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44 ANOS DA MORTE DEVINICIUS DE MORAES
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A história do Ceará e do mundo desde 1928, narrada pelas lentes do acervo de O POVO

44 ANOS DA MORTE DEVINICIUS DE MORAES

Vinicius viveu conforme o que escrevia. Sua adoração pelas mulheres - nenhum outro poeta brasileiro cantou com tanta intensidade e fervor suas maravilhas - o levou a casar "oficialmente" 8 vezes, das quais resultaram 5 filhos
Morre Vinicius de Moraes. (Foto: OPOVO.DOC)
Foto: OPOVO.DOC Morre Vinicius de Moraes.

* desde 1928: As notícias reproduzidas nesta seção obedecem à grafia da época em que foram publicadas.


10 de Julho de 1980

Morre o poeta do amor: Vinicius de Moraes

"Quem pagará o enterro e as flores se eu morrer de amores". Poeta irreverente, anticonvencional, Vinícius de Moraes na sua poesia "A Hora Intima" também colocava o caminho do amor (por onde palmilhou a vida toda) em momentos de pensar na morte. O "Poetinha", como era carinhosamente conhecido faleceu, ontem, aos 66 anos, de edema pulmonar agudo, em sua residência, na Gávea (Rua Frederico Eyer, 149, Casa III) no Rio de Janeiro.

Até às 4h30m de ontem, ele compunha músicas infantis, de parceria com Toquinho. Foi dormir e às 6h começou a sentir-se mal.

Os primeiros socorros foram prestados pela vizinha Angela Wanderley, que mora no nº 138 e é médica ginecologista. Ela tomou a sua pressão e aconselhou seus parentes a chamarem uma ambulância. A primeira solicitação foi feita para o Centro Médico Copacabana, mas como o atendimento demorava, foi chamado o Prontocor, que chegou às 7h. mas Vinícius de Moraes já estava morto.

A principio circulavam boatos de que o corpo de Vinicius de Moraes seria transladado para São Paulo, porque ele manifestara o desejo de ser cremado. Depois de que o corpo seria levado para o Museu da Imagem e do Som, de onde foi Diretor, mas sua mulher, Gilda, não quis que o corpo do marido ficasse exposto em lugar público, preferindo levá-lo para a sala nº 2 da capela Real Grandeza.

A imprensa não teve acesso a casa de Vinicius de Moraes e os jornalistas não sabiam ao certo para onde iria seu corpo. As 11h10m chegou uma kombi da Santa Casa e seu motorista informou que o corpo iria para a sala no. 2 da Capela Real Grandeza, desfazendo, assim, os boatos anteriores.

A saída da urna, da casa do compositor para a capela, D. Gilda não conseguiu fazer nenhuma declaração. Toquinho nem acompanhou o corpo do parceiro, tal o seu estado emocional. Ele ficou na casa de Vinicius de Moraes, onde está hospedado, para descansar um pouco.

O primeiro amigo a chegar foi o crítico de música Tarso de Castro. Ana Beatriz, mulher de Tom Jobim, chegou logo depois, seguido de Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos e da Cantora Elizete Cardoso.

E que não forma poucos.

Dono de sua vida e dos seus atos, Vinícius quebrou todos os cânones e regras do seu tempo. Rompeu com o itamaraty (para quem sempre foi um "Enfant Gate"/ rompeu com a própria poesia academicista e glamourizada. Nunca se filiou a esse ou aquele movimento. Rompeu até com cronogramas que os médicos lhe impunham. Nunca recusou um bom copo de vinho, um bom gole de whisky, uma bela mulher.

Da irreverência que marcou o seu florescimento, época de Los Angeles, San Diego, Nova Iorque. Época em que aquele jovem consul brasileiro efervescia a cabeça dos cronistas sociais ao ser visto sempre em companhia de atores, atrizes, musicos e poetas. Era um "sonhador". Daquela irreverencia que nunca o largou, uma imagem de eterna liberdade. Marcus Vinícius Cruz de Moraes foi um sujeito bafejado pela vida, pela expectativa da vida. Pelas solicitações da existencia, e aceitou todas essas solicitações, viveu todas essas expectativas.

Artista completo, no sentido de ter-se metido em todas as postulações da arte, artesão do seu oficio, o velho Vinicius teve um unico objetivo: o amor. Em sua poética, o amor sempre foi a mola que movia tudo.

