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O mundo perde Tom Jobim
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A história do Ceará e do mundo desde 1928, narrada pelas lentes do acervo de O POVO

O mundo perde Tom Jobim

30 anos da morte de Tom Jobim, um dos criadores da bossa nova, aos 67 anos, em 8 de dezembro de 1994

* desde 1928: As notícias reproduzidas

nesta seção obedecem à grafia da

época em que foram publicadas.

O compositor Tom Jobim, um dos maiores nomes da música brasileira, morreu ontem, em Nova Iorque, aos 67 anos, vitima de insuficiência cardiaca. Jobim morreu no Hospital Monte Sinai, onde estava internado desde segunda-feira para tratamento das coronárias. Dentre as músicas qie compôs destacam-se "Garota de Ipanema" e "Águas de Março".

Corpo chega hoje ao Rio de Janeiro

O corpo do compositor Tom Jobim foi embarcado ontem em Nova Iorque e tem chegada prevista para as 10 horas de hoje, no Rio de Janeiro. O enterro será à tarde.

Tom brasileiro - Editorial

Quem ama a música, amava Tom Jobim. Daí por que tanta gente, no mundo inteiro, está chorando a morte do Maestro. Tom era um dos mais importantes compositores da MPB e seus sucessos estão entre os mais executados na história da rádio e do disco. Poucos brasileiros já subiram tão alto na escala do sucesso e isto explica todas as reverências que ele vem recebendo. Nossa homenagem se segue neste espaço, sob a forma de alguns parágrafos carregados de saudade.

O coração do Maestro, que sempre vibrou de sensibilidade, tinha lá suas fraquezas. Há 67 anos batia no peito de Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim e ontem não mais resistiu. Tom Jobim morreu de insuficiência cardíaca no Hospital Monte Sinai, em Nova York, onde se preparava para fazer uma angioplastia.

Foi uma vida inteira dedicada à música. Compositor de rara sensibilidade e revolucionária técnica no manejo dos acordes, Tom Jobim ajudou a operar uma transformação importante na música popular brasileira, a partir do final da década de cinqüenta, quando surgiu com um ritmo absolutamente novo, desconcertante, e que viria a conquistar o mundo inteiro - a bossa nova. Desde então, suas composições vinham enriquecendo nosso cancioneiro com pérolas do quilate de "Garota de Ipanema", "Águas de março", "Chega de saudade", "Sabiá", "Insensatez", "Corcovado", "Anos dourados"... e tantas outras.

Tom familiarizou-se muito cedo com o teclado. Criança ainda, tocava no piano alugado pelos pais para as aulas da irmã Helena. Adolescente, estudou com Hans Joachim Koellreutter, Lúcia Branco e Tomás Teran. O conhecimento de música erudita, então adquirido, foi fundamental para a sofisticação e ousadia formal de sua música, que primeiro encantou os brasileiros e, logo a seguir, deslumbrou o resto do mundo.

Todos os grandes intérpretes da MPB gravaram Tom Jobim: Dick Farney, Lúcio Alves, Elisete Cardoso, Gilberto Milfont, Doris Monteiro, Os Cariocas, Jorge Goulart, Nora Ney e Emilinha Borba foram os primeiros. Na voz de João Gilberto, sua música iria ganhar um dos mais extraordinários intérpretes. "Chega de saudade", de 1959, com João na voz e no violão e arranjos de Tom, se tornaria marco definitivo para o lançamento da bossa nova, a música popular brasileira que seria assimilada por todo o planeta. "Garota de Ipanema", que veio depois, se transformou numa das músicas mais executadas e gravadas na história do rádio e do disco.

Nos anos setenta, Tom Jobim estabeleceu-se em Los Angeles, nos Estados Unidos, onde continuou a compor, fazer arranjos e gravar. Intérpretes do porte de Frank Sinatra e Ella Fitzgerald gravaram sua músicas, colocando-o no mesmo patamar dos maiores compositores norte-americanos. Tom retornaria em definitivo ao Rio de Janeiro na década de oitenta para reencontrar parceiros e vozes brasileiramente afinados com sua bossa. Contou com Chico Buarque - com quem havia feito "Sabiá", de 1963, reconhecida como uma das mais belas canções da MPB -, aiinda reviu Elis Regina e, mais uma vez, cantou com Miúcha velhos sucessos compostos de parceria com Vinicius de Morais.

Festejado, premiado, transformado em enredo da escola de samba da Mangueira, aplaudido na avenida e nos ambientes mais sofisticados, consagrado no Brasil e no Além-Mar, Tom Jobim era, reconhecidamente, um dos mais importantes compositores brasileiros de todos os tempos. Foram 50 anos de carreira, que deixam um legado memorável. Músicos de todas as nacionalidades e tendências lhe rendiam homenagem, apontando-o como principal responsável por uma revolucionária aproximação entre a música brasileira e o jazz, o que abriu caminho para um processo de influências mútuas entre as duas expressões musicais e que, por muito tempo ainda, há de perdurar. Sem jamais deixar de surpreender.

Coração mata Jobim - Especial Vida&Arte

O Brasil está em silêncio. Perdeu o Tom. Foi às 7 horas da manhã de ontem (horário dos Estados Unidos), de parada cardíaca, após ter sido submetido a uma angioplastia, no Hospital Monte Sinai, em Nova York. O "maestro soberano", compositor, arranjador, poeta e cantor Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim sai de cena antes do tempo. Ia completar 68 anos no dia 25 de janeiro, acabara de lançar o novo disco "Antônio Brasileiro", tinha quatro filhos, quatro netos, dois piano, bom humor e um nome reconhecido em todo o mundo. Orgulho nacional.

Em trêsmeses de dieta por conta da primeira cirurgia para desobstruir as artérias, perdeu 14 quilos. Não foi o suficiente, ainda que estivesse animado com a recuperação. Foi embora o trovador cheio de estrelas. Aqui, o mundo se vira como pode para homenageá-lo. Ontem houve silêncio e choro na churrascaria Plataforma, reduto de voêmios, a cara de Tom. Na Academia Brasileira de Letras, os imortais reuniram-se para lembrar o compositor. O prefeito do Rio César Maia revela que vai trocar o nome de uma rua ou praça de Ipanema pelo do músico. E a Rede Globo anuncia para a sua programação de final de ano o "Duets" em que Tom Jobim canta ao lado de Frank Sinatra a tradicional "Flying to the Moon".

O corpo de Tom foi transportado para o Brasil ontem, às 20 horas, acompanhado pela esposa, a fotógrafa Ana Jobim, e pelo filho mais velho do compositor, arquiteto e violinista, Paulo Jobim. O sepultamento acontece no final da tarde de hoje, no cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. O governador do Rio, Nilo Batista, decretou luto oficial por três dias. Fica sua música, seus braços abertos sobre a Guanabara e a realidade. Só que a realidade, como disse uma vez Tom Jobim, "é que o tempo passa depressa: não tem mais disco, não mais orquestra". Também não tem mais maestro.

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