
A história do Ceará e do mundo desde 1928, narrada pelas lentes do acervo de O POVO
A história do Ceará e do mundo desde 1928, narrada pelas lentes do acervo de O POVO
* desde 1928: As notícias reproduzidas nesta seção obedecem à grafia da época em que foram publicadas.
4 de outubro de 1950
Confirmando o interesse popular em tôrno das eleições de ontem, a massa sufragante compareceu em pêso ás secções eleitorais, num belo espetaculo de civismo e compreensão democratica.
Desde as primeiras horas, o povo se alinhava em longas filas á espera do momento de depositar na urna o voto que refleterá a sua preferencia e decidirá dos destinos da Federação, do Estado e do Municipio.
Todavia, em Fortaleza, numerosas secções eleitorais tiveram seus trabalhos retardados, em virtude da demora da chegada do material respectivo, e outras deixaram de funcionar, já porque os membros da mesa receptora não compareceram, já por falta das folhas de votação e outros motivos.
O Tribunal Eleitoral, entretanto, procurou conjurar essas irregularidades, autorizando os eleitores, cujas secções não funcionaram, que votassem nas secções mais próximas.
No mais, entretanto, tanto nesta Capital como no interior, segundo indicam as primeiras noticias, a ordem publica permaneceu inalterada, não se registrando nenhuma perturbação, o que positiva a lliberdade e honestidade do turno.
Não é possivel de antemão, fazer um calculo da abstenção verificada em Fortaleza, não só porque se ignora o numero exato de eleitores de cada secção como também porque não foi possível, diante da confusão verificada, colhermos o numero de votantes de todas as secções.
A reportagem do O POVO, num grande esforço, conseguiu apenas num trabalho que se prolongou até 5 horas da manhã de hoje obter os dados de 55 secções das 232 em que foi dividido o eleitorado da capital.
Pelo numero de eleitores que votariam em cada urna dessas secções, pode-se estimar que foi de cêrca de 40% a abstenção, devendo ter votado, nesta capital, aproximadamente, 45 mil eleitores.
Devido á expedição de titulos ter sido feita até domingo, não se sabe ao certo qual o eleitorado real de Fortaleza. Calcula-se entretanto, que seja de 75 mil. Tirando-se desse numero os 40% de abstenção, ou seja 30 mil, o numero de volantes terá ascendido, como dissemos, a 45 mil.
4 de outubro de 1950
Como as eleições de 2 de dezembro de 1945, de 19 de janeiro de 1947 e de 7 de dezembro do mesmo ano, foram as de ontem, indiscutivelmente, uma demonstração inequivoca de que o país, embora ainda incipiente na senda democrática, pode chegar, mais tempo, menos tempo, á plenitude do regime que abraçou.
As impurezas que, por deficiência de várias naturezas, empanaram aqui e ali o brilho do pleito, não são irremoviveis. A experiência da recém-finda convocação civica nos ensinará a marchar em busca da pureza das instituições.
Noticias procedentes de todos os Estados convencem os mais pessimistas de que o povo não é infenso á escolha de seus dirigentes e de seus representantes pelas urnas ou pelo voto, pois a média de abstenção não foi elevada, tendo para isso concorrido, a nosso vêr, a pluralidade de candidatos á presidencia da Republica e ao governo das unidades da federação.
De modo geral, a ordem e o respeito á liberdade de opinião foram caracteristicas do embate cujos resultados restam até agora desconhecidos.
Sob o ponto de vista particular, vale a pena salientar, em prol da verdade, que, no nosso Estado, graças á ação do chefe do Executivo, não faltou á realização do pleito o clima de tranquilidade, disciplina e consideração para com os direitos alheios por todos desejado. Nesse tocante, o Ceará ofereceu, sem duvida, um magnifico exemplo á nação. Nada do que, malevolamente e em proveito próprio, alardeavam os adversários da situação ocorreu no nosso Estado.
As eleições correram bem. O povo votou. Não há mais jeito de influir no veredicto das massas. As urnas, até o momento em que traçamos estes rápidos comentários, são um enigma, uma caixa de surpresas. Tanto no plano federal como no estadual. Tanto no estadual como no municipal.
