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Referência de Jornalismo, Ricardo Boechat morre em acidente aéreo
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Referência de Jornalismo, Ricardo Boechat morre em acidente aéreo

Em 11 de fevereiro de 2019, o jornalista Ricardo Boechat morreu na queda de um helicóptero na Rodovia Anhanguera
Em 11 de fevereiro de 2019, o jornalista Ricardo Boechat morreu na queda de um helicóptero na Rodovia Anhanguera (Foto: O POVO É HISTÓRIA)
Foto: O POVO É HISTÓRIA Em 11 de fevereiro de 2019, o jornalista Ricardo Boechat morreu na queda de um helicóptero na Rodovia Anhanguera

* desde 1928: As notícias reproduzidas nesta seção obedecem à grafia da época em que foram publicadas.

Uma sucessão de infelicidades. Aparentemente com problemas, um helicóptero desce sobre a pista da rodovia. Um caminhão, que passara há pouco pela praça de pedágio, não para a tempo e colide com a aeronave em queda, que logo explode, matando os dois ocupantes: o jornalista Ricardo Boechat, 66, e o piloto, Ronaldo Quattrucci. O trágico acidente ocorreu no início da tarde de ontem no Rodoanel, perto do acesso à Rodovia Anhanguera, em São Paulo.

Um dos jornalistas mais respeitados do País, Boechat era apresentador do Jornal da Band e da Rádio BandNews FM, além de colunista da revista IstoÉ. Ele voltava de Campinas, onde foi dar palestra para uma plateia de 2,7 mil pessoas, em evento da farmacêutica Libbs.

Segundo o capitão Augusto Paiva, da PM, testemunhas relataram que o piloto tentou pouso de emergência em uma alça de acesso, mas acabou atingindo o caminhão. O motorista do caminhão, João Francisco Tomanckeves, 52, disse à Polícia que saía do pedágio quando viu a aeronave. Mas não teve tempo para frear ou desviar. "Não vi nada. Passei e aquilo caiu como uma pedra, do nada", disse. Tomanckeves teve ferimentos leves e prestou depoimento ontem à Polícia Civil. Ele só soube que a batida era contra um helicóptero após ser informado por pessoas o ajudaram a sair do veículo.

Na bancada do Jornal da Band, entre um ácido comentário e outro, Boechat desenhava. Um elefante, nuvens, furacões. "Eram incríveis, me arrependo de nunca ter feito uma pasta guardando todos (os desenhos)", conta a apresentadora Mariana Ferrão, hoje na TV Globo, que trabalhou com o jornalista por quatro anos na Band.

Boechat foi para a empresa em 2005 e, além da TV, assumiu um programa matinal na Rádio Band News FM. Pelos microfones da rádio, distribuiu os célebres palavrões ao pastor Silas Malafaia, em mais um de seus incontáveis momentos de informação somada à indignação. Após décadas de jornalismo, se reinventou no rádio, acumulando fãs e desafetos.

Boechat já havia feito história em grandes jornais, como O Globo e Jornal do Brasil, onde revolucionou as colunas sociais, dando a elas caráter noticioso. Em sua carreira, venceu três vezes o Prêmio Esso, o mais conceituado da categoria. Aluizio Maranhão, ex-diretor de Redação do Estado de S.Paulo, que conheceu Boechat em 1970 em um curso para aspirante de repórter no Jornal do Brasil, diz que o amigo era "indomável". "Não só eletrizava a reportagem, como fazia apurações paralelas, mesmo sendo chefe."

Filho de diplomata brasileiro, Ricardo Eugênio Boechat nasceu em 13 de julho de 1952, em Buenos Aires. Teve seis filhos, Beatriz, Rafael, Paula, Patrícia, Valentina e Catarina, as duas últimas com a atual mulher, Veruska. "Pior dia da minha vida", postou ela em uma rede social. Também tinha uma neta, de 6 meses. "Não era um profissional da imprensa, era autoridade da notícia, era o Boechat", define o colunista de O Globo Ancelmo Gois.

