A história do Ceará e do mundo desde 1928, narrada pelas lentes do acervo de O POVO
A história do Ceará e do mundo desde 1928, narrada pelas lentes do acervo de O POVO
* desde 1928: As notícias reproduzidas
nesta seção obedecem à grafia da
época em que foram publicadas.
O Brasil prepara-se hoje para comemorar a vitória de Tancredo Neves e José Sarney, candidatos da Aliança Democrática a Presidente e Vice-Presidente da República, no Colégio Eleitoral. Em todos os Estados, haverá manifestações festivais no momento em que os dois conseguirem o voto 344, que lhes dará maioria absoluta no colegiado. Fogos, buzinas de veículos e outros festejos assinalarão o início de uma nova era na história política brasileira. A votação começa às 9 horas, com os 686 membros do Colégio Eleitoral reunidos no plenário da Câmara do Deputados, em Brasília, devendo terminar por volta das 14 horas. Em Fortaleza, o vice-governador Adauto Bezerra, no exercício da Governadoria, determinou o lançamento de fogos no Palácio da Abolição. O PMDB desenvolve programação na Praça do Ferreira hoje, a partir das 8 horas.
16 de janeiro de 1985
Tancredo: "Vim promover mudanças efetivas, corajosas, irreversíveis"
"Vim para promover as mudanças, mudanças políticas, mudanças econômicas, mudanças sociais, mudanças culturais, mudanças reais, efetivas, corajosas, irreversíveis", anunciou, com a voz embargada, no momento mais vibrante de seu discurso, o Presidente da República eleito, Tancredo Neves. Foram 19 páginas, 35 minutos de duração e interrompido 40 vezes por aplausos. Ele fora eleito por 480 votos, contra 180 dados ao candidato do PDS, Paulo Maluf. Conclamou ainda toda a sociedade a participar do debate sobre a Constituinte e a se integrar num mutirão nacional, acrescentando que "poderemos fazer deste País uma grande Nação".
Patuscada, não - Editorial
O dia de ontem entrou para a história do País. Durante anos seguidos, o povo brasileiro sonhou com a vitória política a duras penas alcançada, para ela dirigindo as suas atenções e também as suas energias.
E não foi fácil chegarmos ao ponto a que chegamos. Agora, cumpre a toda a sociedade civil preservar a conquista feita, procurando consolidá-la. As massas sairam às ruas para festejar o grande acontecimento que foi a eleição de Tancredo Neves para o Palácio do Planalto, numa alegria que há muito tempo não experimentavam.
Mas a vitória não consiste em o eleito se chamar Tancredo Neves ou ser um homem de mãos limpas e um político liberal com longa trajetória percorrida em sua vida pública, que se iniciou no sertão de Minas Gerais. O evento só se tornou expressivo porque envolve o compromisso sério de favorecer uma mudança de roupa para o Brasil.
Mudança que pode ser traduzida numa palavra: O vocábulo está colocado no plural porque quase tudo terá de ser revisto. Precisamos de outra Constituição, de novas leis disciplinando a organização do Estado, de outros rumos para a economia. Carecemos também de menos licenciosidade, de menos mordomias e privilégios e de dar um basta na corrupção que lavra por aí a fora, impune e incentivadora dos aproveitadores sem espírito público, em tantos casos alcançados às posições mais elevadas.
O povo, desta feita, teve o seu desejo satisfeito. Ergueu a cabeça, foi à praça pública dizer o que queria e pôde assistir, ontem, ao grandioso espetáculo cívico da vitória do candidato de sua preferência.
Acha-se em jogo o futuro de uma Nação que ultrapassou os 130 milhões de habitantes, dotada de uma imensidade de recursos naturais e que dispõe de todos os requisitos para, em breve, ser uma das maiores potências mundiais, não no sentido bélico que o termo pode sugerir, mas pela felicidade e segurança com que viverem os seus filhos.
Forçando a eleição de Tancredo e acolhendo a sua consagração pelo Colégio Eleitoral como um triunfo de todos os brasileiros, nosso povo espera pela contra-partida, que é a construção de um novo Brasil, capaz de impedir que isto aqui incendeie e sejamos tragados por uma revolução ou guerra civil nos moldes das que têm tomado conta de outros países.
