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Missa marca protesto pela morte de Chico Mendes
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Missa marca protesto pela morte de Chico Mendes

Há 36 anos, em 22 de dezembro de 1988, o ecologista brasileiro Chico Mendes foi assassinado

* desde 1928: As notícias reproduzidas

nesta seção obedecem à grafia da

época em que foram publicadas.

Uma vigília que durou todo o dia e foi encerrada com manifestação na Catedral Metropolitana de Fortaleza por ocasião da Missa do Galo, marcou o protesto do Partido Verde no Ceará pela morte do líder sindical e defensor da ecologia, Chico Mendes, assassinado quinta-feira no Acre. O Cardeal Arcebispo de Fortaleza, Dom Aloísio Lorscheider, também lamentou a perda do sindicalista durante a homilia, na celebração da meia-noite.

O protesto dos verdes é uma articulação nacional que visa a deixar claro ao Ministério da Justiça que os ecologistas e a grande maioria do povo brasileiro espera providências concretas no sentido de punir, não apenas os executores, mas todos os envolvidos no assassinato do sindicalista, envolvido na defesa da Amazônia. Segundo o presidente do Partido Verde-Ce, Sílvio Gurjão, a agremiação pretende manter viva no Ceará a mobilização em favor do apressamento das investigações e prisão dos culpados.

Aproveitando as declarações de Chico Mendes dadas ao "Jornal do Brasil" já neste dezembro: "Se descesse um enviado dos Céus e garantisse que (perder) minha vida iria fortalecer a noss aluta, até que valeria a pena. Mas a experiência nos ensina o contrário. Ato público e enterro numeroso não salvarão a Amazônia; então eu quero viver". Os Verdes cearenses abriram uma pequena carta endereçada aos cearenses, e distribuída na madrugada de ontem, na Catedral.

O documento explicava que "Chico Mendes, Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, no Acre, foi assassinado quinta-feira à noite, em sua casa. Simpatizante do Partido Verde, premiado na ONU pela sua luta em defesa da Amazônia, Chico já vinha sendo ameaçado há algum tempo por grupos articulados nacionalmente que lutam contra a reforma agrária".

E prosseguem: "Com ele morreram inúmeras pessoas de igual ideal, vitimadas pelo terror imposto pelos grandes latifundiários, na região, e pela criminosa omissão do Governo Federal. A violência e o autoritarismo, deste Cristo, injustiçam e matam impunemente as pessoas e a natureza. A Amazônia é vida, nossa vida. Lutemos por ela.

Depois da Missa, os que estiveram na Catedral viram a faixa do Partido Verde com a tarja preata do luto e receberam a publicação, tomando conhecimento do movimento dos militantes do Partido pela punição dos culpados. Em nível nacional, participantes dos movimentos ecológicos e sindicalistas acompanharam os Verdes, em Brasília, no ato público de protesto defronte ao Ministério da Justiça. Segundo João Saraiva, vice-presidente do Partido Verde, o repúdio que os militantes cearenses vêm tornando público é compartilhado por todos quanto tomam contato com o movimento, e esse tipo de terrorismo deve dar a todos mais coragem para lutar em defesa da ecologia e dos direitos fundamentais da pessoa.

-É uma grande perda para o País. Chico Mendes era importante e sua luta valorizada em fronteiras além do Brasil. Esperamos que as autoridades não sejam mais uma vez omissas, apontando e punindo os culpados pelo assassinato - afirmou João.

Em São Paulo, a Comissão Pastoral da Terra, ligada à CNBB, divulgou seu posicionamento, que responsabiliza o Governo, a Constituinte e a União Democrática Ruralista UDR, pelo assassinato do sindicalista. Segundo a nota, depois de eleições há sempre um recrudescimento da violência contra os trabalhadores rurais, "mostrando a clara ligação entre certo setor de políticos e a violência".

