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Brasil perde a finalda Copa no Maracanã
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A história do Ceará e do mundo desde 1928, narrada pelas lentes do acervo de O POVO

Brasil perde a finalda Copa no Maracanã

Na copa de 1950, após a derrota para o Uruguai, numerosos torcedores desmaiaram no estádio, diante da tragédia assinalada pelo placard. Milhares de pessoas desfilaram, caladas, como acompanhando um enterro
Brasil perde a finalda Copa no Maracanã em 1950.  (Foto: O POVO É HISTÓRIA)
Foto: O POVO É HISTÓRIA Brasil perde a finalda Copa no Maracanã em 1950.

* desde 1928: As notícias reproduzidas nesta seção obedecem à grafia da


17 de julho de 1950

O tragico 2x1 repercutiu como um dobre de finados na alma esportiva do Brasil

Rio, 17 - Asapress - Os jogadores brasileiros estão desolados em face da perda do titulo maximo do futebol mundial. Os cariocas não se conformam com o fato de haver a nossa equipe chegado a finalissima, com quase todas as possibilidades de sair campeã da jornada, pois que lhe bastava um empate com os orientais. E esta inconformação ainda mais se acentua, quando se recorda que, depois de haver o nosso quadro consolidado tal situação, com a conquista do primeiro goal, permitiu fosse envolvido pelos uruguaios de forma tão decepcionante.

A derrota do quadro brasileiro é assunto principal das conversas nos bondes, nos ônibus, nos cafés e nas esquinas de ruas, não faltando imprecações contra o tecnico Flavio Costa, acusado, entre outras coisas, de "teimoso", por haver insistido na escala de certos elementos e pela ausencia de uma orientação tecnica condizente, senão com a classe, pelo menos com a especie de adversario que tivemos de enfrentar em partida decisiva, conhecedor das táticas, manhas e padrão de jogo dos brasileiros.

Já ontem, logo após o termino do jogo, numerosos torcedores desmaiaram no estadio de Maracanã, diante da tragédia assinalada pelo placard, sendo que o sargento da Marinha João Soares da Silva, não resistindo ao choque proporcionado pela vitoria dos uruguaios, tombou fulminado por um colapso cardiaco.

Para agravar a situação, á noite, um grupo de torcedores, mais exaltados, teve séria desinteligencia com alguns turistas uruguaios que vieram ao Rio para assistir á importante peleja, degenerando isso num conflito. Foi necessaria a intervenção da radio patrulha e das autoridades policiais do 4º Distrito, a fim de que se restabelecesse a ordem, pois o povo, a certa altura, já planejava depredar as dependencias do hotel onde se encontravam os orientais, o City Hotel.

Surpreendente vitoria dos uruguaios

No futebol existem coisas imprevisiveis. Dai por que, é comum dizer-se que no "association" não há lógica. Esta, se prevalecesse, o Brasil não teria perdido o titulo de campeão mundial, ontem á tarde, para o Uruguais. Julgava-se que a representação nacional, depois dos brilhantes triunfos alcançados sôbre a Espanha, por 6 x 1 e a Suécia, por 7 x 1, passasse folgadamente pelos orientais, que não foram além de um empate com os bascos, de 1 x 1 e uma vitoria bizonha, frente aos escandinavos, por 3 x 2. Talvez pelo excesso de otimismo, que levaram os comentadores a fazer prognosticos acerca do favoritismo dos brasileiros, tivemos a dolorosa decepção de ver o campeonato fugir de nossas mãos, quando poderiamos tê-lo conseguido com um simples empate. Encontrando a resistencia que não esperavam, os brasileiros ficaram atônitos, sem poder realizar o que fizeram diante do adversarios tão perigosos como os orientais. E depois de abrir a contagem, esperaram certamente a goleada que não veio, pois os uruguaios mostraram a sua bravura, pondo á mostra a sua tradicional fibra e o seu espirito de combate. Perdeu, assim, a equipe nacional uma oportunidade como nunca mais encontrará para ser detentora do cetro do futebol mundial. Enquanto isso, o Uruguai praticou feito espetacular, talvez o maior de sua história esportiva, conquistando pela terceira vez "o titulo de campeão universal". Como bons desportistas, resta-nos reconhecer o valor do adversario.

Quanto á parte técnica da peleja, realizada ontem no Estadio de Maracanã, não se pode dizer que os uruguaios foram superiores aos brasileiros. Pelo contrario, mostramos até um futebol mais vistoso, organizando mais um numero de ataques, a ponto de obrigar os defensores da casa azul celeste a fazerem doze escanteios contra dois nossos, porém, mais inteligencia da parte dos orientais, que atuaram para o "placard", porque em futebol são as bolas nas rêdes que decidem. Empregaram os orientais, na pugna de ontem, tôda a sua malicia e, sobretudo, a sua tradicional valentia. Jogaram com mais sangue, com mais alma e mais ardor. Foi por isso que superou a representação brasileira, mesmo esta atuando sob o calor de uma assistencia entusiasta, calculada em quase 250 mil pessoas. Perdemos porque persistimos nos erros do passado, quando enfrentamos os uruguaios e argentinos. Fizemos um futebol para a assistencia, quando poderiamos ter sido mais objetivo. Tivessem os uruguaios, no decorrer da pugna de ontem, as oportunidades que tiveram os brasileiros, o marcador teria acusado uma derrota muito mais deprimente para as cores nacionais.