E a responsabilidade das transformações esperadas com o novo Presidente a ser empossado a 15 de março não será exclusiva do candidato vitorioso da Aliança Democrática. Os partidos políticos e as diferentes classes sociais devem participar das reformas necessárias, dando cada um a sua cota de sacrifícios à causa do bem-estar geral.
Nenhum governante, por mais bem intencionado que seja, consegue mudar uma sociedade como a nossa, atrasada de décadas na sua organização, sem cortar privilégios dos que já possuem muito e ainda exigem mais. Ou os privilégios cedem para ensejar que as reformas se processem dentro dos postulados democráticos ou correm o risco de as verem introduzidas na crista das convulsões sanguinolentas e de desfecho imprevisível.
Se a Nação, pelos seus representantes no Colégio Eleitoral, tivesse eleito um novo Presidente apenas para trocar do homem ao leme, o que ontem aconteceu neste País não seria mais que uma patuscada antecedendo a quadra carnavalesca…
Maioria de Tancredo Neves foi de 300 votos
Brasília - Por uma diferença de 300 votos, os candidatos da Aliança Democrática, Tancredo Neves e José Sarney, foram eleitos ontem Presidente e Vice-Presidente da República, pelo Colégio Eleitoral. Eles obtiveram 480 votos contra 180 conferidos aos candidatos do PDS, deputados Paulo Maluf e Flávio Marcílio. Houve 17 abstenções e nove ausências. O anúncio do resultado da votação, às 12 horas, foi feito pelo Presidente do Congresso, senador Moacyr Dalla, sob intensos aplausos, num clima de muita alegria.
O momento maior da festa ocorreu quando o deputado João Cunha (PMDB/SP) proferiu o 344o. voto, que garantiu a vitória de Tancredo Neves e José Sarney, às 11h35min, antes de Maluf votar. Por todo o plenário, os eleitores dos candidatos da Aliança Democrática batiam palmas, agitavam bandeiras do Brasil e até mesmo um chapéu de palha e subiam nas mesas para comemorar. Das galerias, caiam papéis, enquanto João Cunha declarava que há 21 anos havia pensado "que o sonho de uma grande nação tinha acabado".
"Com o meu voto" - acrescentou o Deputado - "damos um golpe final contra a ditadura fascista. Voto em Tancredo Neves, na vitória" - exclamou João Cunha. As 12h21min foi feita a segunda chamada, para a votação dos ausentes durante a primeira. Maluf deixou o plenário três minutos depois, pouco antes de Dalla anunciar que Tancredo Neves havia alcançado a maioria absoluta de votos.
Brancos e ausentes
Dezessete integrantes do Colégio Eleitoral se abstiveram, entre eles o líder do PDS, deputado Nelson Marchezan (RS); os deputados federais Victor Faccioni (SC) e Nilson Gibson (PE), e três delegados de Santa Catarina. Não compareceram ao Colégio Eleitoral, nove de seus membros:
Os senadores Amaral Peixoto (PDS/RJ) e Jaison Barreto (PMDB/SC), este contrário ao pleito indireto; os deputado federais Júlio Caruso (PDT/RJ), que está doente, e Jarbas Vasconcelos (PMDB/PE), também contrário à participação no Colégio, e cinco deputados federais do PT: Eduardo Suplicy, Irma Passoni, José Genoíno e Djalma Bom, de São Paulo, e Luiz Dulci (MG), seguido diretriz do Partido.
A eleição transcorreu num clima de muita tranqüilidade. Por três vezes apenas houve vaias: Quando o deputado malufista Eduardo Galil (PDS/RJ), levantou questão de ordem visando ao desmembramento do voto para Presidente e para Vice-Presidente; no momento em que o deputado Agnaldo Timóteo (RJ) votou em Maluf, condenando os "desertores, oportunistas, fisiológicos e demagogos", e na hora em que Marchezan se absteve de votar.
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