Logo O POVO+
Antipolítica e justiça social
Foto de Paulo Henrique Martins
clique para exibir bio do colunista

Doutor em Sociologia pela Universidade de Paris I. Professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenador do Núcleo de Cidadania, Exclusão e Processos de Mudança (Nucem – UFPE)

Antipolítica e justiça social

A decepção com as instituições jurídicas, politicas e econômicas vigentes deixa de ser mera expressão de mal-estar para se tornar ressentimento, ou seja, um sentimento requentado pela decepção e, sobretudo, pelo medo
Tipo Opinião
Paulo Henrique Martins, professor da UFPE e ex-presidente da Associação Latino-Americana de Sociologia (Alas) (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Paulo Henrique Martins, professor da UFPE e ex-presidente da Associação Latino-Americana de Sociologia (Alas)

A apropriação da bandeira da antipolítica pela extrema direita populista, no Brasil e em outros países, gerou reações defensivas compreensíveis nos setores mais à esquerda. Estes viram na negação da política uma retórica oportunista voltada para fazer conchavos antidemocráticos.A preocupação é procedente. Mas a reação dos setores democráticos tem que considerar todos os aspectos da questão. Tem que considerar, por exemplo, que a demanda popular por justiça social, que ganha corpo com a rejeição da corrupção, é uma reação política contra um sistema de poder concentrado e incapaz de distribuir garantias de vida. Ou seja, a crítica ideológica e partidária é insuficiente para explicar o sentimento difuso de frustração, principalmente dos mais pobres, que se sentem desamparados e abandonados.

A decepção com as instituições jurídicas, politicas e econômicas vigentes deixa de ser mera expressão de mal-estar para se tornar ressentimento, ou seja, um sentimento requentado pela decepção e, sobretudo, pelo medo. A extrema direita estimulada pelo pragmatismo do mercado busca se apropriar de modo oportunista do mal-estar coletivo para promover a antidemocracia. Em paralelo, as dificuldades que têm as esquerdas de entenderem a dinâmica afetiva do comportamento político e eleitoral das massas contribuem para enfraquecer a institucionalidade. A questão da justiça social fica embaralhada, pois as esquerdas não sabem como lidar com o fenômeno da politização das práticas religiosas.

O apoio popular das massas a esta extrema direita se mantém, enquanto as esquerdas não souberem decifrar a demanda de justiça escondida no sentimento anticorrupção. A mídia certamente contribui para complicar este jogo de manipulações ideológicas e interesseiras. O fato é que a demanda de justiça social significa anseio por outra política geradora de trabalho, de bem estar e de segurança, antes mesmo de demandas identitárias. Se a base de apoio do governo Lula não entender o valor político do desejo difuso de justiça social, pode ser que a extrema direita ameace as eleições de 2026.

 

Foto do Paulo Henrique Martins

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?