Doutor em Sociologia pela Universidade de Paris I. Professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenador do Núcleo de Cidadania, Exclusão e Processos de Mudança (Nucem – UFPE)
Doutor em Sociologia pela Universidade de Paris I. Professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenador do Núcleo de Cidadania, Exclusão e Processos de Mudança (Nucem – UFPE)
A demissão de Silvio Almeida do Ministério dos Direitos Humanos por causa de denuncias de assédios contra mulheres, inclusive uma ministra, teve o impacto de um tsunami na vida política do país. Afinal, estamos falando de um intelectual respeitado e consagrado como representante icônico do movimento negro. Fica uma ferida aberta, sem dúvidas.
O fato é que a sua demissão atualiza a agenda política das lutas feministas que estavam relativamente amortecidas por demandas mais imediatas voltadas para políticas públicas e garantias dos direitos de cidadania. Esta atualização escancara um problema muito grave que vivemos na atualidade, a metamorfose do machismo como cultura de poder cuja critica exige outros olhares. Se antes o machismo era visto como um fenômeno localizado no território da reprodução da sociedade patriarcal, agora, vemos que ele se atualiza como dispositivo impregnando simbolicamente as subjetividades nos sistemas institucionais, presenciais e virtuais. Ele normaliza a difusão de patologias morais e sexuais na vida social.
O machismo frequenta os imaginários de ricos e de pobres, a casa e a rua. O machismo continua a se reproduzir pelas instituições e por uma cultura de dominação que atravessa o público e o privado e flerta, muitas vezes, com a necropolítica. Ele inspira uma máquina voltada para a violação dos corpos das mulheres e crianças, mas também aquele da natureza ambiental que é vítima da sua arrogância. Ele atualiza sua narrativa entre a violência doméstica e aquela no poder estatal. Ele sabota o direito de livres relacionamentos entre gêneros distintos para impor a ordem fálica.
Lamentavelmente, a internet vem colaborando para reforçar a presença desta cultura machista no imaginário social, estimulando crenças e práticas perversas na busca de perpetuar a dualidade de gênero. Pode ser que a reação das mulheres no caso acima relatado abra novas perspectivas de retomada das lutas feministas em favor de um novo paradigma civilizatório. Esta é a promessa na mensagem da demissão.
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