A história do Ceará e do mundo desde 1928, narrada pelas lentes do acervo de O POVO
A história do Ceará e do mundo desde 1928, narrada pelas lentes do acervo de O POVO
* desde 1928: As notícias reproduzidas nesta seção obedecem à grafia da época em que foram publicadas.
27 de dezembro de 2004
Mais de 12 mil pessoas morreram, ontem, após um terremoto de 9 pontos na escala Richter ter provocado ondas de até dez metros de altura que atingiram oito países no Sudeste Asiático. Sri Lanka (4.500 mortos), Indonésia (4.422) e Índia (3.000) foram os mais atingidos.
O número de mortos pode ser muito maior, já que existem relatos de milhares de desaparecidos - havia muitas pessoas aproveitando o dia nas praias e pescadores em barcos em alto-mar. Centenas de corpos foram encontrados nas costas de Tamil Nadu, estado do sul da Índia. Autoridades do país acreditam que o mar depositará mais corpos nas praias nos próximos dias. "Era uma visão terrível. Eu podia ver cadáveres por todos os lados e a destruição tem proporções colossais", afirmou Jayaram Jayalalithaa, ministro-chefe de Tamil Nadu.
O centro do abalo sísmico, às 7h59min (22h59min de sábado em Brasília), foi registrado próximo à costa oeste da ilha de Sumatra (Indonésia), 10 km abaixo do fundo do mar. Houve ainda, em seguida, tremores menores de até 7,3 pontos nas ilhas Nicobar e Andaman (Índia), no Oceano Índico, Tailândia, Malásia, Bangladesh e ilhas Maldivas também foram atingidos pelo tsunami - nome que se dá às ondas gigantescas, geralmente formadas por terremotos cujos centros ficam em oceanos (em japonês, "tsu" significa porto e "nami", onda).
O terremoto foi o quinto mais forte desde 1900. Antes deste, o mais poderoso registrado foi um de 9,2 pontos no Alasca (EUA), em 1964. Na Indonésia, a região mais afetada foi Banda Aceh, capital da província Aceh, onde ocorreram 3.000 mortes. Como nos demais países, no entanto, a maior parte das mortes foi provocada por enchentes.
Segundo a Polícia de Sri Lanka, que fica a 1.600 km a oeste do epicentro do terremoto, mais de 1 milhão de habitantes - 5% da população do país - foram afetados pelas águas. A força do tsunami foi tanta que houve enchentes até na costa leste do continente africano. "É uma situação muito trágica", disse Rienzie Perera, porta-voz da Polícia. Ele acrescentou que os hospitais não têm condições de cuidar de todos os feridos. O governo fez um apelo por ajuda de emergência. Na Tailândia, muitos dos cerca de 300 mortos são turistas que foram passar o Natal nas praias do sul do país. "De repente, do nada, as ruas ficaram alagadas, e as pessoas vinham da praia correndo e gritando", disse o político australiano John Hyde, que estava de férias.
29 de dezembro de 2004
Nações atingidas pelo terremoto seguido de maremoto no último domingo procuravam e recolhiam ontem mais corpos de vítimas. Há temores de que o total de óbitos possa exceder em muito os quase 60 mil registrados até ontem. O número oficial de mortes de pessoas era estimado em 59.186.
"A enormidade do desastre é impressionante" - afirmou em Jacarta, Bekele Geleta, chefe da Federação Internacional da Cruz Vermelha e das Sociedades do Crescente Vermelho no Sudeste Asiático. No Sri Lanka, 2,5 milhões dos 19 milhões de habitantes do país foram obrigados a deixar seus poucos pertences e a abandonar suas casas.
Até a Somália, distante 4.800 km do epicentro do tremor, sentiu os efeitos do terremoto, seguido de maremoto. O desastre asiático superou em vítimas um dos piores terremotos dos últimos cem anos, que ocorreu no Irã, em 2003, e matou mais de 31 mil pessoas.
No domingo, o tremor que chegou a nove graus na escala Richter atingiu vários países como Bangladesh, Índia, Indonésia, Malásia, Maldivas, Mianmar, Sri Lanka, Tailândia, na Ásia, e Somália e Tanzânia, na África, afetados pelas ondas gigantescas que chegaram a 10 metros de altura.
O crescente número de mortos ainda é provisório e deve aumentar com o trabalho das equipes de resgate, porém os três países mais atingidos até o momento são a Indonésia, o Sri Lanka e a Índia. Além da Indonésia, que contabiliza 27 mil óbitos, no Sri Lanka, 18.706 pessoas morreram no desastre, segundo o Exército. Na Índia, o número de falecidos é de cerca de 8.500 pessoas.
Na Tailândia, o total chega a 1.516. Ao menos 90 pessoas morreram em Mianmar, segundo balanço provisório. Nas ilhas Maldivas, 55 foram confirmadas até o momento e 68 são consideradas desaparecidas.
A diplomata brasileira Lys Amayo de Benedek D'Avola e seu filho Gianluca, de 10 anos, foram confirmados entre as milhares de vítimas do terremoto e ondas gigantes que arrasaram as costas de vários países do Sudeste Asiático.
"A Embaixada do Brasil na Tailândia informou que na madrugada de terça-feira foram achados os corpos da diplomata e de seu filho mais novo" - informou a Chancelaria brasileira num comunicado divulgado em Bangkok. Trata-se das primeiras vítimas de nacionalidade brasileira confirmadas até o momento.
A brasileira, primeira secretária da Embaixada do Brasil em Bangkok, estava passando alguns dias de descanso com seu marido e seus dois filhos na ilha de Phi Phi, também na Tailândia.
