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O polonês Wojtyla reinará com o nome de João Paulo II
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O polonês Wojtyla reinará com o nome de João Paulo II

O cardeal polonês Karol Wojtyla é eleito papa da Igreja Católica. João Paulo II, nome adotado, foi o primeiro papa não italiano em 455 anos

* desde 1928: As notícias reproduzidas

nesta seção obedecem à grafia da

época em que foram publicadas.

João Paulo II, eis o nome escolhido pelo cardeal Karol Wojtyla, Arcebispo de Cracóvia, Polônia, depois de escolhido ontem, pelo Colégio de Cardeais, para ocupar o Trono de São Pedro. O novo chefe temporal da Igreja Católica não estava na lista de candidatos ao Papado, segundo os "vaticanólogos", e é o primeiro não italiano eleito papa em 455 anos.

João Paulo II é filho de operários. Ele próprio trabalhou numa fábrica, em sua juventude. É intelectual e poeta e desempenhou papel decisivo nas moderadas porém firmes reivindicações da Igreja Católica polonesa. O novo Pontífice é considerado um homem de reconciliação. É muito afável, fala o italiano e tem reputação de ser flexível.

Tal como seu antecessor, João Paulo II traz para o Vaticano vasta experiência pastoral, enquanto que sua experiencia administrativa no Vaticano é minima. Sua eleição foi considerada como um novo passo no processo de internacionalizar a Igreja Católica, movimento impulsionado pelo papa Paulo VI.

18 de outubro de 1978

João Paulo II e a paz - Editorial

A eleição de um papa não-italiano, quebrando uma tradição de quatro séculos e meio, tem suscitado as mais variadas interpretações, das quais as mais frágeis parecem ser aquelas que dão excessivo relevo ao fato de a escolha haver recaído em um cardeal polonês portanto, de um país que vive sobre regime comunista.

Realmente, é difícil admitir que o Colégio de Cardeais tenha sido motivado por considerações de natureza diplomática ou política, o que estaria, pelo menos nos tempos modernos, em contradição com a idéia de que a escolha sempre se faz sob as mais elevadas inspirações de natureza religiosa.

O que parece patente é que os cardeais seguiram a linha preconizada desde XXIII e fortalecida sob Paulo VI, de universalização da Igreja Católica, de um ecumenismo que não se manifesta apenas pelo bom relacionamento com outras confissões religiosas, mas que também tende a ignorar diferenciações geográficas, nacionais e étnicas.

O exclusivismo dos cardeais italianos dava a impressão da existência de um patriciado romano dentro da Igreja. E embora alguns purpurados achassem que não era ainda chegado o tempo de uma eliminação desse exclusivismo - declaração feita por um dos eleitores pouco antes do início do conclave - a verdade é que o tempo, realmente, já chegara como para salientar a capacidade de evolução da Igreja Católica, sua flexibilidade, sua capacidade de adaptar-se à realidade, à luz de suas necessidades missionárias.

Em relação à pessoa do cardeal escolhido o que se pode dizer é que ele corresponde, por sua experiência de vida, à bandeira de uma Igreja voltada essencialmente para a manutenção e o fortalecimento da paz mundial. Embora toda a Europa tendo sido castigada, em meio século, por duas guerras mundiais, o que afetou naturalmente a Cúria Romana, de modo direto e pungente não há dúvida de que foi a Polônia a nação mais martirizada sob a impiedosa bota nazista e que sofreu também ocupação soviética. Karol Wojtyla conheceu essa tragédia, dela participou, e ninguém melhor do que ele para saber o valor da paz, da liberdade, da preservação dos direitos humanos. Já sob o regime comunista num país arraigadamente católico, ele soube defender a liberdade religiosa com firmeza mas também com serenidade, contribuindo para que se estabelecesse uma coexistência respeitosa e pacífica entre o Estado materialista e os católicos poloneses.

Acreditamos que essa experiência de vida será de decisiva importância no reinado de João Paulo II, a desenvolver-se numa época de constantes ameaças à paz e que vai exigir do pontífice um empenho constante, uma vez que não silencie. Para apoiá-lo terá o exemplo de seus mais próximos antecessores que se fizeram apóstolos da concórdia universal, mas, sobretudo, a solidariedade de centenas de milhões de seres humanos ansiosos por paz e segurança.

20 de outubro de 1978

Papa rompe tradição nas nomeações

Cidade do Vaticano - Afastando-se da tradição, o papa João Paulo II deixou de escolher ontem os funcionário de seu gabinete, o que indicaria talvez uma mudança de estruturas no plano maior do governo do Vaticano, a Cúria.

Um porta-voz do Vaticano disse que provavelmente não haverá nomeações esta semana. É a primeira vez nas recentes transições papais que os chefes de departamentos da Cúria não são confirmados os submetidos imediatamente.

O novo Papa, segundo disse o referendo Vicent O'keefe, de alto posto na ordem dos jesuitas "imprimirá uma marca pessoal forte na Igreja", em lugar de "estender um manto de aprovação cega" aos antigos funcionários da Cúria.

Este homem, bem ao par do trabalho dos funcionários da Cúria e de suas respectivas situações, não será levado a aceitar situações sem antes examina-las detalhadamente. "Falará primeiro conosco e depois decidirá. Talvez até ocorra que alguns queiram renunciar a seus cargos", declarou o religioso.

Esta nova modalidade de esperar antes de tomar decisões relacionadas com o governo da Igreja rompe a tradição imposta pelos papas anteriores, seguido por João Paulo I, de nomear os funcionários dois dias antes de assumir o trono de São Pedro. Anteriormente, quando morria um papa, os mais altos funcionários da Cúria continuavam em suas funções automaticamente. Entretanto, sob uma nova constituição editada por Paulo VI, em 1975, determinou-se que os postos do gabinete ficariam vagos com morte de cada pava e que o novo pontifice elegeria seus ocupantes.

"João Paulo II tomará sua decisão pessoal sobre os postos vagos", disse o reverendo Paul Boyle, lider espiritual dos pastores.

Ministérios

Há nove congregações, ou ministérios no Vaticano, alem de uma complexa rede de secretariados e comissões, que administram os assuntos da Igreja. Pelo menos cerca de 18 postos ficaram vagos quando João Paulo I morreu, no dia 28 de setembro passado.

Em seu quarto dia depois de ter sido eleito papa, João Paulo II teve sua primeira oportunidade de repousar um pouco entre os vários atos oficiais e meditar sobre suas designações ministeriais. Entretanto, hoje deverá voltar a cumprir funções protocolares, já que haverá uma recepção oficial para o corpo diplomático e outra no sábado para jornalistas. No domingo, finalmente, será realizada sua sagração oficial como novo Pontifice máximo da Igreja.

As paredes do Vaticano apareceram cobertas com cartazes de uma organização direitista cristã, que qualifica o novo Papa como "um baluarte da civilização cristã contra o barbarismo".

Embora o referido grupo denominado Civilita Cristiana, se oponha enfaticamnete às reformas do segundo concílio do Vaticano - apoiadas pelo novo Papa - o grupo acolheu com entusiasmo a eleição de João Paulo II, assinalando-o como "uma testemunha direta das perseguições brutais de nossos tempos".

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