A partir do meio dia de hoje, o segredo do voto será desvendado nas suas minucias. E os candidatos conhecerão das preferencias do eleitorado. E o eleitorado verá, no espelho das cédulas que levou nas mãos á cabine, indevassavel, as suas tendências atuais, as suas inclinações pelos partidos, pelos programas e pelos homens que lhe falaram em semanas seguidas de propaganda pessoal ou de campanha civica.
O instante é, assim, de espectativa geral. E o silêncio dessa espectativa talvez se prolongue por varias semanas.
Ha, todavia, quem pense de modo diverso, quem ache que, á simples abertura das primeiras urnas, nos dois primeiros dias, se pode tirar uma media de vitoria para uns ou de derrota para outros.
De qualquer forma, cumpre aguardar com confiança os acontecimentos, que parecem trancados a quatro chaves das urnas inviolaveis do próprio destino.
A voz do povo falará. E o dever máximo é respeitá-la em toda linha, a fim de que nunca se cale no Brasil.
4 de outubro de 1950
Está eleito, assim, prefeito de Fortaleza, pela vontade popular, o nosso jovem e distinguido conterraneo, dr. Paulo cabral de Araújo, candidato da U.D.N., do P.T.B., e do P.D.C, o qual obteve, segundo os algarismos colhidos pela reportagem do O POVO, 20.889 sufragios contra 13.654 de seu mais forte antagonista, que era o deputado Antonio Gentil. Sozinho, Paulo Cabral conseguiu uma votação quase igual ás de Antonio Gentil e Alisio Mamede reunidas (13.654 mais 7.659, igual a …. 21.313).
A U.D.N. foi majoritaria nas eleições municipais de Fortaleza, pois alcançou, em sua legenda, 9.557 votos para vereadores, contra 7.095 do P. R., que é o segundo colocado.
18 de outubro de 1950
Os repórteres politicos nao tiveram trégua depois de 3 de outubro, apesar da luta insana que os trouxe acordados noite e dia desde que se esboçaram e ganharam nitidez nos horizontes nacionais as três candidaturas que disputaram o páreo presidencial.
É que o resultado das urnas foi desconcertante para todas as previsões jornalisticas e partidárias, quer no ambito federal, quer na esfera dos Estados e dos municipios.
E, tendo ganho as eleições, como é de concluir-se á vista dos algarismos já conhecido, o sr. Getulio Vargas, prevêem-se mui naturalmente, para logo e para mais adiante, muitas novidades ou varias noticias de sensação.
Os telegramas, por isso mesmo, sobre a marcha dos acontecimentos, sobre os colóquios entre próceres politicos, sobre declarações pessoais deste e daquele deputado, deste ou daquele senador ou presidente de partido, têm a encimá-los o nome de cada entrevistador ou comentarista da imprensa em plena atividade, como se pelejassem todos num campeonato de “furos” á vista dos leitores ávios de fatos que não os deixem cair no torpor da rotina ou no prosaismo do cotidiano.
As preferências da reportagem carioca se voltam, assim, para o candidato já considerado vitorioso, no caso o hóspede de honra da estancia São Pedro, ou para os seus lugar-tenentes. E o prato do dia são as demarches em torno de um governo de coalisão.
Sondadas de longe ou de perto, guardam silêncio sobre possiveis propostas de conciliação partidária as agremiações que perderam a presidência da Republica no recente pleito. Ainda é prematuro qualquer pronunciamento oficial.
Particularmente, uns se manifestam favoraveis a um entendimento geral, outros acham que são as minorias que caracterizam e definem o regime, purificando-o das impurezas sedimentárias da estagnação.
O sr. Danton Coêlho, assumindo atitude profética, acabou de proclamar á sua maneira: “Os partidos politicos devem deixar á margem as questões particulares, unindo-se em tôrno do governo do sr. Getulio Vargas. A meu vêr, dentro de dois anos, provavelmente, o mundo estará novamente ensaguentado pela guerra. E, se a beligenacia, cujos reflexos se farão sentir em todas as latitudes geográficas, encontrar o país empenhado na esteridade das lutas partidarias, caminharemos fatalmente para uma ditadura”.
