Mourão Filho, visando "deter a sovietização do país intentada pelo Presidente da República". O movimento contou de logo, com o apoio irrestrito do general Pedro Guedes, comandante da guarnição militar de Juiz de Fora, e do governador do Estado, sr. Magalhães Pinto. Falando à Nação, logo após regelar se, informou o general Mourão Filho que recebera a adesão do II Exército, sediado em S. Paulo, de parte da guarnição da Vila Militar, na GB, e das guarnições do Exército e Fôrça pública de S. Paulo.

O Presidente da República lançou, imediatamente, proclamação à Nação, condenando a rebelião e designando a general Jair Dantas Ribeiro para chefiar as fôrças que se mantiveram fiéis ao Governo, Autorizou, em seguida, o deslocamento de tropas para Minas Gerais. Foi divulgada, também, nota do general Jair Dantas Ribeiro confirmando que, apesar do seu estado de saúde, assumirá o comando das operações.

Por seu lado, o governador Ademar de Barros, de SP, dirigiu proclamação à Nação, apoiando "os meus bravos irmãos de Minas". Segundo divulgou a Rádio Marrink Veiga, insuspeita no caso, porque é de propriedade do sr. Brizola, momentos depois, o general Amaury Kruel apoiara, efetivamente, o movimento iniciado em Minas Gerais. Em consequência - adiantou a emissora - o governador Ademar de Barros colocara sob o seu comando tôdas as tropas da Polícia Militar. Já se encontravam, então, naquele Estado, os generais Otávio de Farias e Nelson de Melo.

O movimento desfechado em Minas Gerais vem recebendo adesões de setores civis e militares, destacando-se entre as primeiras, as dos governadores Carlos Lacerdas, Nev Braga, Ildo Meneghetti e Ademar de Barros, os quais lançaram proclamação ao povo. Também foi noticiado pela madrugada, que dois grupos de artilharia do I Exército, enviados para Minas Gerais, haviam aderido aos rebeldes. O senador Juscelino Kubstcheck, forçado a dedinir-se ante os acontecimentos, o fêz apoiando o Govêrno e salientando que, apesar dos laços de amizade que o prendem ao deputado J. M. Alkimin e ao general Mourão Filho, não poderia com elas solidarizar-se.

No quadro geral dos acontecimentos que se desenrolam, sobressaia, também, os deslocamentos de tropas do II Exército e da PM de S. Paulo em demanda da Guanabara, já tendo, pela manhã, transposto o Vale do Paraiba. Não se registrara, no entanto, nenhum choque de tropas.

Tudo indicava que, pela manhã o Govêrno contava, tão só, com a lealdade de parte das tropas da Vila Militar e de tropas de Mato Grosso, comandadas pelo General Crisanto de Figueiredo, as quais, segundo versão divulgada por emissoras, se estariam deslocando para São Paulo.

O Comandado Geral dos Trabalhadores, cujos dirigentes, a exceção do deputado Hércules Correia, passaram a noite na Marrink Veiga, decretou, à madrugada, greve geral. Na GB, alguns serviços esseniais - exclusive energia e gás paralisaram.

Dava-se conta também, por volta das 9hs50mts de hoje, que o governador Carlos Lacerda mantinha-se entrincheirado no Palácio Guanabara, onde já recebeu o apoio do brigadeiro Eduardo Gomes. E adiantavam outras fontes que, ao contrário do que fôra noticiado, o general Amaury Kruel, Comandante do II Exército, permanecia leal ao Govêrno Goulart.

A Rádio Inconfindência de Minas Gerais, a serviço do movimento democrático, noticiava, hoje de madrugada, que a reação Iniciada naquele Estado já contava com o apoio efetivo dos governadores Ney Braga, Paraná; Ildo Meneghetti, de RGS; Carlos Lacerda, da GB; e Ademar de Barros. de São Paulo.

O deputado Hercules Correia, da GB, Secretário Geral do CGT, foi prêso, à noite de ontem.

O Comandante do IV Exército, general Justino Alves Bastos, e o Comandante do III Distrito Naval, Vice-Almirante Augusto Rocha Dias Fernandes, acabam de distribuir nota solidarizando-se ao II e III Exército, e às guarnições federais de Minas Gerais.

O Sindicato de Construção Civil de Brasília está convocando todos os reservistas de primeira e segunda categorias a comparecerem à sede do mesmo, à 11 horas de hoje, a fim de se alistarem para defender o govêrno do sr. João Goulart.

O Sindicato dos Alfaiates de Brasília, em nota oficial, apoia o presidente Goulart. Na mesma nota, afirmam que entraram em greve, em sinal de solidariedade, desde a manhã de hoje.

O general Nicolau Fico, Comandante Militar de Brasília e da Décima Primeira Região Militar, distribuiu a seguinte nota:

"O Comando Militar de Brasília e Décima Primeira Região Militar, fiel às suas tradições legalistas, no cumprimento de seus deveres e cônscio de suas responsabilidades para com a Nação Brasileira, se mantém coeso em tôrno do Excelentíssimo Senhor Presidente da República, doutor João Belchior Marques Goulart, e demais autoridades legalmente constituídas, apelando para povo de Brasília, a fim de que demonstre ainda uma vez mais seu alto espirito de patriotismo, mantendo-se nesta difícil conjuntura da vida nacional em perfeita calma, cooperando assim com as autoridades do governo na manutenção da ordem. Cumpre, ainda, informar que todas as medidas adotadas até o presente momento por êste comando visa, exclusivamente, a integral segurança e do bem estar da população de Brasilia e de suas cidades satélites".

Rádio de São Paulo anunciou que a Base Aérea de Campo Grande e o Il Batalho de Fronteira aderiram ao movimento liderado pela IV Região Militar sediado em Minas Gerais.

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Pronunciamento do governador Távora

O governador Virgílio Távora fêz à imprensa o seguinte pronunciamento:

"Creio não precisar dizer que considero grave a situação nacional. Os movimentos de insubordinação e indisciplina que se vêm registrando nas Fôrças Armadas e em outros setores da vida nacional dão a medida dessa gravidade.

Na minha vida de militar e homem público, aprendi que a disciplina e a liberdade se completam e são, ambas, os fundamentos maiores da ordem e do progresso democráticos.

No momento em que desaparecem a hierarquia e o direito de opção, chega-se ao cáos e à desordem, desencadeando-se então as fôrças insopitáveis do ódio e do ressentimento que lançam inevitàvelmente empregados contra empregadores, soldados e sargentos contra oficiais. Minha posição continua imutável: ao lado do regime democrático. Nêle fui formado e nêle desejo viver.

A democracia não é de nenhum modo, conflitante e incompatível com a execução das reformas de base, que sempre defendi e continuarei a defender, como indispensáveis à evolução do povo brasileiro.

Tais reformas não são apenas necessárias e prementes, mas devem ser realizadas em clima de paz, concórdia e mútua compreensão.

No Ceará, o Govêrno tem executado e continuará executando, de modo firme e inarredável uma administração baseada no planejamento e na justiça, em nome do interêsse coletivo, sem permitir desordens nem agressões geradas do ódio entre as classes.

Repito o que já disse várias vêzes: no extremo limite das minhas fôrças, o Govêrno do Ceará manterá a paz e a tranquilidade social.

Entendo que outro não poderá ser o caminho de todos os que detêm uma parcela do Poder neste País.

Ainda é tempo de restaurar a paz exigida pela família brasileira.

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