O marido da diplomata, um empresário de origem italiana, já tinha sido encontrado com vida em um hospital dessa mesma ilha. A outra filha do casal, Tais, de 18 anos, salvou-se da tragédia, pois não estava na praia no momento da chegada das ondas gigantes.
Apesar de algumas agências brasileiras terem informado ontem sobre a morte da diplomata e seu filho, a informação não tinha sido confirmada até então por nenhuma fonte oficial.
O Ministério brasileiro de Relações Exteriores, que lamentou "profundamente" as mortes e transmitiu suas condolências à família, informou que a brasileira tinha cumprido 20 anos de carreira diplomática. O governo brasileiro anunciou na última segunda-feira que estuda várias formas de ajuda para as nações do sudeste asiático atingidas pelas ondas gigantes.
A intensidade do terremoto seguido de maremoto que atingiu o Sudeste Asiático pode ter alterado em vários centímetros a inclinação do eixo de rotação da Terra. Foi o que afirmaram ontem especialistas do Centro de Geodésia Espacial G. Colombo de Matera, no Sul da Itália.
"Os dados preliminares indicam um deslocamento do eixo de rotação terrestre equivalente a um movimento linear de cinco ou seis centímetros" - disse num comunicado o físico Giuseppe Bianco. Os cientistas desse centro, que pertence à Agência Espacial Italiana, baseiam suas afirmações na informação proporcionada pelo satélite Ítalo-norte-americano Lageos 2, em órbita desde outubro de 1992 e que se dedica à telemetria.
O satélite recebe breves sinais de laser de uma rede mundial de observatórios terrestres e as envia novamente para a Terra. Através da medição do tempo que levam para voltar, a agência calcula eventuais deslocamentos da crosta terrestre.
O movimento do eixo, segundo Bianco, "aconteceu precisamente ao longo da direção do epicentro do terremoto; em uma primeira análise, não se vê nenhum efeito ao longo do Meridiano de Greenwich" - disse.
30 de dezembro de 2004
À medida que os dias passam, mais a comunidade internacional amplia sua percepção da tragédia monumental que se abateu sobre oito países da Ásia e da África. O número de mortos já se aproxima da casa dos cem mil, e a devastação material alcança cifras impressionantes, com seus milhões de desabrigados. Enquanto isso, a comunidade internacional começa a se indagar sobre as lições a serem retiradas da tragédia.
A primeira constatação é a de que muitas pessoas mortas poderiam ter sido evitadas, se tivesse havido um maior empenho dos centros de controle sismológicos (dominados pelos países desenvolvidos) em avisar os países próximos do epicentro do fenômeno sobre suas possíveis consequências.
Basta dizer que algumas dessas áreas foram atingidas seis horas depois - o que é muito tempo em termos de um mundo conectado instantaneamente pela Internet. Alegou-se, no entanto, que a região afetada não estava interligada aos sistemas de controle desenvolvidos para esse fim. Sem entrar nas razões dessa carência (inaceitável para uma região de conhecida instabilidade sismológica), basta uma pergunta: essas áreas não estão também conectadas ao sistema financeiro mundial? Ora, se é possível transmitir em tempo real qualquer oscilação no mercado financeiro, não se poderia usar a mesma sofisticada estrutura tecnológica de comunicação para comunicar problemas de outra ordem que não os relativos aos interesses da banca? Tem algo de muito errado nessa hierarquia de valores. Aliás, a própria reação imediata e voluntária de milhares de internautas, nos minutos seguintes ao fenômeno, convocando a solidariedade internacional, desmente os argumentos dos países que tinham as informações científicas sobre as possíveis consequências do cataclisma. Faltou mesmo foi vontade política e sensibilidade humana.
O que se passou na área atingida interessa a todas as pessoas do planeta, pois ocorreu também um fenômeno que provavelmente afetará suas vidas, no futuro próximo: o eixo da Terra sofreu uma inclinação, cujas consequências são ainda imprevisíveis. Suspeita-se que o clima terrestre será inevitavelmente afetado. Trata-se do alerta mais ostensivo jamais dado pelo planeta, nos últimos tempos, sobre profundas modificações em curso. Será que dessa vez a mensagem foi captada, depois de tantas outras que vêm sendo ignoradas há décadas, quando surgiram as primeiras advertências sobre os descalabros produzidos na Natureza por um modelo mundial de desenvolvimento totalmente desrespeitoso às suas leis?
Na verdade, há uma certa displicência nos centros decisórios de poder mundial sobre questões relativas ao controle ambiental. A razão é conhecida: os protocolos sobre o meio ambiente impõem determinadas exigências que afetam interesses de grupos econômicos restritos ou de algum país em particular. Veja-se a resistência irracional apresentada por alguns países poderosos ao Protocolo de Kyoto.
Ora, está cada vez mais claro que a Terra está passando por crescentes perturbações climáticas, em decorrência da atuação predatória do homem. A emissão de gases, por exemplo, atinge a atmosfera, trazendo como um dos seus efeitos o aquecimento global. Isso tem levado ao derretimento das geleiras, atingindo as calotas polares: basta ver o registro de icebergs monumentais desprendidos de suas bases e levados por correntes marinhas. No rastro do derretimento das geleiras, vêem-se as inundações.
O apelo para uma articulação mais responsável da comunidade internacional para barrar o processo de agressão ambiental deixou de ser um grito de movimentos exóticos, para se tornar um imperativo racional de sobrevivência do planeta. Não é mais possível conduzir essa questão pela ótica exclusiva de interesses restritos, que sacrificam o destino da humanidade aos seus particularismos imediatistas. Chegou, pois, o momento de todos se darem as mãos para cuidar zelosamente da Casa comum - o planeta Terra - antes que desabe totalmente sobre nós, por conta de nossa cegueira.
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