É mais um crime não elucidado

Rio Branco - O corpo de Chico Mendes foi enterrado logo na entrada do Cemitérios do Xapuri, que ficou tomado de pessoas, ao lado da sepultura de Ivair Almeida, trabalhador rural assassinado em junho passado, e cujo crime ainda não está ilucidado. Também estava enterrado perto de Chico Mendes outro trabalhador, José Ribeiro, morto em setembro.

Chico Mendes é o segundo líder rural de renome assassinado no Acre somente nesta década. Em 1980, o Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasília, Wilson Pinheiro, foi morto na porta do sindicato. Seu assassinato teve grande repercussão e gerou também a morte de um capataz de fazenda, emboscado por seringueiros, que estavam acampados na sede da Delegacia do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) de Xapuri, e ferimento em três trabalhadores. A ocupação foi resultado de um "empate" promovido por Chico Mendes - e impedido pela justiça, para pressionar o fim do desmate em uma fazenda próxima a Xapuri.

Até ontem à tarde, a Polícia não tinha pistas concretas dos autores da morte do sindicalista Chico Mendes, ocorrida na noite de quinta-feira. O delegado especial designado pela Secretaria de Segurança Pública para investigar o caso, Nilson Alves, está ouvindo diversas pessoas desde sexta-feira. Hoje, ele iria averiguar informações de que o fazendeiro Darli Alves, principalmente acusado de ser o mandante do crime, estaria numa fazenda nas proximidades da Cidade.

O delegado federal Luiz Gonzaga Neto, enviado pelo Ministério da Justiça para acompanhar o caso, chegou no final de semana à Rio Branco, seguiu ontem para Xapuri, onde pretende tomar conhecimento da situação. Segundo ele, a sua presença é para oferecer apoio da Polícia Federal à Secretaria de Segurança Pública. O Delegado também confirmou a realização de uma operação desarmamento da região.

Campanha mundial foi deflagrada

Porto Alegre, Brasília - O ecologista José Lutzenberger iniciou uma série de telefonemas para todas as entidades internacionais de defesa da vida e do meio ambiente para denunciar o assassinato do Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, Chico Mendes. Ele prevê uma grande repercussão mundial do crime e defende uma campanha para que o Banco Mundial não libere recursos ao Brasil até que sejam identificados os assassinos.

Lutzenberger contou que ficou sabendo do crime uma hora depois de ele ter acontecido através de um telefonema de um amigo comum que mora no Acre. Ganhador do prêmio nobel alternativo de ecologia, Lutzenberger lembrou que o próprio Chico Mendes sabia que ia ser assassinado e dizia isso pois todos os seus companheiros já tinham sido mortos. O ecologista gaúcho foi um dos que patrocinou a viagem de Chico Mendes aos Estados Unidos onde ele se manifestou contra empréstimos do Banco Mundial prejudiciais a preservação da Amazônia.

Também em Ação Democrática Feminina Gaúcha, uma entidade de ecologistas, exige o esclarecimento do crime. A organização enviou o telex ao Ministro da Justiça, Paulo Brossard, cobrando agilidade nas investigações.

Co-responsável

o Partido Verde considera o superintendente da Polícia Federal do Acre, Mauro Sposito, co-repsonsável pelo assassinato do Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, Chico Mendes. Segundo o Delegado da Executiva Nacional do PV do Distrito Federal, Bolivar Figueiredo, Mauro Sposito é culpado de omissão e incitamento ao crime.

Há cerca de 20 dias, contra o PV, Chico Mendes entregou ao superintendente da Polícia Federal um mandado de prisão, expedido pelo Juiz de Umuarama (PR), contra Derli Alves da Silva, fazendeiro em Xapuri. Derli e seu irmão Alverino são suspeitos do assassinato do candidato a vereador pelo PT de Xapuri Ivair Higino Almeida, ocorrido em junho deste ano, e também agora, juntamente com o vereador pelo PMDB de Brasília Luiz Rassam, da morte de Chico Mendes.

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