Depois de um primeiro tempo disputado palmo a palmo, em que os jogadores deram tudo, sem fazer o "placard" funcionar, tinha-se a impressão de que os quadreiros retornariam a campo esgotados, principalmente os orientais, que desenvolveram esfôrço gigantesco para conter as investidas de nossos dianteiros. Mas no segundo tempo, voltaram os dois quadros a campo, cada qual com mais ardor. Aos 2 minutos de luta, Friaça assinalou o "goal" do Brasil. Esperava-se que com a abertura da escore os orientais esmorecessem, pois com o empate estariam liquidados, ficando o titulo com o Brasil. Mas o que se viu foi justamente o contrario. Os uruguaios lançaram-se á luta com alma e bravura, dando uma demonstração de pujança, prontos a alcançarem o triunfo, que não tardou. Schlaffino, recebendo um centro de Gigghia, que passara por Bigode, assinalou o tento do empate. Aos 33 minutos, aproveitando outra falha de Bigode, Giagghia, o veloz ponteiro oriental, conseguiu vencer pela segunda vez a vigilancia de barbosa. O restante do tempo foi dramatico. Lançaram-se os brasileiros com todo o impetido, mas já tardiamente, pois os orientais limitaram-se á defesa, lançando bolas para fora, impedindo a tiragem de faltas, enfim, utilizando-se de todos os recursos para a "cêra". Finda a peleja, o maior publico já visto numa praça de esportes do Brasil, retirou-se desolado, como se estivesse acompanhando o próprio enterro do futebol brasileiro, cuja representação, momentos antes, era tida como campeã do mundo.

Foram estes os times:

URUGUAI - Maspoli, Mathias e Tejera; Gambeta, O. Vareja e Rdriguez Andrade; Gigghia, Jua Perez, Miguez, Schiaffino e Moran.

BRASIL - Barbosa, Augusto e Juvenal; Bauer, Danilo e Bigode; Friaça, Zizinho, Ademir, Jair e Chico.

O juiz da peleja, Mr. Reader, da Inglaterra, teve bom desempenho, permitindo entretanto que os uruguaios utilizassem-se do jogo carregado de "trucs". Não se pode, porém, responsabilizá-lo pela derrota, pois se os brasileiros tivessem a mesma fibra dos orientais teriam, de certo, confirmado o seu favoritismo.

A renda constituiu novo "record" mundial: Cr$ 6.272.959,00


17 de julho de 1950

O manto da tristeza cobriu a metropole do país

Rio, 18 - (Asapress) - A cidade recebeu a noticia da derrota dos brasileiros com verdadeiro pesar. Cessaram os comentários sobre o jogo. Pelas ruas principais da cidade milhares de pessoas desfilaram, caladas, como acompanhando um enterro. O aspecto da cidade é tristonho, pois ninguem conforma-se com a derrota do Brasil, apesar dos uruguaios terem jogado com mais fibra e denodo. Venceram porque souberam melhormente aproveitar as oportunidades. Os brasileiros limitaram-se a fazer um jogo mais vistoso. Temos a assinalar, entretanto, que a sorte tramou contra nossas cores, na última cartada, justamente quando mais dela precisavamos para a conquista do título de campeão.

Decepção das decepções

Rio, 18 (Asapress) - É impossível descrever-se o ambiente de desolação em que se encontra a cidade, principalmente os torcedores. Muitos deles, que dormiam no estádio de Maracanã, a fim de conseguirem melhores acomodações, por serem os mais ardorosos, sofreram horrivelmente. Aqueles que vieram de outros Estados, principalmente de São Paulo, pois nada menos de 2.500 automoveis entraram no Distrito Federal, voltaram inconformados.

O maior feito do futebol oriental

Rio, 18 - (Asapress) - Era indiscritivel, ontem á noite, o ambiente de alegria entre os uruguaios. Membros da embaixada oriental, dirigentes da delegação e jogadores confraternizaram-se dentro da mais viva emoção. Os orientais consideram a vitória de ontem, sobre o Brasil, como o maior feito do futebol oriental.

Tristeza e lágrimas

Rio, 18 - (Asapress) - No vestuário dos jogadores brasileiros, logo após o jogo, reinava absoluta tristeza. Alguns jogadores, como Ademir, Augusto e Bauer não esconderam as lágrimas. Flávio Costa, por sua vez, não articulava uma palavra. O silêncio dominava como num velório.

 

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