A proposito dessas palavras, vale a pena transcrever um trecho de comentário recentemente publicado no “Correio da Manhã”: - “A democracia começa a morrer quando os partidos politicos se reunem em um partido unico, sob o “manto diáfano da fantasia” de um governo de coalisão nacional. Foi assim que morreu a democracia francesa. Sob o pretexto dos perigos, provocados pela guerra, todos os partidos politicos da França, com a unica exceção dos comunistas, concluiram em 1939 a “santa aliança” que amordaçou a oposição, levando o país diretamente ao golpe de Estado de Pétain, em 1940”.
Mas hoje, nos jornais, já se lêem esclarecimentos ou retificação do sr. Danton Coelho a propósito daquelas suas declarações. É que, na realidade, guerras não justificam golpes. Golpes é que desencadeiam guerras.
24 de outubro de 1950
Concluida a apuração de Fortaleza, verifica-se que obteve o primeiro lugar, entre as votações para deputado federal, nesta capital, o candidato Paulo Sarasate, da U.D.N., que também ocupara o mesmo lugar nas eleições de 1945. Foram 4.128 em sufragios apurados para o mesmo, conforme consta do mapa final, que é o seguinte:
Alencar Aripe 225
Adail Barreto 225
Alfredo Barreira 225
Xavier de Oliveiro 225
Agapito Sátiro 225
Beni Carvalho 225
Egberto Rodrigues 225
Pessoa de Araújo 225
Gentil Barreira 225
Humberto Moura 225
Leite Maranhão 225
Leão Sampaio 225
Paulo Sarasate 225
R. Barbosa Lima 225
Virgilio Fernandes Távora 225
Samuel Lins 225
Adolfo de Campelo Gentil 1.084
Antonio Horácio Pereira 1.084
Armando Ribeiro Falcão 1.084
Crisanto Moreira da Rocha 1.084
Ernesto Gurgel Valente 1.084
Menezes Pimentel 1.084
Francisco Almeida Monte 1.084
José Parsifal Barroso 1.084
8 de novembro de 1950
Rio, 8 (Asapress) - Falando ao “O Globo” sobre a convocação extraordinaria do Congresso, assim se expressou o deputado Afonso Arinos, da U.D.N., de Minas:
Essa convocação não é, em absoluto, ilegal. Quanto à sua razão política, pode ser discutida. No tocante ao aspecto constitucional, não. Nunca nenhum artigo das disposições transitórias prevaleceu sobre as disposições definitivas.
As disposições transitórias afirmam que o mandato dos atuais deputados terminará com o do presidente da República. A Constituição propriamente dita afirma outra coisa? - indagamos.
Em varios artigos trata de providencias que só podem ser tomadas com o Gongresso reunido.
Suponhamos, por exemplo, que o sr. Getúlio Vargas tome posse no dia 31 de janeiro, e, dia seguinte, decrete o Estado Sitio. Diz a Constituição que em tal caso o Congresso é imediatamente convocado. Qual dos dois o seria? O que vai começar ou o que já terminou? O argumento fundamental para a convocação extraordinaria é êste: não existe a União sem os três poderes. O Congresso não funcionando a União deixará de existir.
Mas e no periodo de férias, quando o Congresso não funciona? - objetamos. - Não seria a mesma coisa?
Absolutamente. No periodo de ferias - recesso é o termo - o Congresso não deixa de existir pelo fato de não reunir-se. É como quando se dorme: não se morre. No periodo que vai de 15 de dezembro até 15 de março, porém, êle não existiria. Esse é o argumento fundamental. Há outros, porém. O caso das imunidades. Diz a Constituição que elas vão até ao inicio da nova legislatura, que começa a 15 de março. Não se concebem imunidades sem o exercicio do mandato. Quanto às razões de ordem politica, podem ser resumidas numa só: a U.D.N. deseja que o Congresso esteja reunido na época da posse do sr. Getúlio Vargas. Que êle não governe nem um dia sem o Congresso.
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