No último comentário, Boechat lamentou sucessão de tragédias no Brasil

Em seu último comentário na Rádio BandNews FM, na manhã de ontem, o jornalista Ricardo Boechat lamentou as tragédias que chocaram o País nos últimos dias e cobrou punição aos responsáveis. Pouco depois, Boechat morreu em um acidente de helicóptero em São Paulo.

"A impunidade é o que rege, o que comanda a orquestra das tragédias nacionais", disse Boechat ao se referir ao rompimento da barragem da mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), e à morte de adolescentes no Ninho do Urubu, o centro de treinamento do Flamengo, no Rio.

O jornalista citou uma matéria publicada no jornal O Globo sobre a sucessão de tragédias no País. "Você vê que não só os agentes públicos não pagaram nada por isso como os agentes privados e seus sócios também não. Esse é exatamente o ponto que une todas as tragédias."

"O que temos de colocar em cima da mesa, diante de nós mesmos, como sociedade, é se queremos continuar lidando com essas tragédias, pranteado-as no início e esquecendo-as logo depois. A tragédia de Brumadinho já sumiu das primeiras páginas."

Para o jornalista, a sociedade brasileira segue uma "velha tradição de tocar adiante". "É preciso que as consequências sejam mais rápidas, no campo da ação policial, do Ministério Público, para que não fiquem no oba-oba", disse Boechat.

"Quando a gente chora, sofre, lamenta o fato ocorrido ontem, a gente parece estar anestesiado ou gostar da anestesia que nos faz esquecer desse fato tão logo surja o fato de amanhã, que terá o mesmíssimo tratamento", concluiu o jornalista.

Em 11 de fevereiro de 2019, o jornalista Ricardo Boechat morreu na queda de um helicóptero na Rodovia Anhanguera(Foto: O POVO É HISTÓRIA)
Foto: O POVO É HISTÓRIA Em 11 de fevereiro de 2019, o jornalista Ricardo Boechat morreu na queda de um helicóptero na Rodovia Anhanguera

Helicóptero possuía documentos em dia, mas não podia fazer táxi aéreo

O helicóptero que levava o jornalista Ricardo Boechat e o piloto Renato Quatrucci tinha situação regular, mas a empresa que fazia a viagem não tinha aval para o transporte remunerado de passageiros. O caso será investigado.

A aeronave — Bell Jet Ranger, prefixo PT-HPG — foi fabricada em 1975 e tinha capacidade para cinco pessoas. Conforme a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a declaração anual de inspeção era válida até maio e o certificado de aeronavegabilidade valia até maio de 2023.

O helicóptero pertencia à empresa RQ Serviços Aéreos Especializados, cuja sede é na capital paulista. A empresa — especializada em filmagens e fotografias — já havia sido multada em 2018 pela Anac por oferta irregular de voos panorâmicos.

A agência abriu processo para apurar que tipo de transporte era feito no momento do acidente. A reportagem da Agência Estado não conseguiu contato com representantes da RQ até as 20h30min (horário de Brasília) de ontem. Quatrucci era sócio-proprietário da empresa.

Já a Zum Brazil, agência responsável por realizar o evento convidado a palestrar na manhã de ontem, disse sempre fazer "seleção criteriosa" dos prestadores de serviço e ressaltou o fato de a aeronave ter situação regular. Procurada, a farmacêutica não se manifestou.

13 de fevereiro de 2019

Corpo de Boechat é cremado em São Paulo

O corpo do jornalista Ricardo Boechat, de 66 anos, que morreu na queda de um helicóptero, foi cremado ontem, 12 por volta das 16 horas. A cerimônia foi reservada para família e amigos, no Cemitério Horto da Paz, em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo.

O velório começou na segunda, 11, à noite e se estendeu até o começo da tarde desta terça-feira, no Museu da Imagem e do Som (MIS), nos Jardins, em São Paulo. O corpo foi seguido por um cortejo de taxistas.

O helicóptero em que estavam Boechat e o piloto Ronaldo Quatrucci caiu sobre um caminhão. A suspeita é que ambos tenham morrido carbonizados no momento do acidente.

A queda ocorreu no km 22 da Rodovia Anhanguera, sentido interior, com o Rodoanel, e acabou explodindo. Boechat estava voltando de Campinas, onde tinha ido dar uma palestra.

 

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