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30 ANOS DOREAL
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A história do Ceará e do mundo desde 1928, narrada pelas lentes do acervo de O POVO

30 ANOS DOREAL

A entrada em vigência de uma nova moeda representou uma das viradas mais positivas da história econômica do Brasil
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Foto: opovo e historia OITD_19940701aa01.jpg

* desde 1928: As notícias reproduzidas nesta seção obedecem à grafia da época em que foram publicadas.

 

30 de junho de 1994

Real começa valendo CR$ 2.750,00

O Real chega amanhã valendo CR$ 2.750,00, valor fixado ontem pelo Banco Central para a última Unidade Real de Valor (URV). Será este o fator de conversão do Cruzeiro Real para o Real . A operação é simples. Basta dividir o valor em Cruzeiros Reais por CR$ 2.750,00. A variação da URV este mês foi de 46,60%, um pouco acima da taxa média mensal de 46,28% registrada entre os índices de inflação do IGP-M, FIPE e IPCA-E. Segundo economistas, o fator de conversão para a nova moeda foi equilibrado e não deixa perdedores nem ganhadores.

 

País terá Cruzeiro Real e Real valendo até o dia 15

Até o dia 15 de julho o cruzeiro real continua sendo aceito como meio circulante. Este período é o mesmo válido para troca de moeda nos bancos. Todos os estabelecimentos estão obrigados a receber o cruzeiro real durante este período. A conversão para o real será feita tomando como base a URV de hoje, ou seja, a divisão do total em cruzeiros reais pela URV fixada para hoje pelo Banco Central. Ao final do período de troca de moeda nos bancos, os cruzeiros reais ainda serão trocados, mas apenas nas delegacias regionais do Banco Central. De 1º. a 15 de julho, cruzeiros reais poderão ser trocados por reais em qualquer agência da rede bancária oficial ou privada, que atenderão também quem não for cliente. O governo poderá ampliar o prazo de validade dos Cruzeiros Reais para até o final de julho.

Na hora de receber o troco ou pagar é preciso conhecer a regra de conversão em real. Para pagar em cruzeiros reais uma mercadoria com preço expresso em reais é necessário multiplicar o valor em reais pela URV de hoje. Se você entregou uma quantia maior que o preço do produto, o troco em real será o resultado da divisão do total entregue em cruzeiros reais pela URV de hoje, subtraído pelo total da compra em reais.

OITD_19940630aa01.jpg(Foto: opovo e historia)
Foto: opovo e historia OITD_19940630aa01.jpg

1º de julho de 1994

Moeda: patrimônio nacional - Editorial

Hoje, o Brasil inicia nova trajetória econômica, a partir da mudança de seu padrão monetário, pelo menos é o que pretendem os formuladores do Real. A expectativa, como não poderia deixar de ser, é muito grande, pois existe uma aspiração unânime na alma nacional: pôr um fim à ciranda financeira e à inflação galopante .

Poucos países pagaram um tributo tão grande e tão prolongado à inflação como o Brasil. Aqui, a cultura inflacionária enraizou-se de uma forma tão avassaladora que perdemos por completo a memória do tempo em que vivíamos dentro de padrões inflacionários normais, quase imperceptíveis ao quotidiano da população. O pior de tudo foi o processo de mascaramento do mal, chegando-se a um ponto em que as pessoas passaram a apostar na inflação, estabelecendo com ela um pacto diabólico que permitisse uma sobrevida ilusória aos seus sonhos e aspirações de uma vida melhor.

O mecanismo utilizado pelos aprendizes de feiticeiro foi a indexação da economia. Através dele a população deixou de visualizar, de forma mais direta, os efeitos perversos do processo canceroso que devorava minguados ganhos, tornando seus salários uma mera ficção. Os aumentos nominais dos salários constituíam-se num artifício enganoso, que foi se tornando cada vez mais inviável pelo fato de, a uma certa altura, não possibilitar ao trabalhador, sequer, a ilusão de uma recomposição momentânea de seu poder de compra. Entre o anúncio do reajuste e o dia do pagamento, diluíam-se como por encanto os pretensos ganhos obtidos.

Se os assalariados não tivessem o anteparo desse recurso ilusório, há muito teriam percebido a verdadeira face do monstro que lhes sugava, num átimo, o pouco amealhado pelo suor de seu rosto.

