Formada em medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC), residência médica em Psiquiatria pela Universidade de São Paulo (USP), Título de Especialista em Psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria
Formada em medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC), residência médica em Psiquiatria pela Universidade de São Paulo (USP), Título de Especialista em Psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria
Apagaram-se as luzes. Minha expectativa era ver Vanessa da Mata interpretar Clara Nunes. Vozes encantadoras, dança, macramê e o "azul que não era do céu, nem era do mar" brilharam diante de mim. Os artistas subiram ao palco pelos corredores do teatro, criando uma conexão imediata com o público. Olhei para meu vizinho, um recém-conhecido na plateia, e questionei: "O microfone da Vanessa está baixo?" Na realidade, a voz de Vanessa da Mata é muito aguda, enquanto a de Clara Nunes era mais grave, o que, a meu ver, deixou-a mais contida na apresentação. Sua voz soava bela entre tantas outras magníficas, mas não havia destaque.
Chamou minha atenção uma das integrantes do espetáculo, visivelmente emocionada durante uma canção e, logo depois, dançando com grande alegria. Quanta entrega em sua interpretação!
A cena me trouxe à memória uma carta que viralizou na internet há alguns anos, escrita pela mãe de uma violinista e endereçada à direção da escola onde sua filha estudava. O início da carta dizia: "Minha filha deseja ser o segundo violino. Não a primeira, nem solista; o que ela quer é tocar suavemente ao fundo, pois isso a faz feliz." Essa moça deve ser, sem dúvida, uma exímia violinista que entende que o seu papel é fundamental na harmonia da orquestra.
Afinal, o que caracteriza a excelência na prática de algo? Ser o melhor dentro de um grupo? E, como definir quem é o melhor? Podemos ser excepcionais no que fazemos, mas isso não significa que sejamos considerados os mais importantes, de acordo com nosso sistema de valores e crenças. Não estou advogando a favor da mediocridade; entretanto, a procura incessante por ser superior alimenta um espírito de competição, e o desejo de competir jamais deve sobrepujar o desejo de pertencimento. Segundo John Donne, "nenhum homem é uma ilha completa em si mesma. Todo homem é um pedaço de continente, uma parte da terra firme".
Naquela noite, o grupo inteiro, afinado, brilhou e celebrou com alegria. E, aquela jovem de nome desconhecido, imagino que saudosa de alguém, "guerreira que não é de brincadeira, molhou o pano da cuíca com suas lágrimas e sambou a noite inteira." n
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