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Comunistas dominam Vietnã; Saigon caiu
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Comunistas dominam Vietnã; Saigon caiu

* desde 1928: As notícias reproduzidas

nesta seção obedecem à grafia da

época em que foram publicadas.

O Governo de Saigon rendeu-se incondicional mente na madrugada de hoje ao Vietcong, pondo fim a 30 anos de cruentas guerras. A rendição foi anunciada pelo presidente Duong Van Minh, numa mensagem de cinco minutos transmitida a todo o país. Enquanto falava, a cidade de Saigon permanecia em calma e ainda se ouvia os disparos dos canhões. Minh declarou: "A política da República do Vietnã é a política da paz e reconciliação, destinada a salvaguardar o sangue do nosso povo. Peço a todos os soldados do Governo revolucionário provisório que deixem de disparar e permaneçam onde estão. Estamos aqui esperando o governo revolucionário para ceder-lhe a autoridade e deter, assim, infrutíferas banhos de sangue".

Na mesma transmissão, o general Nguyen Huu Hanh, sub-comandante do Estado-Maior, ordenou a todos os generais, oficiais e soldados sul-vietnamitas a obedecerem a ordem de Minh. "Todos os comandantes - declarou - devem estar dispostos a entrar em contato com os comandantes do governo revolucionário provisório (Vietcong), para cumprir o cessar fogo sem derramamento de sangue". Autoridades sul-vietnamitas declararam que não tinham outra escolha. A rendição ocorreu horas após a evacuação de todos os norte-americanos de Saigon, com exceção de um pequeno grupo de jornalistas, e o fechamento da Embaixada dos Estados Unidos, que foi saqueada posteriormente, tal como a residência do embaixador Grham Martin.

Logo após o anúncio da rendição, muitas pessoas cairam presas do pânico, acreditando que o Vietcong já estava na cidade, porém, a policia e os milicianos permaneciam ainda em seus postos, indicando com isso que as forças comunistas se mantinham ainda nos limites de Saigon. Meia hora depois do anúncio da rendição, o tráfego na cidade parecia normal e os disparos virtualmente terminaram. A queda de Saigon ocorreu oito dias depois que o presidente Van Thieu renunciou, culpado de ser o responsável da estratégia que levou ao agravamento da situação militar em dois meses. Thieu foi acusado de ordenar uma prematura retirada das planícies centrais do país, uma medida que provocou o cáos e o pânico e desmoralizou o Exército.

Em Washington, a Casa Branca informou que não emitirá, nas próximas horas, qualquer comentário sobre a rendição incondicional do Vietnã do Sul ao Vietcong, anunciada pelo presidente Duong Van Ninh. John Jushen, Sub-Secretário de Imprensa, declarou que "não haverá declaração da Casa Branca no dia de hoje". Um alto funcionário revelou que se havia inteirado da rendição através de um repórter. Em Hanoi, fonte do governo do Vietnã do Norte informou que Saigon será rebatizada com o nome de "Ho Chi Minh", líder comunista norte-vietnamita.

2 de maio de 1975

Fim da luta, mas futuro incerto - Editorial

Vista dentro de uma perspectiva estreita, parece confirmada a tese comunista de que só uma vitória militar sobre o Vietnã do Sul e Camboja e, por conseguinte, sobre os Estados Unidos, asseguraria a paz no Sudeste Asiático, conflagrado durante mais de 30 anos. De fato, com a derrocada dos dois paises e a retirada total norte-americana, já não se ouvem tiros nos territórios vietnamita e cambojano. Mas se isto significa o fim de horrores inenarráveis, que traumatizaram a humanidade, não há, na verdade, nenhuma garantia de que seja uma paz realmente duradoura, o que importaria num completo respeito dos vencedores de agora à independênciae à segurança de paises vizinhos e que se regulam por outro regime. E pode-se perguntar hoje se o futuro não dará razão aos que elaboraram a muito criticada "teoria dos dominós", ou seja a de que a queda de um país do Sudeste Asiático significaria a queda também do vizinho mais próximo e em seguida a de outro mais afastado, e assim sucessivamente.

Neste quadro, acordos e promessas não podem ser levados muito em conta, como, por exemplo, o acordo de paz na Coréia, com a divisão do país em dois. Isto porque a final derrocada do Vietnã, embora fruto de um profundo desgaste interno, começou exatamente pela violação ostensiva dos acordos de Paris. Tais acordos não foram firmados para pór fim a um regime autônomo em Saigon, mas para acertar a retirada das forças militares norte-americanas e dar inicio a negociações para uma conciliação entre o Governo sul-vietnamita e os seus adversários internos, enfim, para uma reconciliação nacional que pusesse temo aos massacres. Mas desses acordos, que tanta esperança despertaram no mundo, apenas um item foi efetivamente cumprido: a retirada dos combatentes norte-americanos. As negociações foram apenas iniciadas mas não prosseguiram, em face das constantes violações e do constante fortalecimento militar do vietcong, o que resultou na continuação da guerra, a ponto de ocorrerem mais baixas em 1974 do que em qualquer outro ano. Enquanto decrescia a ajuda norte-americana, penetração do Vietnã do Norte e ajuda soviético-chinesa. Tornou-se patente que o Vietcong estava disposto não a obedecer aos acordos mais impor um fato consumado, como afinal aconteceu.

Para a vitória conquistada sobre os pedaços de papel assinados em Paris muito contribuiu, sem dúvida, a incapacidade do comando militar e politico sediado em Saigon. Sob o aspecto militar, dificilmente se encontra exemplo semelhante de derrocada. Em janeiro ninguém poderia sequer imaginar o que aconteceria na última semana de abril, pois se acreditava pelo menos numa equivalência de forças terrestres e numa superioridade sul-vietnamita nos ares. Mas a estratégia adotada pelos comandos saigoneses, ante o inicio da ofensa vietcong, foi a de abandonar o terreno sob o pretexto de reduzir o perimetro de defesa. Isto importou na perda imediata de metade do território, abandono de cidades consideradas inexpugnáveis (como Danang), o acendimento de um rastilho de pânico entre a população e inteira desmoralização da força militar.

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