Lembrou de uma imagem do "Paradizzo" danteano: ao sair para contemplar o "Primo Mobile", Dante usa a imagem da roda mística: "O amor que move o céu como as estrelas". O amor, esse sentimento mágico do mundo, essa "coisa" indefinivel que liga e religa as pessoas, sempre marcou todas as frases, fases e sentenças de Vinicius. Os seus sonetos-feitos maior parte em sua fase inglêsa, quando ainda servia como diplomata na embaixada brasileira em Londres - são uma nitida dessacralização do ideado por Petrarca. Uma sucessão das mais finas e agudas rimas harmônicas da nossa literatura, redenção maior de um ritmo poético - o soneto é um ritmo - que, de tão mal-usado, terminou em desgaste e diluição. Na musicalidade de sua poesia, a tentativa maior, de captar a musica do interior, da emoção pura e cistalina que se sucede a poesia brasileira oscilava entre os feitos modernistas, entusiasmadas com os "ismos" europeus (dadaismo, fauvismo, cubismo etc, etc.) e, ao mesmo tempo, e por questões políticas, envolvidas com um nacionalismo exacerbado (o movimento da anta, o movimento Pau Brasil, e tantos xennofobismos oriundos da "novidade" modernista). Com uma poética de cheiro e cor dialogais, Vinicius desceu a rua, subiu ao morro. Enveredou pelo teatro e criou um clássico: "Orfeu da Conceição", posteriormente imortalizado no filme de Marcel Camus "orfeu do carnaval".

Vinicius de Moraes nasceu na madrugada de 19 de outubro de 1913, no antigo numero 114 (casa já demolida), da Rua Lopes Quintas, na Gávea.

Adoração pelas mulheres

Vinicius viveu conforme o que escrevia. Sua adoração pelas mulheres - nenhum outro poeta brasileiro cantou com tanta intensidade e fervor suas maravilhas - o levou a casar "oficialmente" 8 vezes, das quais resultaram 5 filhos - e mulheres.

OP É HISTÓRIA 01(Foto: OPOVO.DOC)
Foto: OPOVO.DOC OP É HISTÓRIA 01

 

19 de julho de 1980

Vinicius de Moraes será nome de rua

Rio - O prefeito Júlio Coutinho, a frente da banda de Ipanema, com 800 participantes, inaugurará 2ª feira às 17 horas, a Rua Vinícius de Moraes, antiga rua Montenegro, com a festa tradicional do bairro e do Rio, que só acontece três vezes por ano, quando a banda sai: sábado, 15 dias antes do carnaval, sábado de carnaval e terça-feira de carnaval.

Será a homenagem póstuma mais festiva da história de Ipanema. O bar "Garota de Ipanema", onde o poeta teve a inspiração da música e a escreveu na porta do banheiro, está de luto. E esse luto valeu ao dono, José Alves da Costa, lucros extras.

Sobre a porta onde Vinícius escreveu a letra foi colocada uma tarja negra que será retirada 6a feira, depois da festa, mas podendo continuar até segunda-feira. O noticiario sobre a morte do poeta e suas afinidades com o bar levaram até ao "Garota de Ipanema", muita gente curiosa, inclusive a imprensa estrangeira.

A festa de 6a feira, patrocinada pela Fundação Rio, promovida pela Banda de Ipanema e apoiada pessoalmente pelo prefeito Júlio Coutinho, será um acontecimento excepcional, digno somente de Vinícius de Moraes.

A idéia é fazer Ipanema a terra que o poeta cantou em prosa e verso e viveu intensamente reviver seu maior momento.

 

OP É HISTÓRIA 02(Foto: OPOVO.DOC)
Foto: OPOVO.DOC OP É HISTÓRIA 02

 

10 de julho de 1981

Saudades de Vinicius de Moraes

Há um ano (foi ontem) morria Vinícius de Moraes. A falta que ele fez à vida boêmia do Rio de Janeiro foi tamanha que se estabeleceu um vazio no mundo que é a cidade maravilhosa. Seresteiros e violões choraram nos bares, nos morros, nos clubes, em toda parte. Parava um dos corações mais doces do Brasil. Mas, não apenas o Rio ficou triste. Aqui também a gente se comoveu. O País inteiro sentiu. De nossa parte, lembramo-nos de setembro de 77, quando ele veio aqui e se hospedou no Colonial Praia Hotel. Foi lá que o entrevistamos. Uma entrevista com gosto de uisque e no embalo de muito bom humor, poesia e canção. Saudades de Vinícus. Um ano de saudade. A lembrança é a grande homenagem que prestamos, póstuma.

 

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