
Formada em medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC), residência médica em Psiquiatria pela Universidade de São Paulo (USP), Título de Especialista em Psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria
Formada em medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC), residência médica em Psiquiatria pela Universidade de São Paulo (USP), Título de Especialista em Psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria
Fui assistir, no Teatro José de Alencar, à peça Eu de Você, com Denise Fraga. A obra é inspirada em histórias reais. Denise vai migrando de uma narrativa a outra e, em certo momento, é difícil perceber a quem ela está dando voz. Mas isso não importa. As histórias parecem se entrelaçar como se fossem uma só. Havia uma grande atriz no palco, interpretando as angústias de todos nós.
A mãe de Denise está indo nadar. Põe a touca e segue, transversalmente, rumo ao horizonte. Denise, ainda menina, sozinha na areia, desesperada, grita: "Volta, mããeeee!!!" Meu peito apertou. Me vi perdida na praia, por volta dos cinco anos, sem conseguir gritar. Ela - Denise - gritou por mim. As nossas mães voltaram. Ganhei um sorvete da mamãe. A mãe de Denise lhe ensinou a boiar. Boiar. Agora estou com minha avó, numa piscina oval, em Messejana, aprendendo a boiar. Ela vestia um maiô preto. Ela, que teve uma vida difícil, descobriu o prazer de flutuar. Às vezes, ficar suspensa, olhando o céu - ou de olhos fechados - é muito bom.
Iolanda está distante, seus olhos não brilham, estão opacos. Seu filho, tentando "encontrá-la", clama por Chico. "Minha solidão se sente acompanhada. Por isso, às vezes, sei que necessito teu colo... eternamente, Iolanda." Os olhos de Iolanda ganham vida. Eles cantam juntos. Ela, mesmo que por frações de segundo, lembra.
Volto à minha avó. Papai pergunta: "Mamãe, sabe quem é ela?"
"Sou seu filho, e ela é minha filha."
"Então ela é o quê sua?"
Silêncio. "Vovô... Ô jardineira, por que estás tão triste?" Cantava tão alegre quanto uma criança... "Não fiques triste (vovó), que esse mundo é todo teu..." Ela não sabia dizer que eu era sua neta, mas sorria com intimidade para mim.
O público estava comovido, cada pessoa tocada de uma forma íntima e particular. Permeando as histórias, uma citação de Simone de Beauvoir traduz lindamente aquela emoção coletiva:
"Toda dor dilacera. Mas o que a torna intolerável é que quem a sente tem sempre a impressão de estar separada do resto do mundo. Partilhada, a dor, ao menos, deixa de ser um exílio. Essa é uma das funções essenciais da arte: superar a solidão, que é comum a todos nós."
A arte salva.
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