Doutor em Sociologia pela Universidade de Paris I. Professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenador do Núcleo de Cidadania, Exclusão e Processos de Mudança (Nucem – UFPE)
Doutor em Sociologia pela Universidade de Paris I. Professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenador do Núcleo de Cidadania, Exclusão e Processos de Mudança (Nucem – UFPE)
A apropriação da bandeira da antipolítica pela extrema direita populista, no Brasil e em outros países, gerou reações defensivas compreensíveis nos setores mais à esquerda. Estes viram na negação da política uma retórica oportunista voltada para fazer conchavos antidemocráticos.A preocupação é procedente. Mas a reação dos setores democráticos tem que considerar todos os aspectos da questão. Tem que considerar, por exemplo, que a demanda popular por justiça social, que ganha corpo com a rejeição da corrupção, é uma reação política contra um sistema de poder concentrado e incapaz de distribuir garantias de vida. Ou seja, a crítica ideológica e partidária é insuficiente para explicar o sentimento difuso de frustração, principalmente dos mais pobres, que se sentem desamparados e abandonados.
A decepção com as instituições jurídicas, politicas e econômicas vigentes deixa de ser mera expressão de mal-estar para se tornar ressentimento, ou seja, um sentimento requentado pela decepção e, sobretudo, pelo medo. A extrema direita estimulada pelo pragmatismo do mercado busca se apropriar de modo oportunista do mal-estar coletivo para promover a antidemocracia. Em paralelo, as dificuldades que têm as esquerdas de entenderem a dinâmica afetiva do comportamento político e eleitoral das massas contribuem para enfraquecer a institucionalidade. A questão da justiça social fica embaralhada, pois as esquerdas não sabem como lidar com o fenômeno da politização das práticas religiosas.
O apoio popular das massas a esta extrema direita se mantém, enquanto as esquerdas não souberem decifrar a demanda de justiça escondida no sentimento anticorrupção. A mídia certamente contribui para complicar este jogo de manipulações ideológicas e interesseiras. O fato é que a demanda de justiça social significa anseio por outra política geradora de trabalho, de bem estar e de segurança, antes mesmo de demandas identitárias. Se a base de apoio do governo Lula não entender o valor político do desejo difuso de justiça social, pode ser que a extrema direita ameace as eleições de 2026.
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