
Doutor em Sociologia pela Universidade de Paris I. Professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenador do Núcleo de Cidadania, Exclusão e Processos de Mudança (Nucem – UFPE)
Doutor em Sociologia pela Universidade de Paris I. Professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenador do Núcleo de Cidadania, Exclusão e Processos de Mudança (Nucem – UFPE)
Tenho defendido em diversos momentos nesta coluna a importância de se dar visibilidade à mestiçagem como variável política e não apenas como categoria identitária neutra e dependente de outras variáveis para ganhar visibilidade teórica e prática. O reconhecimento da mestiçagem como fenômeno sociológico deveria ser evidente. Quando se se analisa o processo de formação das identidades nacionais na América Latina e no Brasil durante os séculos de colonização observa-se que a hibridização foi inevitável. Isto não é ideologia é um fato. Portugueses, ameríndios, afrodescendentes, mas também italianos, japoneses, alemães entre outro formaram a contraditória sociedade colonial e pós-colonial. Tais processos de mestiçagem marcam o imaginário político brasileiro.
Em diversos países da América Latina onde estive a mestiçagem é vista como variável política importante para a construção de arcos de solidariedades mais amplos e necessários à existência de uma sociedade nacional e democrática. Na própria Bolívia, um país com forte presença indígena na vida politica, a historiadora Silvia Cusicanqui defende a tese da identidade mestiça-ch'ixié como uma condição importante para a formação de pactos políticos efetivos envolvendo indígenas, cocaleiros (produtores da coca) e sindicalistas em favor de um estado plurinacional. A presença de uma cultura chola realçando a estilística barroca constituída no processo colonial é vista como contraponto anticolonial necessário para a emancipação do poder indígena.
Mas aqui no Brasil surgem resistências infundadas. Por isso, considero que dar visibilidade à mestiçagem como variável politica seria um passo importante para honrar as lutas democráticas daqueles grupos de indivíduos que constroem suas identidades pardas nas encruzilhadas de diversas tradições históricas, étnicas e sociais. Ela é importante para possibilitar a formação de pactos políticos mais amplos dos setores democráticos que não têm sido viabilizados até o momento pelos movimentos sociais, sindicais, identitários e comunitários. No lado contrário, a negação do valor ontológico do fenômeno contribui para o deslocamento e captura dos grupos mestiços e precarizados pela extrema-direita.
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