A inflação brasileira teve também o condão de criar um apartheid nunca visto por estas bandas, fazendo surgir cidadãos de primeira e segunda classe. Os primeiros foram aquinhoados com moedas mais fortes que lhes permitiam escapar das conseqüências mais corrosivas da deterioração inflacionária. Tinham à sua disposição um punhado de alternativas de aplicação no mercado financeiro capazes de gerar-lhes compensações diárias . Outros passaram a fazer fortuna apenas com a especulação financeira, através de um capital parasitário que bloqueava o desenvolvimento das forças produtivas. Ganhavam muito mais do que os dedicados ao processo de produção, levando em conseqüência ao aguçamento da própria crise econômica, pois não ampliavam o mercado de trabalho - vez que não gerava empregos - e, conseqüentemente, restringiam o próprio mercado consumidor, incrementando a crise social.

O Governo promete-nos uma moeda forte, capaz de devolver o orgulho aos brasileiros, que se desacostumaram da idéia de um padrão monetário poderoso. Ora, um dos patrimônios fundamentais de uma nação é a sua moeda. Esperamos que as autoridades responsáveis saibam tomar as medidas necessárias para lastrear a decisão de nos dar uma moeda de vergonha. É preciso, dentre outras providências, que o Banco Central realmente cumpra a sua função de principal zelador do Real. Tal é o papel de uma instituição desse porte em qualquer nação séria.

 

Com o real, a estabilidade para o Brasil - Itamar Franco

Nesta sexta-feira, os brasileiros começam a trocar trinta anos de inflação pela oportunidade de um futuro de ansiada estabilidade. Ao entrar nas agências para transformar seus cruzeiros reais em Reais, cada cidadão vai estar fazendo muito mais do que uma simples operação bancária. É toda uma cultura da inflação que começa a cair por terra. O próprio ato da troca da moeda - a maior operação desse porte de que se tem notícia desde a invenção do dinheiro - assume neste momento a condição de uma grande renovação nacional. Mesmo no anonimato, sem saber, quem estiver trocando seu dinheiro estará dando com o Brasil um passo decisivo para mudar definitivamente o nosso modelo de desenvolvimento econômico e social e dar ênfase, como se deve, à redistribuição da renda e à melhoria dos indicadores sociais brasileiros.

O Real chega para coroar um processo de transformação da economia brasileira chamado Plano Real. Como alguns dos planos anteriores, o Plano Real veio atender um reclamo da sociedade brasileira e da maioria dos seus agentes econômicos em favor de uma política econômica que acabasse com os altos índices da inflação e permitisse a retomada sustentada dos investimentos produtivos e a geração de empregos, provavelmente a maior prioridade do nosso povo. Mas as semelhanças param por aí.

Ao contrário de planos anteriores, o Plano Real preparou cuidadosamente a troca da moeda. Todos se lembram de como em outras ocasiões a nova moeda - sempre à base de um corte de três a zeros - era apenas uma entre as muitas medidas que constituiam os planos e que eram anunciadas em meio a uma grande confusão, a muita perplexidade e por vezes desagradável surpresa. A idéia de choque era mesmo a que melhor descrevia aquelas iniciativas. No Real, não. Tudo foi preparado, anunciado e implementado gradativamente, dando-nos tempo para avaliar o impacto das medidas e as reações. E para fazer as correções necessárias.

Em meses de trabalho que muitas vezes geraram até uma certa angústia por resultados que demoravam a chegar - para que pudessem ser duradouras -, construimos e desenvolvemos as condições fundamentais para pôr o plano em marcha Reestruturamos as finanças públicas, equilibramos o orçamento para 1994 e 1995, com o Fundo Social de Emergência. Resolvemos a questão da dívida externa e normalizamos as nossas relações financeiras internacionais. Acumulamos níveis sem precedentes de reservas. Reduzimos os indexadores a um indexador único para todos os preços e tarifas, a URV, passo fundamental para poder extinguir a indexação automática e restabelecer a relatividade entre os preços da economia. Nesse processo, tivemos ampla participação do Congresso e discutimos o plano com a sociedade, através da imprensa e de contatos diretos com partidos, representações sindicais, lideranças civis.

E além disso, temos a maior safra agricola da nossa história, a economia tem um grau de abertura adequado para permitir maior competitividade no mercado interno brasileiro e estamos crescendo moderamente, com possibilidade de ampliar a produção sem bater nos limites da nossa capacidade.

Com essas condições básicas preenchidas, estamos lançando uma moeda forte. Sua força não decorre de um ato de vontade política ou de uma crença cega no acerto das outras medidas. Ela vem da realidade de normas rígidas de emissão e de lastro, do controle dos gastos públicos e do equilibrio fiscal. Vem também da determinação do Governo de levar o plano de forma coesa, apostando forte na estabilidade como a mais importante contribuição que poderemos dar para a retomada sustentada do desenvolvimento brasileiro.

 

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